POV Felipe
A noite caiu pesada, sufocante. Eu não suportava mais o gosto do jantar ainda preso na garganta. Sorrisos falsos, perguntas afiadas, insinuações políticas. O toque insistente de Cecília no meu braço, os olhares do meu pai e de Augustus, como se esperassem que eu fechasse um contrato em forma de casamento.
Como se eu precisasse disso.
Respirei fundo, soltando o nó da gravata assim que a porta da minha casa se fechou atrás de mim. A mansão estava silenciosa, mas o silêncio não me bastava. Nada me bastava.
Meu corpo queimava, meus músculos pediam movimento, e meu lobo urrava dentro de mim.
“Solta-me.”
A voz de Zurk ecoou em minha mente, grave, como se arranhasse cada pedaço do meu crânio.
“Não aguento mais o cheiro dela, aquele perfume barato. Não era dela. Não era a nossa.”
— Cala a boca. — Rosnei sozinho, já arrancando a camisa. — Isso não importa.
“Importa. Porque não era Ela.”
Fechei os olhos, o coração acelerado. Bastava uma lembrança, um sopro daquela sensação