Já fazia algum tempo que eu estava afastado do trabalho. Mas, aos poucos, senti que precisava retomar por mim, por ela, por nós. Voltei devagar, apenas algumas horas por dia, sempre deixando claro à equipe que, ao menor sinal dela, eu estaria em casa. Sem hesitação.
Numa dessas noites em que eu estava no sofá, revisando alguns documentos, ouvi passos leves pelo corredor. Quando levantei os olhos, ela surgiu com um cobertor nas mãos e uma expressão serena, embora ainda frágil.Sem dizer muito, sentou-se ao meu lado.- Pode continuar aquele livro... o que você estava lendo - disse baixinho, a voz arranhada, quase como se estivesse pedindo permissão para habitar aquele momento comigo.Fiquei surpreso. Era a primeira vez, em semanas, que ela se aproximava assim, de forma tão íntima. Peguei o livro um clássico que eu lia apenas para distrair a mente e comecei a ler em voz baixa, como nos dias em que ela ainda dormia muito, em que tudo parecia suspenso.Mas, dessa vez,