Continuação...O mundo parecia girar em câmera lenta enquanto Valerie corria até o corpo caído de Giulia no asfalto. Seus gritos cortavam o ar frio da manhã, ecoando como punhais invisíveis na alma dos que testemunhavam a cena."Giulia! Não, minha filha, por favor!"Valerie se ajoelhou ao lado dela, as mãos trêmulas tentando tocá-la sem machucá-la ainda mais, lágrimas correndo descontroladamente por seu rosto. A multidão começava a se aglomerar, mas ninguém ousava se aproximar. Era como se o desespero de Valerie criasse uma barreira invisível.Seguranças surgiram quase imediatamente, reconhecíveis pelos olhares atentos e a postura ameaçadora. Eles tentaram, com todo o cuidado, afastar Valerie, mas a mulher se agarrava a Giulia como se pudesse trazê-la de volta à vida apenas com seu amor de mãe."Senhora, senhora, calma, já avisamos o Don... Ele está a caminho!" disse um dos homens, tentando conter o próprio nervosismo. Sabiam que, quando Enrico soubesse, o inferno se abriria sob seus
Gêmeos Calahan Caelan e Connor Calahan cresceram com uma única certeza: seu pai, Donovan Calahan, fora morto por Francesco Moretti, um homem de sangue italiano, mas nascido e criado em solo americano. Durante anos, essa verdade ficou soterrada pela autoridade de Maurrien, sua mãe, que, mesmo devastada, nunca permitira que os filhos buscassem vingança. Mas agora, a verdade finalmente viera à tona — Victorio, como uma serpente, sussurrara em seus ouvidos. E o que começaram como investigações discretas, rapidamente se tornaram um redemoinho de revelações. Nos arquivos escondidos da velha rede mafiosa de Boston, descobriram documentos antigos, relatos abafados... não apenas Francesco assassinara seu pai, mas a história toda era ainda mais suja. Donovan, anos atrás, tivera um caso com Valerie — a mãe de Giulia. Quando Maurreen descobriu a traição, não explodiu em fúria. Não. Ela arquitetou sua vingança. Ao invés de confrontá-lo, deixou-se envolver "aparentemente" por Francesco, a
DonatelaO hospital estava mergulhado em um silêncio pesado, como se até as paredes soubessem do risco que pairava no ar. O cheiro forte de desinfetante parecia grudar na pele, misturado à ansiedade que escorria pelos corredores.Donatela Bianchi entrou com a postura impecável de quem queria ser vista como parte da família preocupada, mas seu sorriso discreto escondia o veneno que lhe fervia sob a pele.Os saltos dos seus sapatos de couro fino estalaram no chão como pequenos tiros, chamando atenção apenas dos enfermeiros que a observaram de relance. Ela trajava um blazer claro, elegante, os cabelos loiros presos com perfeição — a encarnação da irmã solidária.Seu olhar percorreu rapidamente o corredor até encontrar a figura imponente de Enrico, parado à porta de um dos quartos, falando em voz baixa com um médico. O rosto dele estava fechado, os olhos injetados de tensão.Donatela fingiu ajeitar a bolsa no ombro, soltando um suspiro alto o suficiente para parecer emocionada.— Po
Giulia e EnricoDois dias se passaram. O hospital, que antes parecia um campo de batalha, agora respirava uma estranha calma. Mas a paz era apenas superficial — Giulia sabia disso. Ela estava deitada na cama, o corpo ainda fraco, sentindo a vida pulsar em si e em seu ventre, onde seu bebê crescia protegido. O soro gotejava lentamente ao lado, e o leve zumbido dos aparelhos preenchia o silêncio do quarto.Na poltrona próxima à janela, Enrico parecia um leão em cativeiro. Vestia uma camisa branca, com as mangas dobradas até os cotovelos, revelando os antebraços fortes cobertos de veias saltadas. O laptop descansava em suas pernas, os dedos digitando com uma rapidez quase agressiva. Dois celulares vibravam em uma mesa próxima, ao lado de uma xícara de café esquecida. Guilhermo, por vezes, entrava e saía do quarto sem anunciar-se, entregando papéis, falando baixo, repassando informações que Giulia mal conseguia entender. Nomes. Endereços. Gravações. Peças de um quebra-cabeça que Enrico mo
