A isca e predador (II)

— Por favor — ela gemeu, e a voz estava carregada de uma necessidade que não era totalmente fingida. Seu corpo arqueou contra o meu, involuntariamente, buscando contato.

A raiva e a desconfiança se misturaram com uma onda súbita e inesperada de desejo. Ela era uma armadilha, uma mentira ambulante, mas a sua resposta física era genuína. A inocência corruptível era um afrodisíaco perverso.

Minha mão desceu de seu rosto para o pescoço, depois para o ombro nu. A pele ali era como veludo. Meus dedos se encurvaram sob a alça fina de seu vestido, puxando-a para baixo lentamente, expondo a curva do seu ombro e a alça do sutiã.

Ela estava respirando rápido, ofegante, os olhos semicerrados. Os lábios estavam entreabertos, úmidos.

— Ele te disse que eu seria um desafio fácil? — murmurei, pressionando minha coxa entre as pernas dela, fazendo-a gemer mais alto, contraindo-se ao redor da minha perna, buscando fricção. A seda do vestido deslizou suavemente. — Que eu cairia nos encantos de uma garota assustada?

— Não… eu… — ela tentou falar, mas as palavras se perderam em outro gemido quando minha boca encontrou seu ombro. Eu não beijei, mordisquei. Apenas o suficiente para sentir o sal da sua pele, para fazê-la estremecer.

Suas mãos subiram pelos meus ombros, os dedos se enterrando no tecido da minha camisa. Ela estava a um passo de se entregar, de esquecer completamente a sua missão. A química entre nós era um laço vivo e elétrico, alimentado pela tensão, pelo perigo e pela atração crua que pulsava sob a superfície da farsa.

Ela se moveu contra minha perna, um movimento instintivo e primal de necessidade. Seu rosto estava enterrado no meu pescoço e eu podia ouvir seus gemidos incontidos, assim como as batidas descompassadas de seu coração.

— Não posso… é errado… por favor…

Eu não sabia se ela estava pedindo para eu parar ou para continuar.

Foi esse quase êxtase, essa rendição quase completa, que tornou a descoberta ainda mais doce. Minha mão, que estava em seu ombro, escorregou para dentro do decote, sobre a curva do seio, fingindo buscar mais. Ela arfou, seu corpo se oferecendo ao meu toque.

Foi então que senti... não a carne macia que eu esperava, mas uma irregularidade minúscula, um pequeno nódulo costurado na parte interna do tecido do sutiã.

Ah! A ilusão se quebrou. A fúria, fria e afiada, substituiu o calor do desejo. Ele não só a enviou, como a equipou. A fez usar isso enquanto tentava me seduzir.

Num movimento rápido e brutal, antes que o prazer confundisse completamente os meus sentidos, agarrei a alça do vestido e a do sutiã e puxei para baixo, rasgando o tecido com um som seco e violento. Ela gritou, com vergonha, tentando se cobrir com as mãos.

Mas não era seu peito que eu queria ver.

Lá estava: um microfone minúsculo, do tamanho de uma moeda, preso com fita cor de pele.

O horror no rosto dela foi instantâneo e absoluto. Todas as cores sumiram. Todas as feições de prazer foram substituídas pelo pânico puro. Estava paralisada, segurando os restos do vestido contra o corpo, as mãos tremendo violentamente.

Eu arranquei o dispositivo, esmagando-o sob a sola do meu sapato com um estalo de vitória.

O som pareceu despertá-la de um transe. Ela tentou fugir, mas a encurralei contra a pia, minhas mãos agarrando seus pulsos, impedindo qualquer movimento.

— Quem? — perguntei, minha voz agora tão firme e fria que ecoou nas paredes de mármore. Inclinei-me tão perto que nossos narizes quase se tocaram. O perfume dela, o mesmo jasmim simples, agora cheirava a traição. — Quem te colocou aqui?

Ela balançou a cabeça, os lábios trêmulos, as lágrimas finalmente escapando e rolando por seu rosto.

— Não… não posso dizer.

— Você vai dizer — mantive o tom tranquilo, mas cortante, com a memória do gosto de sua pele ainda na minha boca, alimentando minha raiva. — Porque se não disser, eu mesmo vou descobrir. E quando descobrir, vou garantir que a pessoa que te enviou sofra de uma forma que você nem consegue imaginar. E você… vai assistir. — Mentira, é claro. Atualmente eu não tinha tempo para torturas. Mas o desejo que tinha sentido por ela agora se transformava em uma posse cruel. Ela não seria descartada. Seria usada. — Agora, pela última vez: para quem você trabalha?

