Abigail não sabia dizer quanto tempo ficou em silêncio, olhando pela janela do avião. As nuvens corriam sob ela como campos de algodão, alheias à vertigem que se agitava dentro do seu peito. Cada minuto que passava a levava para mais longe — de casa, da vida que conhecia. De Sérgio.
Principalmente de Sérgio.
Ela tinha evitado olhar para trás, mesmo quando o carro arrancou da calçada e a cidade começou a sumir pelo retrovisor. Sabia que, se olhasse, não teria forças para ir. E não podia — não desta vez.
Havia escolhido desaparecer, e agora precisava sustentar essa escolha. Mas não conseguia parar de pensar em como ele ficaria quando percebesse que ela não estava mais lá. No quanto ele a procuraria, chamaria, tentaria entender. A ideia fazia os olhos dela arderem, como se a própria culpa tivesse gosto salgado por trás da garganta.
Marcos percebeu. Ele estava ao lado, com a expressão impassível, o olhar preso em algum ponto distante, como se fosse de pedra. Mas sua mão repousava sobre a