Três dias se passaram no sofá da sala, no vaivém entre náuseas e fome. A insistência das meninas para eu marcar logo o pré-natal batia na parede do meu “depois”. Decidi que abriria a ficha médica em Madison. Hoje, pela primeira vez desde a implosão, coloquei os pés na rua.
Peguei um táxi até meu prédio para buscar o carro e alguma roupa limpa. Tive que subir — as chaves do automóvel estavam na gaveta do aparador da entrada. Meu apartamento, embora já com a porta reparada, ainda parecia falar de mim aos gritos: o cheiro de poeira, os quadros desalinhados, um eco estranho. Respirei fundo, peguei as chaves, uma muda de roupa, meus dólares guardados num envelope antigo e desci.
O porteiro, seu Frilzer, levantou devagar da banqueta.
— Dona Margo! Recebeu a surpresa?
— Que surpresa?
— Sexta à tarde, uma moça veio com dois rapazes de terno. Disseram que tinham um presente pra deixar pra senhora.
— Não recebi nada… lembra o nome dela?
— Nome eu esqueci. Mas parecia a Branca de Neve. Pele bran