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CAPÍTULO 4 — O DESPERTAR

“Mia… acorde…”

O sussurro cortou a escuridão como uma agulha atravessando a pele. Mia abriu os olhos de repente, o peito arfando como se tivesse sido puxada para fora de um pesadelo profundo. O quarto girou. O ar sumiu. Algo dentro dela se agitou como uma fera presa tentando escapar.

“ Mia chegou a hora … ”

A dor veio como uma lâmina quente.

Primeiro nas pontas dos dedos.

Depois nos braços.

Depois no peito.

Ela tentou respirar, mas não conseguiu — a garganta travou. Até que o grito explodiu sozinho, rasgando sua boca, rasgando as paredes, rasgando a noite.

Um grito que não era humano, era um rugido.

Ela despencou da cama direto no chão, os joelhos chocando contra a madeira. As unhas cresceram sem aviso, duras e negras, arranhando o piso com um som que fez a casa inteira estremecer. Cada estalo de osso parecia uma sentença.

— MIA?! — Chloe entrou correndo, o rosto branco, as mãos tremendo.

— Chloe, fica atrás de mim, ela está se transformando! — Theo rosnou, os olhos dourados de puro instinto, puxando a irmã para longe.

Mia tentou falar, mas sua voz saiu partida, gutural, como duas vozes sobrepostas:

— Mãe… pai… ajuda…

Ela olhou para as próprias mãos e engasgou. Os dedos estavam se torcendo, a pele se rasgando em cortes prateados que brilhavam como lua líquida misturada com sangue escuro.

Os gritos dela ecoaram pelos corredores.

Elizabeth apareceu na porta em pânico, o rosto devastado.

— Mia, meu Deus…! — tentou correr, mas foi repelida por uma luz prateada que explodiu do corpo da filha.

— ALARIC! — Elizabeth chorou. — ELA TÁ MUDANDO! MEU DEUS, ELA TÁ MUDANDO!

Os móveis tremeram. Espelhos se despedaçaram. As janelas vibraram como se fossem explodir.

E então…

A porta foi arremessada para trás.

Natanael Blackwolf entrou como uma tempestade viva, os olhos azuis afiados, a voz cortando o caos:

— ALARIC, BRYAN TAMBÉM ESTÁ EM TRANSFORMAÇÃO!

Elizabeth ofegou.

— Bryan?!

Alaric empalideceu.

— Então é agora… — ele murmurou, a voz quebrada. — Eles… estão despertando juntos.

Natanael não hesitou:

— DELTAS! GUARDAS! LEVEM MIA PARA O QG! AGORA!

Theo segurou Chloe antes que ela corresse atrás de Mia.

Zoey e Zack choravam abraçados a Léo na porta.

Elizabeth ia atrás da filha, soluçando, sem conseguir tocar.

— MIA! FILHA! MIA, OLHA PRA MIM!

Mas Mia só conseguia gritar:

— ISSO DÓI… MÃE, ISSO DÓI TANTO…

As paredes pareciam implodir a cada onda de dor.

No quartel da alcateia , Quando colocaram Mia no centro do grande salão, Bryan já estava lá.

Ou metade de Bryan.

Ele estava no chão, arqueado, o corpo tremendo como se estivesse em combustão. A marca no abdômen brilhava como lava. O pescoço estalava, a coluna se arqueava, as garras cresciam do nada, rasgando a pele.

Ele ouviu a movimentação e tentou levantar o rosto.

— Mia…? — sua voz saiu partida, rouca, animal.

Os olhos dele brilhavam com lágrimas.

— Amor… — ele arfou — fica… comigo…

Mia tentou se arrastar para ele, mas uma onda de dor a fez gritar.

— AAAAAAH! BRYAN! — o choro dela era pura agonia. — ISSO DÓI… NÃO PARA… NÃO PARA…

Elizabeth caiu de joelhos – Selene … porque agora ? - ela exclama, os olhos arregalados.

Babi desabou ao lado dela, segurando o próprio coração, sem conseguir assistir.

— Meu menino… — Babi chorou. — Bryan, meu amor, respira!

Mas Bryan tremia como se estivesse em chamas.

— MIA! — ele gritou, tentando alcançá-la. — FICA COMIGO! EU TÔ… AQUI…

O chão vibrava com a energia deles.

A luz pulsava em ondas.

Os deltas recuaram com medo real.

E então veio o momento mais cruel:

Os olhos de Mia encontraram os dele.

Torturados.

Quebrados.

Apaixonados.

— Bryan… — ela chorou, a voz fina. — …isso dói…

Ele tentou se arrastar na direção dela, ignorando o próprio corpo se partindo.