— Eu... quero assistir ele sofrer – tentou um sorriso confiante, demonstrando, nos lábios trêmulos, o quanto estava apavorada.

O medo nela era tão intenso que eu quase podia saboreá-lo. Ela estava prestes a quebrar.

— Ok – murmurei — Então você sofre... e todos aqueles que ama.

— Caio! — ela gritou, a palavra saindo como um soluço. — Caio Harlow! Por favor, não me machuque!

Harlow! Claro! Instantes antes imaginei que pudesse ser Enzo, embora Caio também estivesse na lista.

Um sorriso cruel e satisfeito se desenhou nos meus lábios. Caio estava tão desesperado que recorrera a isso... uma menina assustada com um microfone barato. E ele quase conseguiu. Quase usou a atração visceral que senti por ela como sua arma.

Mantendo-a imobilizada com uma mão, peguei meu celular do bolso com a outra e disquei um número memorizado.

- Qual seu nome? – perguntei de forma firme, não dando a chance de ela ousar não revelar.

- Caleana...Calderón.

— Asheton falando — disse, assim que a linha atendeu. — Preciso de uma verificação: Caliana Calderón. Conectada a Caio Harlow. Tudo o que você tiver. Agora!

Fiquei em silêncio, ouvindo os sons do teclado do outro lado da linha enquanto mantinha a garota presa contra a pia. Ela chorava silenciosamente, seu corpo tremendo sob mim. A memória de seus gemidos, do arquejar de seu corpo contra o meu, ainda ecoava na sala silenciosa, tornando a cena ainda mais perversa.

E então, a informação veio. Não pelo telefone, mas por uma mensagem de texto criptografada que apareceu na tela.

@anônimo: Caliana Calderón, 21 anos. Filha de Débora Calderón, empregada doméstica de longa data de Caio Harlow. Formada em química no exterior. Retornou a Noriah Norte há aproximadamente um mês. Incidente envolvendo Leonel Harlow, há 3 semanas. Leonel está internado em coma profundo em instalação privada da família. Circulam rumores não confirmados de que Débora foi a responsável. Nenhuma queixa policial foi registrada. Motivo provável para a abordagem: Harlow busca desacreditar você perante o Presidente, usando a alegação de violência sexual para manchar sua reputação e ganhar vantagem no contrato.

Os pedaços se encaixaram perfeitamente. Caio estava usando a garota e a tragédia familiar como arma. Era brilhante. E absolutamente desprezível.

Baixei o telefone e olhei para Caliana. Seus olhos estavam fechados, como se esperando o golpe final.

— Entendo — murmurei, para mim mesmo.

Ela abriu os olhos, confusa com a minha calma.

— Ele… ele tem minha mãe — sussurrou, sua voz rouca das lágrimas e dos gemidos abafados de momentos antes. — Ele disse que se eu não fizesse isso, a entregaria para a polícia. Ela… ela protegeu-me... do Leonel. Ele ia me… — Não conseguiu terminar, mas eu já sabia o resto.

Ela não era uma cúmplice. Era uma refém.

E Caio Harlow tinha cometido seu maior erro. Ele tinha me dado a arma perfeita para destruí-lo e uma lembrança da resposta dela ao meu toque que ficaria queimada na minha memória.

Uma ideia começou a se formar em minha mente, tão cruel quanto perfeita. A imagem de tê-la não mais apenas naquele banheiro, mas em minha casa, em minha cama, todas as noites, tornou-se irresistivelmente fascinante. Seria minha vingança e meu prazer.

— Você está metida em uma grande enrascada, querida — falei, minha voz suave, mas carregada de uma ameaça nova e de posse.

— Eu sei — murmurou. — Por favor… eu só… quero salvar minha mãe.

— Oh, você vai salvá-la — concordei, soltando-a finalmente. Ela esfregou os pulsos onde eu a havia segurado, certamente sentindo dor. — Mas não do jeito que você pensa.

Ela me olhou, perplexa.

— O que quer dizer?

— Caio Harlow acredita que pode me destruir com escândalos falsos. Ele me subestima. E subestima a minha… criatividade para retribuir favores. — Meu sorriso foi lento, predatório. A visão de seu corpo tremendo sob meu toque, quase suplicando por mais, veio à tona. — Você veio aqui para me arruinar. Mas, querida, você acabou de se tornar a minha nova aquisição.

