Enquanto estavam ali, entrelaçados sob a luz prateada da lua, o mundo inteiro pareceu se silenciar. Era como se o tempo tivesse prendido a respiração para observar os dois. O toque de Darius, no começo, era hesitante — como quem se aproxima de algo sagrado. Seus dedos traçavam o contorno da pele de Aurora como se memorizassem um mapa desconhecido, temendo profanar o que julgava puro demais.Aurora também tremia. Não de medo, mas de algo novo, avassalador — um misto de nervosismo e encantamento. Nunca havia sido tocada assim. Nunca quisera tanto ser descoberta por alguém.Quando seus olhos se encontraram, não houve palavras — apenas a linguagem muda da confiança. E então os lábios se buscaram, primeiro com doçura, depois com urgência. Um beijo longo, profundo, como se pudessem se fundir um no outro.Darius se afastou apenas o suficiente para sussurrar:— Eu… nunca fiz isso antes.Aurora piscou, surpresa. Aquele alfa que carregava o mundo nos ombros era tão virgem quanto ela?— Eu também
O quarto ainda estava mergulhado em silêncio. Apenas o som ritmado das respirações preenchia o espaço entre os dois. Aurora repousava sobre o peito de Darius, ouvindo as batidas fortes de seu coração, tentando entender por que, mesmo depois de se entregarem tão profundamente, algo dentro dele parecia... quebrado.Ela traçava círculos preguiçosos na pele dele com os dedos, mas sua mente estava a mil. As palavras dele ainda ecoavam:"Você vai me odiar quando souber o que eu escondo."— Darius... — ela chamou, baixinho, como se tivesse medo da resposta.Ele não respondeu de imediato. Seus olhos estavam fixos no teto, como se buscassem forças em algum ponto distante.— Você prometeu me contar. Não agora, eu sei... mas já é depois. — A voz dela não era dura. Era suave, mas firme. Doía. Porque ela sentia que algo grande estava por vir. E ela estava prestes a ter o chão arrancado dos pés.Ele soltou um longo suspiro, passou a mão pelo rosto e sentou na cama, afastando-se levemente dela. Auro
Aurora dormia profundamente, os cabelos espalhados no travesseiro como uma auréola selvagem, o corpo ainda aquecido pelo toque de Darius. Mas a paz durou pouco. A escuridão a envolveu como um véu e, sem aviso, ela foi tragada por um redemoinho de imagens.Estava em uma floresta desconhecida. O céu acima era púrpura, tingido de sangue. A Lua, gigantesca, tremia no alto como se estivesse à beira de desabar. Corvos voavam em círculos, grasnando mensagens que ela não compreendia.— Aurora… — uma voz sussurrou. Não era masculina. Nem feminina. Era como se a própria terra falasse com ela.Ela virou-se e viu... ela mesma. Ou melhor, uma versão distorcida de si, com os olhos completamente negros e a pele marcada por símbolos antigos. A outra Aurora sorriu, e seus dentes eram afiados como presas.— Você está marcada. Escolhida... ou amaldiçoada. Ainda não decidiram.Aurora deu um passo para trás, mas as árvores ao redor começaram a se fechar, galhos retorcidos como mãos tentando agarrá-la.— O
Aurora sentia os olhares sobre ela como punhais invisíveis. Os guerreiros ao redor se calaram, mas o julgamento estava estampado em cada rosto. Ela engoliu em seco, o sonho ainda reverberando em sua mente como um presságio. Mas agora, o que doía mais era ver Darius parado ali, sem dizer uma palavra.Elias rompeu o silêncio, sem tirar os olhos dela:— Ela ouviu tudo.Darius não se moveu. Não piscou. Só respirava fundo, como se tentasse conter algo prestes a explodir.— Então diga, Darius — Elias insistiu, virando-se de volta para o alfa — Quem você escolhe? Sua alcateia... ou ela?A pergunta caiu como uma pedra no centro de um lago congelado. Aurora sentiu o impacto no peito.Darius, enfim, se virou. Seus olhos dourados estavam tomados por um brilho indecifrável — era dor, era raiva, era amor e medo misturados numa única expressão.— Vocês são meu sangue. Minha família. Lutei por cada um aqui. Sangrei, matei, perdi irmãos... — ele disse, a voz firme, mas baixa. — Mas ela é minha alma.
