Varanda da fazenda Duarte – Tarde fria.
João estava imóvel. O vento varria a varanda da sede, mas ele não sentia nada. O corpo presente, a alma dispersa — ausente como quem já havia sido sepultado vivo.
As mãos estavam frias, apesar do chá quente que Clara lhe entregara. Ela sorria com doçura. O tipo de doçura que sufoca.
"É o certo, João", diziam todos.
Seu pai. Seu tio Afonso pai de Clara. Até Ana silenciara diante da imposição.
O nome Duarte precisava sobreviver. O escândalo precisava ser abafado. A aliança com Clara — filha perfeita, prima ideal — seria o selo de honra.
Honra.
A palavra soava como ferro enferrujado contra os dentes. Ele não queria. Nunca quis. Clara era o passado... Amanda, o abismo que ele escolheu cair.
Mas agora, estava de mãos atadas.
Augusto batera na mesa dias antes, os olhos em brasas, a voz como um trovão:
— Ou você casa com Clara, ou sai desta família sem um centavo, sem um sobrenome, sem um teto para onde voltar.
João sentiu o ódio raspar-lhe o peito. N