Capítulo 4 – Impacto

Quando Caroline acordou, estava num quarto branco que logo reconheceu como sendo de um hospital. Ergueu o corpo meio atordoada, arfou sentindo dor e então tocou seu tórax vendo que estava todo enfaixado. Foi nesse momento que percebeu a presença de Eduardo, sentado numa cadeira ao lado da cama, com a cabeça pendendo para a frente.

– Eduardo… – Chamou baixinho, ouvindo sua voz soando rouca.

Quando ele ergueu a cabeça, um nó se formou na garganta de Caroline ao perceber os curativos e queimaduras em seu rosto e pescoço, podendo imaginar que não eram as únicas partes do corpo naquele estado. Parecia desolado.

– Cadê a Meredith… ? Questionou baixinho, mesmo que temesse a resposta.

– Ela se foi… – Eduardo respondeu depois de um tempo em silêncio.

– O que? Caroline questionou chocada, não podia acreditar no que ouvia, mas logo seu rosto se contorceu numa expressão de tristeza. – Oh meu Deus…

Antes que pudesse fazer mais perguntas, ela o viu saindo do quarto sem dizer nada, ele nem mesmo tentou consolá-la. Alguns minutos se passaram e quando retornou, estava segurando um envelope de papel pardo, que a entregou  logo em seguida.

– Você perguntou como eram tão parecidas… – Ele comentou repentinamente, e então apontou para o envelope. – A resposta é bem óbvia.

Caroline ainda o encarou por alguns segundos antes de abrir o envelope, hesitante puxou as folhas de dentro e só então percebeu se tratar de um exame de DNA que as relacionava com quase 100% de compatibilidade.

– Somos gêmeas… – Ela constatou, sussurrando para si mesma.

– Você tem duas opções agora… – Eduardo exclamou de repente, interrompendo os pensamentos alheios. – Pode retornar para a sua vida, fazer uma plástica e tentar não ir parar numa vala. Ou pode continuar se passando pela Meredith e me ajudar a pegar o desgraçado que a matou.

Era assustador como havia apenas ódio nos olhos dele naquele momento.

Contudo, não esperou por uma resposta. Depois de dizer isso, a deixou sozinha para que pensasse, pegou seu casaco e saiu do quarto sem dizer mais nada, dirigindo por longos minutos até parar no local onde havia acontecido o atentado. Encarou a cena cheia de fitas policiais, tudo ainda estava sob vigilância. 

Apenas algumas horas haviam se passado desde o incidente, mas todo o fogo já havia sido extinto. Entre um cigarro e outro, Eduardo observava o que havia restado do carro que praticamente se resumia a cinzas, atento aos comentários dos policiais e transeuntes. 

– Que horror, esses adolescentes cada dia mais irresponsáveis… – Uma senhora idosa murmurava para a outra enquanto também olhavam a cena.

– Verdade. Ouvi dizer que ambos morreram com a colisão… – A outra concordou com um olhar consternado.

Não era surpreendente, afinal o carro usado durante a festa não estava registrado no nome das empresas Wolton, e  era fácil inventar uma história com algum poder. Analisou o ambiente com os olhos, percebendo a quantidade de pontos cegos, o lugar era  perfeito para um atentado como aquele.

Que descuido.

Cerrou os punhos quando notou um beco que ficava a alguns poucos metros do local do acidente e foi naquela direção. Era fétido, e algumas bitucas de cigarro e garrafas de cerveja se empilhavam pelos cantos, os responsáveis por aquela festa já haviam ido embora restando somente um sem-teto que dormia enrolado num cobertor imundo.

O chutou, chamando sua atenção.

– O que você viu ontem à noite? Perguntou, vendo um misto de confusão e medo nos olhos alheios.

– Não vi nada, cara… – Murmurou o rapaz, que por baixo de toda a sujeira não devia ter mais do que dezesseis anos.

– Não me faça quebrar seus dentes antes de me responder… – Eduardo rosnou perdendo a paciência, e fechou o punho, mostrando que de fato socaria o garoto.

– E-eu só sei que o carro explodiu, não foi uma batida como disseram, tá legal… – Respondeu o sem-teto entre gaguejos, com medo.

– Viu alguém colocar algo no carro, talvez uma bomba? Eduardo tornou a indagar.

– Eles vão me matar, cara… – O garoto murmurou, olhando ao redor com medo, a expressão clara de alguém que sabia ter visto algo que não deveria. 

– Olha aqui, é de mim que você deveria estar com medo! Eduardo exclamou dando um tapa – quase de leve – na cara do rapaz, mas que arrancou sangue. 

– Foram os caras do B-12, é só o que eu sei, desculpa… não me b**e! Respondeu o garoto, colocando ambas as mãos na frente do rosto.

Eduardo não estava satisfeito com a resposta, mas o soltou. Ergueu-se, soltou uma baforada longa e se perguntou o que aquela gangue teria a ver com o acidente de Meredith, pois não fazia sentido.

– Some daqui! Exclamou muito sério se voltando para o garoto. – E vê se toma um banho.

Saindo dali, subiu em sua moto dirigindo por alguns metros antes de parar próximo ao conhecido esconderijo daquela gangue, enquanto os observava desmontando motocicletas, procurou por um cigarro, mas percebeu que havia acabado com todos.

Eles eram uma gangue de peixes pequenos, exibidos que ostentavam a marca da gangue em seus pescoços, apenas arruaceiros.

Um gosto amargo inundou sua boca assim que as lembranças ruins retornaram, balançou a cabeça negativamente, dizendo a si mesmo que não poderia desviar de seus propósitos e então, tornou a encarar os rapazes, sua vontade era entrar lá e arrancar a informação deles junto a algum sangue, mas se conteve, precisa ser prudente para pegar os peixes grandes.

– De quem partiu a ordem? Se perguntou olhando-os fixamente.

Quando estava prestes a sair dali sentiu seu celular vibrando no bolso, o pegou, reconhecendo o número, e atendeu, ouvindo em silêncio tudo o que a pessoa do outro lado da linha tinha a dizer.

– Você ‘tá’ bem? Perguntou a voz conhecida em tom preocupado. – Faz dias que não nos falamos…

– Não se preocupe comigo, se ocupe apenas dos seus estudos! Eduardo respondeu um tanto grosseiro e cortante. – Tenho que desligar agora.

Pouco antes de encerrar a ligação, ouviu um fungar baixinho, era sempre difícil, mas não conhecia outro modo de fazê-la ter uma vida normal. Algo que ele nunca pôde ter.

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