O relógio marcava nove da manhã e eu continuava encarando o teto, acordada fazia tempo, mas sem coragem de me erguer. Nos últimos dias, desde a visita à pequena Clary, tudo em mim pareceu ganhar outro peso. A ideia de “doar” meu bebê — meus bebês — já não se encaixava; doía. Em vez disso, me pegava imaginando a bailarina dourada batendo no peito de uma menina risonha, as mãozinhas curiosas apertando o mundo, e um menino de olhos claros correndo pelos corredores, os dois disputando colo e conversa. O futuro, que antes me apavorava, começava a tomar contornos que eu não sabia se merecia, mas que, ainda assim, me chamavam.
Inspiro. Tenho consulta às onze. Meu corpo protesta, mas eu me levanto. O chão frio do banheiro desperta meus pés e, lentamente, faço a higiene da manhã. O banho morno alivia a pressão na nuca; ainda assim, quando desligo o chuveiro, o espelho me devolve olheiras fundas, a pele mais seca, um desenho novo no meu rosto — não exatamente de cansaço, mas de alguém que, pela