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Capítulo 4 - Destinos roubados

O sol despontava no horizonte, tingindo as ondas calmas da baía com tons dourados e quentes. Sua luz se refletia sobre a majestosa mansão Ashworth, que se erguia à beira-mar como um símbolo de poder, história e tradição. O cheiro do café recém-passado se misturava ao aroma salgado do oceano, invadindo os corredores amplos e as suítes ricamente decoradas, que guardavam memórias de gerações passadas. A casa respirava, viva, com os ecos das histórias que se entrelaçavam em seus espaços.

Mia Ashworth despertou lentamente, os olhos se ajustando à luz suave que filtrava pelas cortinas. O calor do lençol ainda a envolvia, e o som distante das vozes pela casa se misturava aos primeiros raios do dia. Cada passo, cada risada e cada chamado eram lembretes de que, ali, naquele lar, a vida nunca passava despercebida. Mia era filha adotiva de sua tia Elizabeth Ashworth, criada com um amor incondicional. No entanto, seu destino ia muito além de ser apenas mais uma Ashworth comum. Predestinada a Bryan Blackwolf, futura Luna da Alcateia Blackwolf, ela carregava dentro de si uma força ancestral que ainda tentava compreender.

Através da janela, o mar refletia o céu límpido, e o canto distante de uma gaivota lembrava Mia que, apesar da calma aparente, algo dentro dela não estava em paz. Ela podia sentir, sutilmente, a mudança que estava acontecendo. O ar, o cheiro da manhã, até mesmo a luz do dia pareciam diferentes, como se o mundo estivesse sussurrando que aquele dia não seria apenas mais um. Mas ela não sabia ainda o que isso significava.

No andar de baixo, a vida da mansão se desenrolava como um balé silencioso. Chloe Ashowrth, a primogênita e futura Lambda, conversava com Benjamin Blackwolf, seu namorado e futuro Beta e irmão mais velho de Bryan, analisando detalhes estratégicos sobre a alcateia com a maturidade de alguém que já nasceu para liderar. Theo Ashowrth, Lobo o Beta, e futuro candidato a ser o braço direito do futuro alfa da alcateia, treinava nos gramados com Léo, movimentos firmes e precisos se entrelaçando em golpes de força e agilidade, demonstrando a sincronia e disciplina que a alcateia depositava neles. Lívia, a irmã do meio, passava pela sala com a expressão tensa, os olhos fixos em Mia, como se cada gesto de sua irmã fosse uma afronta silenciosa.

Na mesa de café da manhã, Elizabeth Ashowrth , a Lambda e braço direito e melhor amiga da Luna Babi Maya Blackwolf, movia-se com graça e firmeza, distribuindo orientações discretas mas essenciais:

— Vamos, comam todos, temos o dia cheio pela frente! — dizia enquanto servia pães quentes, frutas frescas e ajudava os mais novos a se organizarem.

Alaric Ashowrth, Beta da alcateia, o patriarca e protetor incansável da família, observava cada detalhe com a seriedade de quem sabia que cada pequeno gesto poderia significar a diferença entre segurança e desastre. Seu olhar se demorava especialmente sobre Mia, sua filha.

Foi então que Lívia atravessou a sala de jantar, os olhos fixos na blusa que Mia escolhera para o dia. Sua expressão era de fúria contida, os lábios comprimidos em uma linha fina, e cada respiração parecia carregar o peso de anos de expectativas frustradas.

O desentendimento inevitável começou quando Lívia atravessou a sala, os olhos fixos na blusa que Mia escolhera para o dia.

— Você está me copiando de novo, não é? — a voz de Lívia cortava o ar, carregada de frustração.

Desde o nascimento de Mia, Lívia sentia como se o mundo tivesse sido arrancado de suas mãos. Antes, era a caçula adorada, aquela em quem todos depositavam esperanças, a menina de quem sussurravam que talvez fosse a escolhida, a futura Luna da poderosa alcateia Blackwolf. Bryan sempre estivera ao seu lado, inseparável nas brincadeiras, protetor e cúmplice fiel. Lívia cresceu acreditando que o destino já estava escrito, que um dia ela e Bryan reinariam juntos.

Mas então Mia chegou. Pequena, frágil, incapaz de pronunciar sequer uma palavra... e já trazia em sua pele a marca de Bryan. Foi nesse instante que tudo desmoronou. O brilho que era só dela se apagou, e cada olhar, cada gesto, cada esperança passou a girar em torno da irmã mais nova. Bryan, que antes corria para entregar-lhe flores roubadas do jardim, agora só tinha olhos para a bebê que carregava o futuro dele.

