Ammy é uma garota com uma vida incomum. Ela acorda sempre em um corpo diferente, sem saber quem será a próxima pessoa em que vai habitar. Em cada nova vida, ela tem um propósito — resolver um problema relacionado ao amor. Bem, digamos que sua vida era assim, em 1860, antes de sua aldeia ser vítima de um incêndio por guerra e não sobrar mais nada. Por anos a seguir, Ammy viveu em um pequena cidade na Australia, Cough, desde que fugiu com alguns sobreviventes. O dom que antes fazia parte de si, perdera o sentido, e apenas o fazia útil em momentos de sobrevivência, até então. Ao acordar uma manhã no corpo de Nira, uma garota francesa que mora em Paris, com uma vida comum, e um ótimo relacionamento com um garoto chamado Miles, Ammy se questiona como e porquê de estar lá. Mas à medida que Ammy passa mais tempo na pele de Nira, ela percebe que há mais do que aparenta. Apesar de Miles ser perfeito em todos os sentidos, há algo que não está certo. Dentre descobertas, os probemas do passado de Ammy estão de volta a tona, tudo está em jogo, seu antigo amor, que ela pensou ter pedido para sempre, está de volta, trazendo com ele muitos outros segredos e desafios, mas Ammy está decidia a não fugir desta vez. Ela quer ficar, quer lutar, usar o que resta de suas forças, e talvez os fragalhos de seu coração para ajudar a restaurar o pouco que ainda resta. Em meio a descobertas surpreendentes, Ammy embarcará em uma jornada épica, onde o amor e a redenção se entrelaçam em uma luta pela restauração do que foi perdido.
Leer másAcordei em uma cama desconhecida, em um quarto decorado com livros de moda e vestidos pendurados em araras. Me levantei devagar, tentando não fazer barulho, ainda não sabia onde exatamente me encontrava. Caminhei até a janela e abri as cortinas brancas, revelando uma vista incrível da Torre Eiffel. Ainda meio sonolenta, esfreguei os olhos para ter certeza de que não estava sonhando.
Ao meu lado esquerdo, deparei com meu reflexo no longo espelho que corria pela parede lateral do quarto. A pele morena, os cabelos longos e cacheados, os olhos pretos e as sardas no rosto. Eu não era eu mesma. Eu era Nira.
Comecei a me sentir tonta e confusa. O que estava acontecendo? Como eu fui parar no corpo de outra pessoa tão rápido? Isso nunca acontecia sem que eu escolhesse entrar, e eu mal havia saído do último corpo, não tive tempo de me recuperar. Sentei-me na cama com lençóis rosas, tentando me lembrar de como isso tinha acontecido. Lembrei-me vagamente de um flash de luz branca e, em seguida... eu estava aqui, em Paris, no corpo de Nira.
Eu sabia que precisava agir como se fosse Nira, para não levantar suspeitas. As memórias dela começaram a surgir em minha mente, ajudando a me orientar sobre quem ela era e quem eu deveria ser. Lembrei-me de que ela estava cursando moda e que tinha um namorado, chamado Miles. Morava em um loft sozinha, em uma cidade diferente dos pais, no qual os dois tinham um ateliê dos grandes. Nira trabalhava lá no seu tempo livre, como um Hobby.
Levantei-me e fui para o guarda-roupa, procurando algo para vestir. Encontrei um vestido florido e uma jaqueta de couro, ambos pareciam ser os preferidos de Nira. Me vesti e saí do quarto, explorando o apartamento.
Entro na sala de estar e fico imediatamente impressionada com a decoração. Uma TV plana ocupa a maior parede da sala, rodeada por um sofá rosa e almofadas combinando. Há também uma poltrona fofa do lado oposto da TV, um conjunto da decoração. A sala é bem iluminada com luz natural, graças às enormes janelas que se estendem até o teto e oferecem uma vista espetacular da Torre Eiffel, a mesma vista do quarto.
