Capítulo 3

— Meus pais cancelaram os cartões de crédito. — Informo ao sentar sem classe nenhuma na cadeira de esplanada do bar da universidade.

Sorrio mesmo assim consegui retirar ainda hoje uma boa quantia em espécie, já que às quartas-feiras só tenho três aulas, e duas delas são a partir das 16 horas, arrisquei ir ao banco onde meus pais abriram a conta em meu nome. E consegui levantar mais do que pensei que conseguiria com os diferentes cartões de crédito.

— E agora? — Questiona Jasmine sentada em minha frente, mal cheguei à faculdade foi atrás da minha senhoria resolver um assunto de extrema importância e acabei enviando uma mensagem sabendo que a garota tem aula neste período.

— E agora? — Pergunta temerosa, ao que permaneço em silêncio atentando tudo à minha volta, a vida dos jovens que correm pelos campos atrapalhados outros nem tanto como se tivessem tudo o tempo de vida. — Não sei.

— Tu achas que eram capazes de fazer algo relacionado com a faculdade? — Indaga, coitada ou melhor, louvada por não conhecer os meus pais nestes dois anos em que dei acolhida a ela, não que fosse habitual minha mãe aparecer por aqui.

— Como cancelar? Sim. Por isso preciso resolver sobre o part-time. — Digo arranjando os meus cabelos num rabo-de-cavalo, mesmo que daqui a pouco tenha uma dor de cabeça enorme.

Depois de tudo definido em relação a Jasmine e o apartamento que era pago com o dinheiro que meus pais depositavam na minha conta, ou melhor que colocaram de limite para ser retirando porque na minha conta há muito mais do que algum dia imaginei ser possível.

Sigo para a última aula daquele dia, e não sei nem o motivo de ter entrado no auditório, não consigo entender nem uma palavra do professor, que parece muito motivado nos fazendo entender o motivo de sermos influentes e ativos nas redes sociais quando começarmos a trabalhar para nós ou para a pessoa que trabalharemos.

A aula termina quase às 17 horas, arrasto-me até ao outro lado da faculdade para conseguir ir para o apartamento, ou melhor para a cama, mas meus desejos são frustrados ao encontrar a encarregada do prédio e Jasmine com carinha de medo, como no dia em que a conheci na biblioteca.

— Emma, querida acho que sabes o que se passa, não é? — Questiona a senhora Charles ao me contemplar entrar e pegar duas malas de dentro do armário.

— Meus pais. Cortaram a faculdade, certo? — Questiono já sabendo a verdade, e sem me importar que observe quando retiro as roupas do armário para dobrá-las e as colocar dentro das malas.

— Emma? O que vamos fazer? — Questiona Jasmine chorando ao auxiliar-me a fechar uma das malas. — Preciso de ir fazer as minhas, também.

— Jasmine, o pagamento de um ano e meio do apartamento está efetuado, em teu nome, tua colega foi hoje levar o dinheiro, não te lembras, querida? — Questiona senhora Charles tocando no ombro da jovem negra que a encara como uma assombração estivesse em sua frente.

— Ela está confusa, não tinha contado que meus pais cancelaram meus cartões e a faculdade. — Digo ao que a senhora acredita e sai depois de dizer que sente muito, mas que é a regra. Se não estuda na faculdade não deve permanecer na propriedade da mesma.

— Eu não tenho dinheiro para pagar nem um mês, como para um ano e meio? — Questiona cruzando os braços e me fitando espantada.

— Não te ia deixar desamparada, Jasmine. Ficas, e começas a juntar dinheiro. O senhor Válter, o do bar em que fazia o part-time prometeu que vai falar contigo, como tens menos horas se calhar podes acabar por receber mais dinheiro. — Digo acabando de arrumar as minhas coisas, e procuro o telemóvel para chamar um Uber, contudo tenho a minha mãe a telefonar impedindo-me.

Filha, querida pense. — Fala sem me deixar falar. — Nós podemos dar tudo o que quiser se assinar o contrato nupcial com Teo. — Diz e não acredito que foi para isso que ligou, mas não me surpreendo de dona Glory.

— Inacreditável. Não tem vergonha de ser um fantoche nas mãos de um homem que a trai com qualquer mulher que dá um simples sorriso. Bem, como ia ter se você faz o mesmo até com o senhor da limpeza do jardim. — Digo escutando os gritos do outro lado e Jasmine me olha apavorada com o comento. — Nunca mais me ligue, esqueça que existo.

