Narrado por Bruno
Deixei a Melissa no hospital ainda com o gosto do café da manhã na boca e o cheiro dela grudado na minha pele. Ela sorriu pra mim antes de sair do carro, aquele sorriso pequeno, discreto, mas que me desmontava por dentro. O mesmo sorriso que me fazia querer largar tudo, sumir com ela e viver de outra coisa que não fosse fuzil e sangue. Mas não dava. O trono era meu, e no morro, coroa não se herda sem guerra.
Desci a favela pensando em tudo. Os dias tavam ficando pesados. Desde que o Rei sumiu, a presença dele é uma sombra que ainda segura tudo, mas eu sabia que estávamos sendo cercados. Operação em cima de operação, helicóptero zunindo, cão farejador, tropa no beco, viatura na porta da escola. A Rocinha não tinha paz fazia semanas. E eu, no meio disso tudo, tentava viver dois mundos. Um onde eu era o chefe do morro. Outro onde eu era só o homem da Melissa.
Cheguei na boca da Valéria por volta das dez. O Guri táva fazendo a contagem quando um dos vapores correu, suado