Decido dar uma olhada mais de perto e caminho até a sacada. As portas de vidro se abrem facilmente e me sinto atraída pela vista de Paris. A torre domina o horizonte, imponente e majestosa, iluminada pelo sol da manhã. O vento sopra suavemente em meu rosto, trazendo um cheiro delicioso de croissants frescos e café. Suspiro, me sentindo grata por essa oportunidade única de ver o mundo através dos olhos de outra pessoa. Se eu ainda fosse Ammy, estaria na Autrália, bem longe daqui, e ocupada demais para viver minha própria vida.
Olhando da sacada, consegui ver várias fotos de Nira e Miles juntos espalhadas pela mesa de canto. Eles pareciam felizes. Completamente felizes. Penso o que poderia haver de errado com eles. Mas como sempre, há algo a ser consertado. Algo relacionado ao amor, ou eu não estaria aqui.
Respiro fundo, tentando me acostumar com a ideia de estar em um lugar tão bonito, e me preparo para começar a viver a vida de Nira. Pela primeira vez, não sei o que está por vir, o que devo concertar ou me preocupar.
Pego o celular da garota de dezenove anos e começo a analisar sua agenda e horários de aula. Ela tem um curso de design de moda às 10h da manhã e, felizmente, já está vestida com uma roupa adequada para a aula.
Enquanto me preparo para sair do quarto, noto uma mensagem de Miles. Ele quer me encontrar em vinte minutos, no café. Respiro fundo e tento não deixar a ansiedade tomar conta de mim. Eu não sou a Nira, mas preciso agir como se fosse.
Saio do prédio e vou em direção ao nosso encontro..
Ao chegar no café, eu o vi sentado em uma mesa no canto, com um sorriso no rosto. Ele era ainda mais bonito do que eu lembrava nas memórias de Nira. Seus cabelos castanhos estavam arrumados de maneira elegante, seus olhos verdes esmeralda brilhavam com vida, e seu corpo magro e alto estava vestido com roupas que exalavam confiança e sofisticação.
Enquanto me aproximava, senti uma leve palpitação no peito. Eu tinha passado por isso tantas vezes, mas desta vez era diferente. Eu estava sentindo a atração que Nira sentia por Miles. Era estranho como meus próprios sentimentos podiam se misturar com os da pessoa cujo corpo eu estava ocupando. Eu sabia que era parte da minha missão, mas ainda assim era difícil controlar.
— Miles — digo com a voz um pouco trêmula. — Oi.
Ele se levantou e me cumprimentou com um beijo na bochecha.
— Nira, que bom te ver — disse ele. — Você está linda como sempre.
Sorri, tentando esconder o nervosismo que sentia.
Ele pareceu ficar sério de repente, e um choque tomou conta do meu corpo.
Eu agi de maneira errada? Era estranho pensar que fosse a primeira vez que parecia que ainda continuava em meu corpo, como Ammy, não ela.
Eu me sentei na cadeira em frente a Miles, tentando manter a postura elegante e confiante de Nira. Ele sorriu para mim e fez o pedido das bebidas para a garçonete. Enquanto esperávamos, ele me analisou com um olhar perspicaz.
Estamos no Les Deux Magots, um dos cafés mais icônicos de Paris. O ambiente é elegante e sofisticado, com uma decoração clássica e refinada. As mesas são de madeira escura e as cadeiras são estofadas em veludo vermelho, dando um toque luxuoso ao ambiente. As paredes são decoradas com espelhos e obras de arte. Consigo ter uma boa vista da rua de onde nós estamos.
— Você está diferente hoje — ele disse, inclinando a cabeça de lado. — Alguma coisa aconteceu?
Eu senti uma onda de pânico se espalhar pelo meu corpo, mais uma vez.
—Não, nada aconteceu — respondi rapidamente, tentando parecer casual. — Por quê?
Miles encolheu os ombros.
— Você parece... distraída, talvez. Eu só queria ter certeza de que você está bem.
Eu assenti, agradecida por ele não pressionar o assunto. Enquanto esperávamos pelas bebidas, nós conversamos sobre coisas banais - a aula de moda que Nira estava frequentando, o tempo em Paris, o último filme que ele assistiu.