Lívia se viu esquecida, relegada à sombra. A doce fantasia de ser a escolhida, de ter o trono, o poder, e o amor de Bryan, se quebrou em mil pedaços. No fundo, ainda que fosse apenas uma criança, ela compreendeu: Mia não apenas nascera — Mia havia lhe roubado tudo. Até mesmo aquilo que Lívia acreditava ser dela por direito.

Mia ergueu o queixo, olhos brilhando de provocação:

— Essa blusa ? Peguei na lavandaria e eu vou usar a blusa, ela fica muito melhor em mim. Não tenho culpa se você nasceu feia!

Lívia encarou Mia em choque, a boca entreaberta, incapaz de acreditar na resposta que acabara de ouvir.

— Sua pirralha! Vou te fazer engolir essas palavras! — Lívia avançou, mas foi interrompida por Elizabeth:

— Meninas, por favor, não briguem tão cedo! — disse, colocando uma colher de mel no iogurte com frutas de Mia, tentando suavizar o clima.

Mia, para provocar ainda mais, mostrou a língua para Lívia. Zoey, cúmplice inseparável, repetiu a careta, arrancando uma gargalhada abafada da irmã.

— Mãe! — protestou Lívia indignada. — Essas pirralhas tão de brincadeira com a minha cara!

Elizabeth suspirou, mas sem perder o sorriso:

— Lívia, respire... são apenas crianças. Mas Mia, não dê mau exemplo para sua irmãzinha Zoey.

Mas, mesmo nesse momento de leveza, Mia sentia uma pontada de inquietação. O dia estava apenas começando, e algo no ar dizia que nada ali seria tão simples como uma manhã comum. O corpo dela parecia elétrico, um formigamento percorrendo cada terminações nervosas, como se a própria energia do ar estivesse alertando-a.

Antes que pudesse se concentrar nesse estranho pressentimento, Mia se distraiu com a chegada de Bryan. Ele surgia pelo jardim com a naturalidade de quem conhecia cada canto da propriedade — afinal, as mansões Ashowrth e Blackwolf ficavam lado a lado, conectadas por caminhos que cruzavam os jardins, como se os dois lares fossem apenas uma extensão um do outro.

Nesse instante, a porta do jardim se abriu e Bryan Blackwolf entrou com naturalidade, trazendo flores frescas em mãos. O sorriso dele era largo, quase capaz de iluminar o salão inteiro.

— Bom dia para todos — disse, virando-se para Mia. Com um olhar intenso, completou em voz baixa: — Você está perfeita, amor da minha vida. — Então se inclinou e beijou docemente a bochecha dela, fazendo-a corar, e entregou-lhe um pequeno arranjo de flores que ele mesmo fizera com laço e tudo Mia pegou as flores sorridente e então ele se sentou na mesa ao lado dela. O gesto não passou despercebido por Lívia, que observava, olhos estreitos, o coração apertado por ciúmes e impotência.

O clima tenso aos poucos se dissolveu, mas Alaric manteve a expressão séria, inclinando-se levemente para falar com a filha:

— Minha filhotinha, não se esqueça de tomar cuidado sempre. Qualquer sinal diferente, aperta aquele botão que te demos, ok? — lembrou, segurando o pequeno chaveiro preto com o centro vermelho macio. Era o dispositivo de alerta que enviava mensagens diretamente para o celular de Alaric em caso de emergência.

Mia suspirou, desconfortável. Ainda não havia despertado seu lobo e não entendia por que apenas ela precisava daquele botão, mas mesmo assim guardou o dispositivo com cuidado, obediente.

Bryan, percebendo a preocupação silenciosa de Alaric, segurou a mão de Mia, transmitindo segurança e firmeza e Antes que a tensão pesasse de novo, ele se inclinou na direção do padrinho, a voz firme e carregada de convicção:

— Não se preocupe, padrinho. Estarei o tempo todo perto dela.

Enquanto o café da manhã prosseguia, o tilintar de talheres e o aroma do pão quente preenchiam o ambiente. Mas, mesmo entre risos e provocações, algo na energia do ar mudava. Mia sentiu o formigamento crescer, uma vibração que atravessava o sangue e parecia expandir-se pelo quarto. Cada batida do coração ecoava como tambor ancestral, e a eletricidade corria agora de forma intensa pelo seu corpo.

Ela fechou os olhos, respirou fundo, e sentiu o chamado da sua essência ancestral. Algo poderoso, antigo e indomável começava a emergir. E naquele instante, Mia soube, com certeza silenciosa, que nada mais seria igual.

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