Sérgio mergulhou no trabalho com a obstinação de quem precisa manter as mãos ocupadas para não pensar. Chegava ao escritório antes de todos, saía depois que as luzes já estavam apagadas. No início, colegas tentaram puxar conversa, chamá-lo para almoçar ou tomar um café. Depois de tantas recusas, pararam de insistir.
Ele não falava de Abigail. Não porque tivesse deixado de pensar nela — mas porque falar tornaria tudo mais real. Às vezes, no meio de uma reunião, um gesto, uma risada ou um perfume bastava para rasgar a ferida aberta dentro dele.
Em casa, o vazio era pior. O travesseiro ao lado do seu, a toalha esquecida na prateleira, a gaveta com pequenos objetos dela. Sérgio não tinha coragem de tocar em nada. Era como se o apartamento inteiro prendesse a respiração, esperando que ela voltasse.
Ele sabia que não voltaria. Mas não conseguia parar de esperar.
Sérgio não conseguia dormir. O apartamento estava em silêncio, e ele encarava o teto, as mãos cruzadas no peito. Pensava em tudo o