Levantei a mão e o terceiro táxi parou. Entrei no banco de trás, puxei o cinto.
— Upper East, por favor — disse, dando o número da minha rua.
O motorista assentiu, o rádio murmurando uma estação de notícias que falava do mercado aquecido, de um senador qualquer, de chuva prevista para sexta. Apoiei a testa no vidro. Os prédios desfilaram em blocos: o colossal de vidro espelhado onde fica a Spelling, do outro lado, me piscou com lembranças boas — o sorriso do Matt na recepção, o abraço dele depois do orfanato, o jeito como ele sempre me chama de “amor” sem parecer maior do que a palavra. Pensei em ligar, em dizer “te encontro mais tarde?”, mas guardei o impulso. Ele disse que hoje seria noite longa de reuniões. Eu precisava respeitar o tempo dele como ele vinha respeitando os meus.
O táxi dobrou na minha rua. Meu quarteirão tinha o movimento familiar de começo de noite: o doorman conversando com uma vizinha sobre flores de primavera, o entregador de comida equilibrando três sacolas, um