Abraço os joelhos e fico olhando pela janela do meu quarto o vai-e-vem da rua. Já escureceu de vez; os postes acesos espicham halos amarelos sobre a calçada úmida — choveu fino no fim da tarde — e as poças viram pequenos espelhos. Um entregador corta a noite de bicicleta, um vizinho passeia o cachorro com casaco grosso, alguém passa correndo com um fone enorme. O chiado do radiador compete com uma sirene distante e com o barulho das portas do elevador abrindo e fechando no corredor. Nova York segue respirando no ritmo de sempre, mesmo quando a gente não dá conta.
Do outro lado da rua, reconheço o carro do Matt encostar na vaga entre uma van de mudanças e um táxi. Ele sai do carro com um pacotinho da farmácia na mão — deve ser o remédio pro estômago de que venho reclamando desde cedo. O gesto simples me derrete um pouco por dentro.
Levanto. Bono, meu gato, está atravessado no travesseiro como se pagasse o aluguel do quarto. Pego a bola fofa no colo e caminho até a sala, fazendo carinho