Narrado por Antonella Bellini
Não fui à praia.
Não porque não quis — mas porque sabia o que poderia acontecer se fosse.
Porque ele estaria lá. Esperando.
E pior do que ser tocada por aquele homem, era o que meu corpo faria se ele me tocasse.
Passei a tarde inteira com o vestido jogado na cama, olhando para ele como se fosse uma ameaça em forma de tecido. Bastava vesti-lo. Bastava andar até o mar. Bastava querer.
Mas eu não queria.
Mentira.
Eu queria tanto que doía.
Ele havia invadido meu espaço com os olhos, com as palavras que não disse, com a promessa velada de algo que minha mãe passaria mal só de imaginar.
Um estrangeiro. Um desconhecido.
E eu ali, mordendo os lábios desde que saí do banheiro do restaurante, tentando lembrar o sabor da minha própria lucidez.
O relógio marcava quase seis da tarde quando ouvi os passos da minha mãe se aproximando.
— “Antonella?” — A voz veio seca, interrogativa.
Corri até a cama, peguei um dos livros de poesia que ainda nem havia aberto e o colo