Era madrugada quando a porta do quarto se abriu devagar, deixando passar apenas um feixe tênue de luz do corredor. Regina entrou em silêncio, como vinha fazendo nas últimas noites, os passos contidos para não chamar a atenção de ninguém. Havia adquirido quase uma rotina secreta: esperar que tudo estivesse calmo, que os corredores mergulhassem no silêncio, para então buscar aquele momento só dela com a filha.
Abigail já a esperava sentada na cama, ela sabia que a mãe apareceria.
— Mãe... — começou Abigail, hesitante — eu... eu lembro de algumas coisas eu acho... coisas da infância. Palavras que a senhora dizia, momentos que não eram bons... por que a senhora me tratava assim às vezes?
Regina respirou fundo, como se pesarosa.
— Ah, minha filha... — disse, inclinando-se levemente. — Essas lembranças... são apenas fragmentos. Momentos isolados. Não me julgue por eles.
Antes que Abigail pudesse insistir, Regina desviou o assunto com precisão cirúrgica:
— E eles falaram sobre o acidente?
Ab