— Aquisição? — ela repetiu, confusa.

— Sim. — Meu telefone vibrou novamente.

@Anônimo: Caio Harlow pode ter tido um caso com a mãe dela, por anos. Levando em conta que Leonel Harlow é adotado, um exame de DNA entre Caliana Calderón e Caio Harlow poderia surpreender.

A ironia era deliciosa.

— Você não vai voltar para Caio — declarei. O desejo que eu sentira agora se transformava em uma afirmação de propriedade. — Você vai ficar comigo.

— O quê? Não! Eu… eu não posso…

— Você não tem escolha — cortei, minha voz deixando claro que a discussão havia terminado. A imagem de despi-la daquele vestido rasgado e de deitá-la na minha cama, de fazer aqueles gemidos hesitantes se transformarem em gritos de prazer real, era um objetivo tão claro quanto a vingança. — Você vai fazer exatamente o que eu disser, quando eu quiser. Ou eu mesmo entrego sua mãe para a polícia, com as provas reais do que aconteceu. E garanto que a sentença será muito, muito longa.

Ela ficou chocada:

— Por quê? Por que faria isso?

— Porque — eu disse, me aproximando novamente, invadindo seu espaço, obrigando-a a me encarar, a reviver a proximidade que tínhamos compartilhado — Caio Harlow tentou me usar e te descartar. Ele a subestimou. E me subestimou. Agora, eu vou usá-la para destruí-lo completamente. E você… — minha mão agarrou seu queixo, forçando-a a me olhar nos olhos, lembrando-a de onde minha boca esteve — você vai ser minha esposa.

Ela tentou se soltar, mas eu a segurei com firmeza. O mesmo fogo que eu senti antes agora estava lá, sob a superfície do medo.

— Sua… sua o quê?

— Minha esposa — repeti, a palavra soando estranha e ao mesmo tempo inevitável. A noite que passaria com ela no altar seria apenas o prelúdio para a noite de núpcias. — A noiva troféu de Zadock Bradford Asheton. A prova viva de que eu não só escapei da armadilha de Caio, mas roubei o que talvez seja a única coisa real que ele já teve. Você será exibida, vestida com as minhas cores, carregando o meu nome.

Caio Harlow teria que assistir, impotente, enquanto a filha que ele talvez nem soubesse que tinha se tornaria a peça central do meu império. E da minha cama.

O horror no rosto dela foi gradualmente substituído por uma aceitação resignada. Ela estava encurralada. Por mim, por Caio. Ela não tinha para onde correr.

E então, algo inesperado aconteceu. A tensão em seu corpo pareceu ceder. A luta a deixou. Parou de tentar se libertar. Seus olhos, cheios de lágrimas, encontraram os meus. E no fundo deles, por trás do medo e da raiva, eu vi algo mais. A centelha de atração que eu havia acendido ainda estava lá, agora misturada com uma rendição fatalista e uma curiosidade sombria.

Minha mão ainda estava em seu queixo. Meu polegar moveu-se quase involuntariamente, acariciando a linha de sua mandíbula, repetindo o carinho que a fizera gemer. Ela estremeceu, mas não recuou. Seus lábios se separaram levemente. Seu peito, ainda parcialmente exposto pelo vestido rasgado, levantou e abaixou com uma respiração mais rápida. Ela estava com medo. Mas também estava… excitada. E agora, intrigada com o futuro que eu lhe reservava.

A pureza daquela resposta, a falta total de artifício, foi inebriante. Ela era virgem. Eu podia apostar minha fortuna nisso. Nenhuma mulher experiente reagiria daquela forma... com medo, sim, mas também com uma curiosidade clara, uma resposta fisiológica honesta ao poder, à dominância e à promessa de posse total.

A isca tinha mordido o predador. E o predador, de repente, se encontrou não apenas intrigado, mas determinado a saborear sua captura repetidamente.

Baixei minha cabeça, até que nossos lábios quase se tocassem, repetindo a pose que precedeu minha quase queda.

— Você é minha agora, Caliana Calderón — sussurrei, meu hálito quente contra sua boca. — Cada parte sua, cada segredo, cada suspiro, cada gemido. Você vai me pagar cada segundo de aborrecimento desta noite. E vai aprender a gostar de cada momento.

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