Ozan
Quando ela sai, meus dentes se trincam automaticamente. Um gesto involuntário, quase animal. Ela acha que me engana? O pensamento vem ácido, corrosivo. Só pode ter saído com algum cara cheio da grana, penso, sentindo um calor incômodo subir pelo peito.
Essa garota, no fundo, é uma alpinista social? Tento buscar alguma lógica em suas atitudes, mas é como decifrar um quebra-cabeça em que metade das peças está faltando. Sofia continua sendo um mistério, uma equação que não consigo resolver. E isso me incomoda mais do que estou disposto a admitir.
Talvez eu seja mesmo lerdo para lidar com mulheres. A ideia me atravessa como um raio inesperado, trazendo à tona lembranças de Ayla. O peso amargo do passado me toma, deixando um gosto metálico na boca. Não é o tipo de memória que eu gostaria de revisitar, mas ela insiste em surgir, como uma velha ferida que nunca cicatrizou por completo.
Termino meu café com um engolir seco e saio da cozinha, cada passo ecoando na minha mente inquieta. O