Sua mal-agradecida. Ainda vais pagar por este atrevimento. — Diz e desligo em sua cara, e abro a mensagem de Teo.

“Emma, desculpa a confusão na segunda-feira e por não ter tido a coragem de falar. Escutei uma conversa onde a tua mãe contava que o senhor James vai anular teus cartões e cancelar a faculdade. Não sei se precisas, não tenho muito em que te ajudar porque também sou controlado, mas aqui fica o endereço de Tayler: 180-24 Grand Central Parkway. Obrigado por não aceitares a loucura dos nossos pais, e acabei tomando uma decisão, mal chegue aos 18 anos vou sair de casa e partir para o mundo não me importo de mais nada a não ser ficar o mais longe possível deles. Obrigado, e boa sorte.” — Leio a mensagem duas vezes para ter certeza que o menino a quem ninava para adormecer se preocupou mais do que a minha própria família.

— Para onde vais, Emma? — Questiona Jasmine me ajudando a descer com as malas até ao carro mesmo com o elevador a garota quis vir até aqui abaixo. — Sinto muito. Obrigada, por sempre lembrares em ajudar.

— De nada querida, e acho que tenho um lugar. Espero que me dê abrigo até conseguir um emprego, já que a faculdade vai ficar para trás por enquanto. — Digo agradecendo ao senhor que coloca as malas na traseira do Audi. —Até um dia, querida Jasmine.

— Isto não é um adeus! — Rebate sorrindo no meio das lágrimas, ela está no mesmo curso do que eu, mas ainda tem mais este ano letivo e o outro pela frente. E para piorar estamos em novembro e começa a nevar, me levando a planear que se Tayler não me quiser ver na frente e já nem se lembre de mim, vou ter que encontrar abrigo em algum lugar.

— Jovem, para onde? — Questiona o senhor quando coloca o carro em movimento saindo da propriedade da Columbia.

—180-24 Grand Central Parkway, por favor. — Peço ao que o mesmo me olha de esguelha.

—Tem certeza? — Questiona remexendo-se no banco e escrevendo o endereço no GPS.

— Sim. Por favor. — Peço olhando para o visor do telemóvel que marca 22 horas, com a confusão de conversar com Jasmine acabei perdendo o tempo, não queria chegar tão tarde em casa dele, porque sei que sai para lutar.

O caminho inteiro fico observando as ruas, os carros, as pessoas tudo à minha volta, ponderando se é mesmo uma boa ideia ter pedido ao motorista que me trouxesse exatamente para aqui.

Já não vejo Tayler há anos, pelo menos não vê a mim, pois ainda em janeiro deste ano foi vê-lo competindo pelo cinturão, no local onde luta. Mas claro que nem notou minha presença, estava com uma mulher nos braços e pareciam muito íntimos.

Observo uma das casas, construída em madeira, pelo menos algumas partes, a sua varanda no piso superior também, já que o motorista parou na rua ao lado, não de frente para a casa. Ela é decorada com um tom de amarelo terra que faz contraste com a madeira escura, tem duas vigas de pedra suportando o piso de cima, e a varanda do que deve ser um escritório ou um quarto lindo, com a janela enorme para a mesma.

A parte de baixo também é completamente repleta de janelas grandes e de diferentes tamanhos, todas com os rodapés em madeira, a casa ou mansão só perde para o jardim que está um caos tudo desorganizado e com árvores e tudo o que se pode encontrar em como se fosse um local abandonado.

E quando faço semelhante ao condutor saindo do veículo noto que não é o que imaginei que fosse encontrar, o que me deixa confusa. As outras casas mais abaixo são todas do mesmo aspeto, enorme e como se ostentassem dinheiro e poder. Todas são protegidas por cercas e portões elétricos e esta que estamos em frente parece uma das três maiores.

— Chegamos menina. — O motorista tira-me dos pensamentos parando em frente a uma casa, tão grande quanto a dos meus pais, mas que por fora dá para perceber que é um local aconchegante interiormente.

— Tem certeza de que estamos no endereço certo? — Questiono com medo de estar a ser enganada.

— Sim, menina, esta é casa do endereço. — Fala apontando para a casa amarela a mesma que há segundos estava admirando.

— Obrigada. — Digo entregando o dinheiro, já que ainda não foi a um banco, um diferente dos meus pais para colocar o dinheiro todo que consegui remover das contas.

