Capítulo 5

Chego no meu apartamento e encontro Matthew sentado nos degraus da entrada, com Bono esparramado em seu colo como se fosse um bebê. Ele sorri ao me ver, e aquele sorriso doce de menino que ele tem me arranca um suspiro leve. Sento ao lado dele e passo a mão nas orelhas do meu gato, que ronrona alto.

— Meu Deus, eu sou uma péssima mãe — murmuro. — Eu esqueci completamente de pegar o Bono no pet shop!

— Eu sei — ele responde com a calma de quem já se acostumou com meu caos.

— Se você não existisse, eu juro que minha vida seria um completo desastre — confesso, encostando minha cabeça em seu ombro.

Matthew ri e me abraça com um dos braços, aconchegando o gato com o outro.

— Uma jovem infeliz por não ter conhecido o Mat gostosão.

Dou um tapa leve no braço dele, rindo.

Gosto tanto de estar com ele. Matthew é meu lugar seguro. A leveza que ele traz quando o mundo tá desmoronando... é diferente de tudo. Eu gosto da companhia dele. Muito. Mas não daquele jeito que as pessoas esperam. Não tem desejo, não tem segundas intenções. Tem conforto. É como um lar em forma de gente. E talvez por isso, às vezes, eu me pergunto se ele sente algo mais. Mas eu não consigo vê-lo com olhos de quem quer. E isso me dói, um pouco. Como se eu não merecesse alguém tão bom quanto ele, mas também não quisesse enganar.

— Vamos subir? Vou fazer o seu cappuccino favorito — digo, levantando. — E tomar meu chá gelado, porque o caos da minha vida merece um mínimo de refresco.

— Ainda não sei como você consegue beber aquilo — ele comenta com cara de nojo, se levantando com Bono no colo.

— Do mesmo jeito que você bebe cafeína como se fosse soro de vida — retruco, abrindo a porta.

— Chá também tem cafeína, sabia? — ele solta, com aquele tom de doutorzinho irritante que ele adora usar.

Subimos juntos as escadas do prédio de tijolinhos vermelhos. Tiro os saltos no primeiro degrau — e ele ri da minha tragédia anunciada. Desbloqueio a porta, jogo a bolsa no sofá e vou direto para a cozinha preparar as bebidas. Matthew se j**a no sofá com Bono e liga a TV.

Poucos minutos depois, volto para a sala com as bebidas. Ele está fixado no noticiário.

— Nunca vou superar o fato de que você tem menos de trinta anos e assiste jornal como se fosse série — comento, me jogando ao lado dele.

— Gosto de me manter informado, querida — ele responde, debochado.

Então ele aponta para a TV.

— Olha isso.

Na tela, a repórter fala com um sorriso controlado:

— Hoje à tarde, o empresário Antony Patinsk anunciou sua candidatura oficial ao partido Democrata. Segundo fontes, o magnata John Smith será um de seus principais apoiadores.

Paro. O mundo parece girar por um segundo.

— Espera. O pai do Misa? Ele vai se candidatar? — pergunto, surpresa.

— Já fazia um tempo que ele queria. Só não tinha apoio. Mas o Smith resolveu bancar.

— Quem é esse Smith?

— Pai da July. A... “namorada” do Misa — ele solta, com as aspas no tom de voz.

A peça encaixa. E não de um jeito confortável.

Fico em silêncio por um momento, encarando a TV como se ela pudesse me dar todas as respostas. Eu sempre desconfiei que aquele relacionamento servia a algo além de afeto. Mas ouvir isso de Matthew — e ver o nome de Smith ligado à candidatura do pai do Misa — me faz engolir em seco. Então era isso? Era por isso que ele nunca terminava com ela?

Claro. Uma união conveniente. Dois sobrenomes fortes. Uma fachada perfeita para a política. Ou eu querendo acreditar em algo para justificar as minhas ações e as do Misa.

Sinto algo entalar na garganta, mas engulo com o chá gelado.

Antes que eu diga qualquer coisa, a campainha toca. Minhas amigas entram com sorrisos empolgados e maletas de maquiagem como se fossem invadir a Fashion Week.

Emma j**a a maleta no sofá.

— Trouxemos o arsenal completo!

— Gente, é só uma boate... não um casamento — digo, tentando sorrir.

— Casamento? A gente vai é matar! — ela grita. — Todos vão querer a gente hoje.

— Eu não tô afim de me prostituir — brinco.

— Quando estiver, me liga — Matthew responde com uma gargalhada debochada.

Jogo os pincéis na cara dele e rio, tentando fingir que minha cabeça não tá a mil.

Mas tá. Tá sim.

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