Meu coração batia acelerado, quase saltando do peito, enquanto eu tentava manter a calma diante de Miles. Ele não podia saber que eu não era Nira. Eu não sabia como agir, como falar, como me comportar. Tudo em mim era Ammy, mas agora eu estava presa no corpo de outra pessoa, com sua vida, suas memórias, seus sentimentos.
Eu tentava seguir o ritmo da conversa, respondendo às perguntas de Miles com um sorriso educado e um olhar atento. Tudo em mim gritava para que eu fugisse dali, como se algo estivesse muito fora dos eixos, além do que deveria. Mas eu sabia que não podia fazer isso. Não agora. Pela primeira vez, eu apenas me sentia como a hospedeira, e não conseguia ver o que estava de errado e Miles, ou em Nira. Eles pareciam completamente perfeitos, juntos.
Enquanto ele se levantava para buscar nossas bebidas, eu aproveitei para respirar fundo e tentar me acalmar. Eu olhava ao redor do café, tentando me distrair com a beleza de Paris lá fora. Mas tudo o que eu conseguia ver eram os olhos verdes de Miles, me analisando, talvez me questionando.
Eu me perguntava como seria minha vida dali em diante, o que teria que fazer para manter as aparências, o que teria que esconder. Eu sentia um nó na garganta só de pensar em tudo o que ainda estava por vir.
Mas agora não era hora de pensar em problemas futuros. Agora era hora de ser Nira. E eu precisava ser perfeita. Eu não sabia quanto tempo ficaria presa aqui, e muito menos o que eu precisaria resolver, mas eu tinha de me adaptar rapidamente se quisesse evitar problemas. Para nós duas.
Nira e eu passamos os dois dias seguintes treinando juntas. Era um pouco mais difícil treinar com alguém que nunca entendeu sobre quem é, do que treinar uma criancinha que já nascera preparada para esse tipo de coisa.Entendo também que era um pouco mais complicado por Nira ter a habilidade de roubar poderes, certamente. Involuntariamente ela fazia esse tipo de coisa comigo, quando nós sentávamos para conversar sobre seu dom, como controlar, principalmente em momentos de êxtase ou raiva, Nira invadia um pouco minha mente. Sempre se desculpava, mas era uma coisa que estávamos trabalhando junto com as outras para que ela não o fizesse mais. E com isso, fizemos uma lista de dias e quem ficaria com ela, onde revezaríamos dons e a ensinaríamos o poder de cada runa e como controla-las.Claro que Hayden cuidou do fato de uma filha não aparecer nos fins de semana, no trabalho e até mesmo para as aulas. Os pais de Nira tinham uma grande confiança em Miles, sendo assim, foi fácil de os convence
Não consegui descansar mais do que algumas horas, talvez duas no máximo, depois e tomar um banho quente, trocar de roupas. Deitei na cama, que não era somente convidativa a olho nu, mas ao se deitar parecia que estava sendo abraçada por ela. Mas eu estava inquieta, não consegui fechar os olhos e os manterem assim.Havia um espelho que ficava pendurado na porta do quarto. Então, antes de sair para fora, dei uma checada em como eu estava. Calça legging preta, uma camiseta azul e all star nos pés.Em frente aos chalés, haviam alguns banquinhos feitos de madeira branca. Aura foi a primeira pessoa que vi, sentada em um dos bancos que ficava em frente ao nosso quarto. Ela estava lendo um livro, e abriu um sorriso largo ao me ver, se virando para trás.— Bem que Hayden disse que você é teimosa e não iria dormir — disse, e antes mesmo que eu protestasse, ela acrescentou: — Que bom que somos iguais nisso também.Sorri, sendo amigável e um pouco aliviada.— Vem, vou te mostrar o refeitório, dev