Tensão na mansão Giulia sentia seu corpo frágil, mas o calor da mão de Enrico sobre sua cintura a sustentava enquanto subiam os degraus da mansão. Finalmente, estavam em casa. Ou era o que deveria ser... mas a atmosfera pesada e abafada logo denunciou que algo estava errado. Enrico empurrou a porta da frente e, antes mesmo de adentrarem o salão, Giulia estacou. O coração dela quase parou. Ali, em pé no centro do saguão, como se fosse o legítimo dono da casa, estava Victorio. O sorriso distorcido nos lábios dele, misto de loucura e certeza, fez Giulia instintivamente se encolher contra Enrico. Ele não deveria estar ali. Não poderia estar ali. A segurança da mansão era reforçada, quase impenetrável. Como ele tinha conseguido entrar? — Victorio — a voz de Enrico saiu carregada de ódio, mais fria do que aço. — Como diabos você entrou? Victorio deu de ombros, zombeteiro. — Quem quer que ame de verdade, sempre encontra um caminho — respondeu ele, com um brilho insano nos olhos f
GiuliaO cheiro de pólvora ainda parecia pairar no ar da mansão. Aquela noite tinha sido um pesadelo: Victorio fugira, e um dos seguranças, leal a Enrico há anos, quase perdera a vida tentando impedir.Agora, a segurança estava reforçada, e os olhos atentos da equipe não descansavam um segundo sequer.Giulia, no entanto, mal tinha forças para se preocupar com o que acontecia ao seu redor. Ainda se recuperava do atropelamento brutal que quase custara sua vida — e a do bebê que carregava.No quarto amplo, repousava cercada por almofadas e cobertores, olhando o jardim pela janela aberta. O som dos passarinhos lá fora parecia tão distante... Tudo nela ainda doía — o corpo, a mente, o coração.Foi então que uma batida leve na porta chamou sua atenção.— Pode entrar — disse, a voz baixa.Uma das empregadas se aproximou, um pouco sem jeito.— Senhora Giulia... tem visita. A dona Donatela.Giulia piscou, surpresa.Donatela? A mulher com quem ela mal falava? Aquela que ela sabia —
EnricoA luz do abajur lançava sombras suaves sobre o rosto de Giulia. Ela dormia como se nada existisse além daquela cama, do travesseiro onde seus cabelos se espalhavam como seda escura. Seus lábios entreabertos murmuravam qualquer coisa incompreensível, perdida nos sonhos. Eu deveria estar em paz por vê-la assim. Mas tudo dentro de mim gritava.Primeiro o sequestro. Agora, Victorio dentro da minha casa.A casa que deveria ser segura.Cruzei os braços sobre o peito, lutando para sufocar a sensação de impotência. Eu a conhecia bem demais. Era a mesma que me corroeu há anos. Patrizia.Mesmo quando tento não pensar nela, ela volta. Basta o silêncio... Basta Giulia adormecida."Enrico..."O som da voz de Patrizia sussurrando meu nome ecoa na minha mente. Vejo o sorriso dela. Um sorriso resignado, doce e amargo ao mesmo tempo. Estávamos no nosso quarto. Giacomo tinha acabado de adormecer. Patrizia vestia o robe de cetim azul que adorava, os cabelos molhados caindo nos ombros."Promete qu
Enrico O sol atravessava as frestas das cortinas do escritório quando Enrico Bianchi se levantou da cadeira. A casa estava em silêncio. Giulia ainda dormia no quarto acima, e ele fazia questão de deixá-la descansar. A noite anterior tinha sido longa e perturbadora.Ele girava lentamente um copo de uísque entre os dedos, ainda cheio, quando ouviu batidas na porta.Andrea surgiu. — Senhor, os gêmeos Callahan chegaram. Disseram que é importante.Enrico franziu o cenho. Já havia cruzado com eles rapidamente no hospital, quando Giulia sofreu aquele “acidente”. Lembrava-se de seus olhares intensos, mas não tinham conseguido conversar naquela ocasião. Ele assentiu com a cabeça. — Mande entrar.Caelan e Conor Callahan adentraram o escritório com passos firmes e silenciosos. A semelhança física entre os dois era inegável, mas o que mais chamava atenção era a firmeza no olhar — um tipo de dor moldada pela raiva e pelo tempo.— Bianchi — começou Caelan. — Viemos falar de alguém que, infeliz