Marlon
Desço a escada sentindo o cheiro da comida vindo da cozinha. Não ouço barulho das duas, mas quando passo pelo quarto de hóspedes, escuto vozes baixas. Estão falando sobre cabelo. Encosto na parede, em silêncio, só ouvindo.
Elas não falam muito, mas Luara parece ter conseguido quebrar o gelo. Interagiu com ela. Eu ainda acho tudo estranho. Papo reto: não sei o que dizer pra essa menina. Até ontem eu não queria ser pai. Agora tenho uma filha de oito anos. E pra piorar, é a cara da minha mãe.
Subo pro meu quarto pra tentar organizar as ideias. Mas não dá. Eu nem sei o que pensar dessa porra. Como é que um pai age conhecendo a filha com oito anos? Ela tá com medo de mim. Me olha com um misto de dúvida e receio que me faz sentir culpado. E eu nem sei por onde começar.
Nunca imaginei que a Telma fosse aparecer com um filho meu. Minha intenção era outra — era apagar ela da minha vida. E agora? Agora ela tá morando aqui no morro. A filha da puta não mudou nada. Continua com a mesma ma