A noite havia se estendido como uma ferida aberta no céu. Nenhuma estrela ousava atravessar as nuvens que cobriam o território do Norte, e o vento frio carregava o mesmo cheiro metálico que sempre antecedia a guerra — o cheiro do sangue que o lobo em Augusto reconhecia como destino.

Ele estava sozinho no terraço do casarão, o mesmo onde, anos antes, jurara lealdade à alcateia que agora governava. A lua, ainda oculta, parecia zombar dele por trás das sombras.

O copo em sua mão tremia levemente, não pelo álcool, mas pelo que fervia sob sua pele: o instinto.

Desde o conselho, o nome dela ecoava em sua mente como um feitiço que ele não conseguia quebrar.

Hellena.

Aquela mulher havia atravessado suas defesas como se soubesse onde estavam as fendas do seu autocontrole. O modo como ela o olhara — sem medo, sem submissão, sem pedir permissão para existir — havia acendido algo que ele acreditava morto.

E o problema era que aquilo não era apenas desejo. Era instinto de posse. Algo que o lobo em