Aurora acordou antes dos primeiros uivos da madrugada.
Não por insônia, mas porque, enfim, o corpo e a alma estavam alinhados.
A floresta da Lua Negra já não a assustava como antes. Os galhos retorcidos pareciam inclinar-se quando ela passava. Os olhos entre as árvores a seguiam — não com dúvida, mas com algo próximo de temor silencioso.
Naquela manhã, ela não hesitou ao vestir a túnica preta de guerreira. Já não sentia o peso da coroa invisível sobre sua cabeça — ela começava a vesti-la por vontade própria.
No centro da clareira, a Matilha a esperava. Sem um som, como fantasmas de carne. Ninguém dizia seu nome. Mas todos sabiam: a herdeira havia despertado.
Velho Sangue a observava com atenção. O olhar dele já não era de reprovação, mas de análise — como se estudasse a lâmina que ele mesmo forjou.
— O que vê em si, agora? — ele perguntou, pela primeira vez quebrando o silêncio antes do combate.
Aurora respondeu com os olhos firmes:
— Vejo o que sempre fui. Só que agora... eu aceito.