— Boa noite, em que posso ajudar? — Uma jovem que deve ter uns 18 anos acabados de fazer, com uma t-shirt preta com um logótipo de uma luva de boxe e a letra t maiúsculo se apresenta na porta.

— Tayler, está? —Questiono tirando as mãos das malas, e as remexendo nervosamente, acreditando que não estou na casa certa ou que a jovem é a sua namorada, e só esse pensamento faz-me desejar virar e desaparecer da entrada da casa.

—E quem és tu? — Indaga cruzando os braços e me olhando friamente. E de uma coisa tenho certeza, não gostou de mim, bom porque também não dei com a cara dela.

— Uma velha amiga. — Digo sem querer dizer o meu nome, não quando a pessoa parece quer atirar-me das escadas abaixo.

— Não... — Mas é interrompida e empurrada para o lado para que o homem gigante a quem dá última vez vi há uns seis meses atrás aproximar-se para agarrar-me pela cintura e rodopiar comigo em seus braços.

— Emma. — Diz depois de pousar delicadamente os meus pés no chão, mas não me deixa falar porque me abraça e quando olho para a entrada da porta, só encontro um homem com uma tatuagem de um dragão no pescoço e não aquela jovem intrometida.

— Tony, preciso de respirar. — Peço ao que ri e toca nos meus cabelos ao se afastar de mim.

— Vamos entrar. Não vamos ficar neste frio. — Diz pegando em minha mão e o homem que está de t-shirt não aparenta importar-se ao sair para a entrada assim e auxiliar-nos com a outra mala.

— Tayler? — Questiono quando largo o casaco, mas coloco a mochila perto de mim.

Além do homem do dragão, que se chama Wagner, da garota que não gostou de mim, Tatiane, mais um homem enorme desce as escadas passando para a cozinha para pegar algo, que é mencionado como Fred. E tem mais dois homens que tentam a todo o custo ignorar a jovem Tatiane, e até mesmo o homem enorme que começa a subir as escadas a impede de fazer igual.

— Ele está mal. — Diz e pouso o chá que a senhora muito carinhosa, Lizz entregou quando entrei e Tony me puxou com ele para uma mesa alta com vários bancos nela. — Não dês confiança a Tatiane. — Avisa como fazia quando eramos pequeninos.

— Quem é essa, Tony? — Questiona com a voz grave e que a torna um pouco irritante de escutar.

— Ninguém que te interesse. Está na hora de ires embora. — Fala meu amigo de infância, ele é primo afastado de Tayler e Teo, mas assim como o filho mais velho dos Watson este também foi posto de parte como se não existisse mais.

— Não posso deixar, Tayler sozinho. — Diz e meu olhar cai em Tony. Mas é meu coração que quebra ao entender que eles parecem ter um caso.

— Não me faças rir garota. Continua com o teu trabalho e não arranjes problemas. — Avisa Tony usando um tom de voz que nunca o tinha ouvido proferir, a garota não diz mais nada, mas não vai embora fica encostada ao sofá nos fitando.

— Eles… — Não acabo porque o tal de Fred desce novamente.

— Não. Ele não tem nada com ela. — Assegura, mas não acredito fielmente em suas palavras. — Como ele está? — Questiona virando-se para o homem que ao meu lado fico um pingo de gente.

— Mal. A febre começou a baixar, mas não consegue arranjar uma posição para deitar. — Diz e me encara como se me conhecesse de algum lugar. — Olá, sou Fred. Quem tu és, linda? — Pergunta e elogia ao mesmo tempo.

— Emma. — Respondo e aceito o seu cumprimento.

— Deixas Tayler descobrir que estás cantando para cima dela. — Comenta Tony ao que o homem de cabelos curtos, mas cheio de tatuagens como os homens que encontrei aqui dentro de casa, exceto eu e a tal de Tatiane que aparente não tem tatuagens, ou assim como as minhas estão cobertas pela roupa ergue uma sobrancelha e me observa.

— Espera... é por causa dela? — Questiona ao que cruzo os braços não entendendo nada da conversa, mas Tony parece que sim porque abana a cabeça fazendo sinal positivo. —Caralho! — Diz com um sorriso e traz a atenção da outra mulher para nós. — Nós já nos conhecemos? — Questiona pousando uma mão tatuada em cima da bancada de mármore branca.

— Não, não que me lembre. — Digo porque nunca o vi na minha frente.

— Tu já estiveste na Hakakã? Tu sabes o que é, não é? — Questiona com um sorriso curioso no rosto.

