Os dias seguintes pareceram se dissolver num tempo estranho, quase irreal. Havia algo suspenso no ar, como se o mundo tivesse sido colocado em pausa, e apenas eles seguissem se movendo — devagar, em silêncio.
Pela manhã, Marcos passava horas trancado no escritório, mergulhado em telefonemas em voz baixa e pilhas de documentos. Às vezes, Abigail o via atravessar o corredor com o celular colado ao ouvido, o semblante fechado, falando em outro idioma. Outras vezes, chegava tarde, trazendo pastas discretas que sumiam na escrivaninha antes que alguém pudesse ver. Era como se vivesse em um fuso horário particular, feito apenas de códigos, datas e carimbos.
Ele não comentava nada com ela, e ela não perguntava. Esse silêncio era um acordo tácito: Marcos cuidaria de tudo, e Abigail fingiria não notar. Enquanto ele resolvia os papéis, ela ensaiava a vida como se não estivesse prestes a deixá-la para trás.
Nos primeiros dias, tentou ocupar a mente com tarefas banais — lavar a louça, arrumar as p