— Eu sei, baby… eu sei… eu tô aqui… — ele soluçou.

As luzes do QG piscaram.

A energia ao redor deles subiu como um furacão invisível.

E então…

O ESTOURO.

Um rugido explodiu do corpo de Mia.

Outro de Bryan.

As luzes estouraram.

O chão tremeu.

Uma onda de energia arremessou todos ao redor para trás.

Elizabeth caiu.

Babi caiu.

Natanael e Alaric se protegeram dos estilhaços.

E no centro do QG…

Dois gigantes surgiram.

Quem veio primeiro — A Loba Prateada — MIKA

Mika surgiu primeiro.

Uma loba branco-prateado, pelos brilhando como neve ao luar.

Olhos azuis arroxeados como estrelas.

Grande, imponente, impossível de olhar sem tremer.

Ela não parecia só um lobo.

Parecia uma deusa.

A primeira Sigma.

A loba ancestral.

A lenda viva.

E depois — O lobo colossal — BONES

E então o chão rachou atrás dela.

Um rugido tão profundo que fez o teto oscilar irrompeu.

Bones.

O maior lobo já visto.

Cinza-escuro, quase prateado.

Musculoso.

Perfeito.

Olhos vermelhos ferozes como relâmpagos.

Ele reconheceu Mika.

Mika reconheceu ele.

Os dois se aproximaram em silêncio.

A alcateia inteira prendeu a respiração.

Natanael caiu de joelhos, em respeito involuntário.

Outros lobos fizeram o mesmo.

Babi e Elizabeth choravam sem saber se de medo, orgulho ou os dois.

Quando Mika e Bones encostaram focinhos…

Uma explosão silenciosa percorreu a Terra.

Lobos em outras cidades levantaram a cabeça ao mesmo tempo.

O mar recuou.

A floresta estremeceu.

O vento parou.

O mundo ouviu.

O mundo reconheceu.

A nova era tinha começado.

Quando Mika recuou e Mia surgiu novamente, caída, tremendo, ofegante…

Bryan também voltou à forma humana ao lado dela.

Meio nus, cobertos de sangue, suor e lágrimas.

Eles se arrastaram um para o outro.

As mãos se tocaram no meio do chão rachado.

— Mia… — Bryan murmurou, quebrado. — Eu tô aqui…

— Bryan… — ela chorou — …não me deixa…

A energia ao redor deles atingiu um ponto impossível — quase viva, quase consciente.

Mika e Bones se encararam num silêncio que parecia atravessar eras.

E então, num último pulso de força…

a aura deles explodiu para fora como uma supernova.

O chão rachou.

O teto gemeu.

O ar foi arrancado das paredes.

E o mundo…

O mundo inteiro sentiu.

Nas montanhas distantes, lobos selvagens ergueram a cabeça para o céu.

Em florestas ancestrais, o vento parou por um segundo.

O mar recuou e depois avançou com violência, como se respirasse junto.

Até os pássaros silenciaram, sentidos aguçados tremendo com a energia nova.

A Terra reconheceu.

A Lua respondeu.

O destino se curvou.

No centro do QG, a luz que envolvia os dois se tornou insuportavelmente brilhante — branca, prateada, feroz.

E então…

veio o colapso.

Como se os corpos deles não aguentassem a própria força, Mia e Bryan perderam o controle ao mesmo tempo. A energia os consumiu, arrancou a forma lupina deles em flashes prateados e cinzentos…

…e os dois desabaram no chão.

Caíram lado a lado.

Metade nus, cobertos de suor e sangue.

Pálidos.

Tremendo.

Inconscientes.

Mika desapareceu dentro de Mia como névoa prateada.

Bones recuou para dentro de Bryan como uma sombra gigante recolhida à força.

O silêncio que se instalou foi tão profundo que ninguém ousou respirar.

Elizabeth correu primeiro, o peito em prantos:

— Mia! Minha filha!

Babi caiu de joelhos, tocando o rosto do filho com mãos trêmulas:

— Bryan… meu menino… respira, por favor…

Natanael encarou o chão rachado.

Alaric não conseguiu mover um músculo, paralisado pelo choque.

Theo tremia. Chloe chorava. Zoey e Zack soluçavam entre os braços de uma delta.

A alcateia inteira estava ajoelhada.

Ninguém ali sabia se aquilo era um milagre…

…ou um presságio.

Mas todos sabiam que o mundo havia mudado naquela noite.

E que o amor doce e inocente daqueles dois adolescentes…

…acabava de morrer junto com a infância deles.

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