O ar some, depois volta com gosto de riso e susto.
— Eu… como… — a frase não termina, mas não precisa.
— Ainda não dá para cravar os sexos dos dois, mas… — Ele franze a testa, inclina a sonda, muda o plano. — Aqui, olha. Esse está mais colaborativo. Um menino.
Um menino. A palavra repousa dentro de mim como coisa antiga. Eu já o vejo miúdo, cabelo claro em cachos rebeldes, os olhos… não, paro antes de invocar sem querer fantasmas que não me fazem bem. Penso só no presente: dedos minúsculos, um perfil. O outro se esconde, perna cruzada, como se dissesse “agora não”.
Sebastian me guia pela imagem com paciência. Fala das pálpebras em formação, do pescoço visível, da laringe, do esqueleto que se mineraliza. Das mãos que já abrem e fecham. Das impressões digitais que estão surgindo. Explica com termos simples e técnicos na medida certa: idade gestacional estimada, biometria fetal, batimentos cardíacos dentro da faixa (ele fala em “FCF adequada”), placenta de inserção tal, líquido amniótico