— Cara, ela não sabe o que é, né idiota. — Contesta Tony tocando em meus cabelos.

— Tu já estiveste lá. — Afirma Fred com um olhar de quem sabe a verdade.

— Puta merda! Ele vai enfartar. — Fala Tony levantando como se levasse um choque. — Diz-me que teu silêncio não é porque ele tem razão. — Pede ou melhor implora para que negue, mas dou de ombros.

— Quantas vezes? — Questiona Fred gargalhando do desespero do nosso amigo em comum.

— Umas dez… vinte, sei lá, desde que foi para a faculdade. — Digo dando de ombros, mas abaixando o olhar para a chã ainda quente.

— Puta merda! — Respondem os dois ao mesmo tempo, mas pedem desculpas ao ver a senhora Lizz entrar com uma bandeja com várias coisas em cima dela.

— Está aqui, menino Fred. — Fala a mulher mais velha com um sorriso e avisa a Tony que vai descansar quando o mesmo se achega para deixar um beijo em sua testa e por estranho que pareça, Fred faz semelhante, mas alguém naquela sala que não gostou do carinho explícito pela senhorinha, Tatiane faz cara de nojo ao reparar no carinho que os dois homens enormes têm para com a senhora que deve ter pelo menos 50 anos.

— Queres vê-lo? — Questiona Fred passando o tabuleiro para as minhas mãos e segurando numa das malas, sem me dar explicações começa a carregá-la pelas escadas.

— Vem, vamos colocar tuas malas num dos quartos. — Pede Tony com a outra mala preta nas mãos. — Podes ficar neste aqui, até Tayler acordarem e vocês conversarem. — Diz deixando a mala e tirando a bandeja das minhas mãos.

— Tem um cofre? — Questiono ao que os dois me observam. — Ah, qual é? Não tenho banco e o dinheiro que tenho está nesta mochila, não vai ser muito confortável andar com ela de um lado para o outro.

— Tu és louca? — Indaga Fred se aproximando de mim fazendo-me retroceder.

— Não! Sei que não é o certo, mas o que querias que fizesse? — Indago e Tony coloca a mão em seu ombro e o amigo recua.

— Devais ter telefonado para nós. — Diz Tony ao que sorrio tristemente.

— Claro, porque vocês fizeram de tudo para manter contato com a garotinha aqui. — Comento rindo sarcasticamente e ele acena como se entendesse. — Não tenho o vosso número, e Teo só me deu o endereço da casa do irmão. — Falo e os dois olham um para o outro.

— Tu não sabias que o Tayler morava aqui? — Questiona meu amigo de infância, mas que sempre foi mais como uma cola com o primo.

— Não. Nem sabia que era mesmo em New York que ele estava. Os pais dele falam tanto dele que nem dá para decorar nada. — Digo triste porque quando era pequena e ele se foi acreditei por algum tempo que era verdade tudo que nossos pais diziam.

— Ok. Ok, tem um cofre dentro do closet. — Aponta Tony para uma porta. — Quando estiveres preparada e se quiseres, podes ires até ao quarto dele, no final do corredor sobe às escadas. — Fala saindo com Fred atrás.

Depois de observar o quarto, deixo as malas no mesmo lugar, pego na mochila e caminho até ao closet, encontro o cofre aberto, pronto a ser utilizado e assim coloco lá dentro a mochila, o fechando de seguida com uma combinação pessoal.

O quarto é aconchegante em tons de cinza e branco, a cama é grande maior da que tinha no apartamento da faculdade. O closet é pequeno, mas o básico para uma pessoa que esteja de passagem, quando saio para o corredor não sei para que lado é, então vou para a direita, mas ao chegar ao último quarto encontro a porta aberta, e é mais um quarto que parece de hóspedes.

Então, regresso a passar pelas escadas que dão para o piso inferior e passo pelo quarto onde estão as minhas coisas, caminho até ver que os quartos acabam e uma porta entreaberta mostra uma sala com um ecrã enorme e na outra uma casa de banho comum e do outro lado uma escada de madeira idêntica a que subi para o segundo piso, ao que parece a casa é de três pisos e não de dois como parece de fora.

— Posso entrar? — Questiono baixinho batendo suavemente na porta.

— Claro. — Diz Fred se aproximando e a abrindo por absoluto, me dando visão para o homem deitado.

— Meu deus! — Sussurro sem nem perceber que uma lágrima me desce pelo rosto.

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