Capítulo 5 – Suspeito…

A quinta sinfonia de Beethoven tocava no toca-discos enquanto Caroline perdia-se em pensamentos, sentada numa poltrona confortável, a casa em completo silêncio. Era estranho estar no lugar de sua gêmea, se sentia culpada, como se estivesse roubando a vida que a outra havia perdido.

“Você queria tanto fugir disso… “ Pensou consigo mesma, sentindo um aperto angustiante no peito, mas dizia a si mesma que era o melhor a fazer.

Observou ao redor, quadros de família adornavam os cômodos luxuosos, mas sem vida. Inicialmente, havia imaginado que a estranheza que sentia com os pais era por não conseguir enganá-los, porém, logo percebeu que, na verdade, eles eram apenas estranhos, sem proximidade ou carinho.

O que só a fazia se perguntar ainda mais sobre ela mesma. 

Havia sido sequestrada?

Provavelmente achavam que estivesse morta, mas era estranho como não havia fotos ou sequer tocavam no assunto.

De repente, um arrepio escorreu por sua coluna quando ouviu uma voz feminina conhecida:

“Você pensa demais.” Disse a voz por suas costas.

Caroline olhou para trás assustada, mas não havia ninguém, estava sozinha.

“Estou ficando louca…” Pensou consigo mesma, balançando a cabeça negativamente, e tentando não pensar mais nisso, tornou a tentar acessar o notebook da irmã, mas obviamente não sabia a senha, assim como o celular. 

“Será que Eduardo sabe?” Se perguntou desanimada.

Remexeu mais um pouco na bolsa e pegou a agenda pessoal, – surpreendentemente, ambas dividiam o hábito de escrever à mão –, as anotações eram tão esgarranchadas que pareciam codificações, mas já havia lido letras piores. Observou o calendário e se perguntou  por que estava marcado o dia 18.

Quando se cansou, decidiu se arrumar para ir ao trabalho. Enquanto caminhava pelo corredor, em direção ao quarto, se deparou com uma cena que a surpreendeu,piscou algumas vezes, e deu alguns passos para trás, cobrindo a boca.

Era um rapaz jovem, não mais do que dezoito anos, agarrado aos beijos com uma das empregadas da mansão, e pelos cabelos ruivos, dava para ver que se tratava do irmão mais novo de Meredith, Javier. 

“Nem sei porque estou surpresa…” Caroline pensou consigo mesma, ainda os observou por alguns segundos e então, seguiu seu caminho, sabendo que aquilo poderia ser útil, mas era melhor manter segredo por hora. 

Entrou no quarto da irmã e enquanto procurava o que vestir, sem querer esbarrou numa caixinha de jóias, derrubando tudo no chão, mas o que realmente lhe chamou a atenção foi uma pequena chave. Testou pelo cômodo, nas fechaduras da porta e janelas, mas não encaixava, foi quando percebeu que deveria pertencer a algum cofre secreto.

Para a sua surpresa, Meredith escolheu um lugar extremamente óbvio: um fundo falso no guarda-roupas, um pequeno solavanco e o esconderijo ficou exposto, abriu o que parecia ser uma gavetinha e se deparou com uma grande quantidade de medicamentos, todos tanja-preta.

“Porque você precisa de tudo isso?” Caroline se questionou preocupada, mas foi tirada de seus devaneios quando ouviu batidas na porta, uma das empregadas avisava que o chofer estava pronto.

Durante todo o caminho para a empresa, só conseguia pensar nisso, Eduardo a acompanhava fielmente, sério e impassível como sempre, mas não conseguia perguntar sobre isso para ele, ficando imersa em seus pensamentos. 

Quando chegaram ao destino, a ruiva entrou no escritório, e observou em volta, notando a mesa coberta por materiais de trabalho, claramente uma típica viciada em trabalho. E foi isso que decidiu fazer, sentou-se na poltrona e passou a ler as pautas das reuniões.

Porém, sua leitura foi interrompida ao ouvir a porta se abrindo, ergueu a cabeça, percebendo que se tratava do primo e em silêncio, esperou pelo que ele tinha a dizer.

– Trabalhando?  Perguntou com um semblante que claramente fingia preocupação. – Não deveria estar afastada?

– Porque ? Caroline indagou, jogando verde.

Mas ele não caiu.

– Não sei, seu casamento está próximo, você anda trabalhando o dobro… – Benjamin respondeu dando de ombros, mas com os olhos fixos na prima.

– Bem, há muito o que fazer… – Caroline resolveu jogar um pouco mais com as palavras, pensando que assim, poderia conseguir fazê-lo soltar algo sem querer.

– Por que insiste tanto nessa fachada? Ele respondeu com outra pergunta, sua expressão se tornando sombria.

A palavra “fachada” acendeu um alerta na cabeça de Caroline, ele de fato estava soltando coisas importantes, lembrou-de da conversa entre Viktor e Mr. Gray, e quase riu, fazia sentido: todos estavam envolvidos na máfia.

– Porque está tão incomodado? Caroline questionou provocando-o, estava começando a ficar irritada também. – Pode achar perda de tempo, mas importa para mim…

Contudo, não esperava que sua pergunta surtiria o que viria a seguir:

Benjamin, num rompante, cortou o espaço entre ambos e a agarrou pelo colarinho do paletó, apontando para o rosto alheio com o indicador, parecia furioso. 

– Não seja burra, Meredith! Ele quase gritou. – Sabe que nada que faça mudará a ordem de sucessão! 

Foi tão inesperado que Caroline não conseguiu reagir, sua respiração travou e suas pernas pareciam pesar uma tonelada. Era uma clara ameaça. 

– Viu? É por isso que você não presta pra esse trabalho… – Benjamin exclamou começando a rir, como se assustá-la fosse sua diversão. – Você sempre será uma menininha assustada de dez anos!

Soltou o colarinho da prima, fazendo questão de deslizar a mão por seu colo, arrumou os botou, fechando-os até o final e então, tornou a encará-la.

– Seja uma boa moça, case e tenha filhos… – Sussurrou no ouvido alheio, ainda a mantendo perto. – Saiba o seu lugar.

E ele teria atormentado-a ainda mais se Eduardo não tivesse entrado no escritório, observou ambos parecendo não gostar do que via, mas não disse sequer uma palavra. 

– Até mais, priminha… – Benjamin comentou com um sorriso vitorioso enquanto arrumava seu próprio paletó, ainda trocou alguns olhares com o outro homem e então, deixou o local.

Assim que se viu somente com Eduardo, Caroline caiu na poltrona sentindo sua respiração ofegante, encarou suas mãos trêmulas e então, depois de longos minutos, ergueu o rosto, seus olhos injetados de ódio.

– Foi ele! Vou matar aquele desgraçado! Falou baixo, mas firme, apertando os dentes.

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