Os olhos verdes de Nira me olhavam como se ainda não pudessem acreditar em nenhuma das palavras na quais foram ditas por mim a ela. Também queria poder lhe dizer que era somente uma piada. Se nada disso era fácil nem mesmo para nós que crescemos lutando a cada dia para se preparar para algo como isso, nem posso imaginar como deve ser o choque para quem nunca nem mesmo soube sobre quem se é de verdade.Nira me permitiu mostrar-lhe mais com o controle de mentes. Ela me deixou entrar, mostrar o que seria mais fácil de entender com os “olhos”, do que apenas com palavras. Também achei mais que justo mostrar e devolver toda lembrança que tive enquanto estava em seu corpo, a hospedando.Não sei quanto tempo durou tudo isso. Infelizmente, nunca seria o suficiente. Eu jamais poderia ser ignorante e fingir que sim. Além de tudo, não era só ela quem estava em jogo, era Miles também. Eles corriam um risco, e ela era a única que poderia fazer algo por um dos dois naquele momento. Se ela me dissess
— Então, vocês já se conhecem...? — Nira perguntou, intercalando seu olhar entre Hayden e eu, se referindo a Miles.— Ah, sim — Hayden respondeu. — Na verdade, conheço, os dois estão de viagem e vieram passar uns dias em casa.— Achei que fosse aluna e só tivesse mudado de período — Camille acrescentou, um tanto suspeita quanto Nira aparentava estar.Realmente, tínhamos coisas que estávamos escondendo delas, mas a última coisa que eu queria que pensassem, era que eu estava tentando dar encima do ex-namorado da garota que na verdade estou tentando proteger também.— Tirei um ano sabático, sabe, fui viajar e quando voltei, resolvi mudar de período, por isso que estou meio perdida nas aulas, sabem?! — cruzei os dedos mentalmente para que elas tivessem acreditado. Que merda Hayden.Nira simplesmente deu de ombros, e deslizou uma mão suavemente pelo braço de Hayden, chamando sua atenção.No fundo pensei que talvez nem me importasse tanto com ela naquele momento, só queria que ela soubesse
Eu estava parada em frente ao espelho, no quarto de Hayden, observando meu reflexo com um misto de nervosismo e ansiedade. Optei por usar um vestido azul de alças finas e de longo comprimento, que realçava minha silhueta delicadamente. O tom azul vibrante combinava com meus olhos, destacando-os ainda mais. Meus cabelos ondulados caíam suavemente sobre meus ombros, emoldurando meu rosto. Preferi deixá-los soltos, já que odiava penteados que destacavam meu rosto, era sempre uma mechinha solta aqui ou ali.Enquanto me observava no espelho, senti um calafrio percorrer minha espinha. A incerteza sobre o paradeiro de Hayden e o que poderia ter acontecido com ele me deixava inquieta. Meu coração batia acelerado, ansioso por respostas que ainda não tinha. Pela primeira vez, eu desejei muito que hoje, quando encontrasse Miles, não fosse Miles.— Está tudo bem se sentir assim, com medo — Ash estava encostado no batente da porta, usava um terno preto que combinava muito com ele, realçava seus ol
Acontece que naquela noite, Hayden não voltou para casa.Ash e eu ficamos o esperando, por horas. Meu amigo se dispôs a sair e procurar por Hayden, mas afinal, isso seria completamente inútil, eu sabia que ele não havia sumido porque ficou em um bar bebendo ou tenha sofrido algum acidente mundano por algum lugar nas ruas de Paris, ele não voltou por algo que certamente estava ligado ao que queriam conosco.A noite em que passei acordada, foi como um tormento, não consegui pregar meus olhos, nem mesmo se quer por alguns dez minutos. E enquanto fiquei horas, andando de um lado para o outro, Ash ficou me encarando, mas a única coisa que poderia fazer com que eu deixasse de ficar inquieta, seria se ele entrasse na minha mente. E por mais que ele tivesse insistido em tentar me acalmar com seu dom — que não funcionava exatamente em mim, mas ajudava muito, pelo menos no controle de emoções —, eu não deixei. Achei injusto me acalmar com a situação de Hayden, mas ele fez mesmo assim. E me prom
Último capítulo