A floresta parecia mais silenciosa do que o normal.Os galhos não rangiam. Os pássaros tinham sumido. E a névoa... densa, quase viva, rastejava como serpente pelos troncos das árvores.Os patrulheiros pararam ao chegar na clareira. Um deles, o mais velho, deixou escapar um palavrão baixo.— Por todas as luas…Ali, no centro da clareira, jazia um corpo. Um guerreiro. Da própria alcateia.Seu peito estava nu, aberto como se algo tivesse queimado os pelos da carne. Mas o pior não era o sangue — era o símbolo. Gravado a ferro na pele. O mesmo símbolo que Aurora tinha nas costas. Antigo. Estranho. Quase... pulsante.Darius chegou logo atrás, os olhos ávidos, farejando o ar.— Tem cheiro de magia — murmurou. — E de morte.Elias o seguiu de perto, parando ao lado do corpo. O silêncio entre eles era pesado.— Isso é um recado — disse Elias, a voz seca. — Um aviso.— Eles estão mais perto do que achávamos — Darius respondeu, os olhos dourados queimando raiva contida.— Se é a Matilha da Lua Ne
A madrugada estava densa, abafada, como se o próprio ar soubesse que algo estava prestes a quebrar. As fogueiras da alcateia ardiam mais fracas que o habitual, e o uivo dos lobos parecia ter se recolhido para dentro da garganta de cada um.Aurora não dormia. Estava encolhida num canto da cabana, tremendo, o corpo ainda sentindo o eco dos sonhos. Sonhos que mais pareciam lembranças... mas de outra vida. De outra pessoa.Fogo. Gritos. Uma mulher vestida com roupas antigas, chorando diante de um berço envolto em chamas. Um trono vazio. Símbolos como o que carregava nas costas, gravados nas paredes de uma caverna feita de ossos e cristal.E no fim, sempre a mesma palavra sussurrada por uma voz feminina, antiga, quase maternal:"Desperte."Ela acordou com um grito preso na garganta — e com o mundo ao seu redor... quebrado.O chão de madeira sob seus pés rachara, linhas finas de fenda espalhando-se como veias por todo o cômodo. Um vento estranho soprava dentro da cabana, mesmo com as janela
A alvorada chegou coberta de névoa, espessa como lã. O silêncio era estranho, pesado, diferente do costumeiro alvoroço das aves e dos passos apressados dos guerreiros. A floresta parecia segurar o fôlego.Aurora acordou com um arrepio subindo pela espinha. Não era frio. Era presságio.Ela vestiu a capa às pressas e saiu da cabana, os olhos varrendo o acampamento. Vários lobos estavam reunidos na borda da clareira, murmurando, tensos. Um cheiro forte de sangue no ar denunciava que algo havia acontecido — algo ruim.Ela correu até lá, o coração disparado.E então viu.Havia corpos.Três patrulheiros, deitados lado a lado como oferendas. Os olhos abertos, mas sem vida. Não havia sinais de luta. Nenhuma gota de sangue fora dos corpos. Só o silêncio — e as marcas.As mesmas marcas que Aurora carregava nas costas.Cravadas no peito de cada guerreiro com precisão cirúrgica. Queimadas. Como se tivessem sido feitas com ferro em brasa.Aurora cambaleou para trás.— Quem fez isso...? — ela sussu
Naquela noite, Aurora não conseguiu dormir. Cada vez que fechava os olhos, via os corpos — as marcas — e, pior ainda, sentia algo queimando dentro de si.Era como se a própria pele estivesse viva.Ela tentou se acalmar, respirar, pensar em outra coisa. Mas então... uma memória surgiu.Uma mulher. Com olhos como os dela. Cantando uma canção que ninguém mais parecia entender.Aurora se sentou na cama, suando. Não era um sonho. Era uma lembrança.— O que está acontecendo comigo...? — ela sussurrou, apertando os punhos contra as têmporas.Foi quando algo estalou.Literalmente.Um dos jarros de cerâmica em cima da prateleira rachou no meio. Do nada. Sem toque, sem vento. Só... rachou.Aurora arregalou os olhos. Levantou-se devagar, o coração disparado. Quando tocou o jarro rachado, um clarão azulado brilhou em sua mão — e explodiu, arremessando-a contra a parede da cabana.Do lado de fora, Darius e Elias correram ao ouvir o barulho.Aurora tentava se levantar, tonta, os olhos piscando rápi