Inicio / Romance / A Obsessão tem Olhos Âmbar / 4 — Tem muitos urubus rondando você
4 — Tem muitos urubus rondando você

Aylla soube, naquele instante, que aquele encontro não havia sido casual. O universo não dava voltas à toa, e ela sentia nos ossos que algo estranho estava em curso. Encontrar Ayron numa balada? Aquilo era um sinal, mas de quê, ela ainda não sabia. Sua garganta secou, o estômago revirou. Com dificuldade, balbuciou:

— Oi… como você tem passado, Ayron? É mesmo esse o seu nome?

O homem riu, e o som que escapou de sua boca foi quase cruel. A risada soou baixa, debochada, como se estivesse se divertindo com o desconforto dela.

— Aylla… Sim, meu nome é Ayron. Por que eu mentiria sobre isso?

Ela tentou manter o semblante calmo, mesmo com a certeza latejando dentro de si: aquele homem era um mar de segredos, e ela tinha medo de mergulhar fundo demais. Os olhos âmbar dele percorriam seu corpo com um desejo que queimava. E estranhamente… ele estava ainda mais bonito do que na noite em que estiveram juntos. Ela piscou várias vezes, culpando a bebida pelo calor que sentia subindo por suas pernas.

Então, ele falou com um tom mais carregado, quase possessivo:

— Pelo que vejo, tem muitos urubus rondando você…

Aylla sentiu o sangue ferver. Quem ele pensava que era para se meter nos assuntos dela?

— Senhor Ayron, com todo respeito, talvez isso soe rude, mas… o senhor não tem nada a ver com a minha vida. — disse firme, olhando nos olhos dele.

Ela viu claramente o desagrado estampado no rosto dele. Aylla continuou, com uma coragem que nem sabia que possuía:

— O senhor, para mim, foi apenas uma noite. Uma noite paga. Um serviço. Já terminou. Não tem por que discutirmos isso aqui.

Ayron se aproximou lentamente, o perfume dele invadindo o ar ao redor. Ela sentiu as pernas fraquejarem, mas manteve a postura. Ele perguntou, com a voz carregada de algo que ela não soube identificar:

— Aylla… por que está me tratando assim? O que aconteceu com a mulher que se entregava para mim de todas as formas possíveis?

O rosto dela pegou fogo. Aquela exposição a envergonhou profundamente.

— O senhor está me ofendendo… pare com isso. Por favor.

Mas Ayron não era o tipo de homem que recuava. Ele deu um passo ainda mais perto, a boca quase roçando a dela.

— Eu gostei de você, Aylla. Você era… deliciosa.

Não terminou a frase. Um tapa estalou alto no rosto dele.

Por um instante, tudo parou. Ayron permaneceu imóvel, absorvendo o impacto. Depois, passou a mão devagar pela bochecha avermelhada e murmurou com um sorriso torto:

— Eu achei que você fosse uma mulher submissa… mas pelo que vejo, tem sangue quente correndo nessas veias.

Aylla teve vontade de arrancar aquele sorriso do rosto dele. Onde estava o homem carinhoso e cuidadoso da noite que passaram juntos? Quem era aquele cretino à sua frente?

Ela respirou fundo e respondeu com calma:

— Senhor Ayron, eu não aceito esse tipo de desrespeito.

Sem esperar por resposta, virou as costas e saiu da pista de dança. Precisava encontrar Vanessa. Quando chegou até a amiga, a viu aos beijos com seu acompanhante e, sem coragem de interromper, voltou para o camarote. Lá de cima, seus olhos foram atraídos para a figura de Ayron, cercado por várias mulheres que dançavam em cima dele. Parecia que ele fazia questão de mostrar que era desejado, que estava se divertindo… e que ela não significava nada.

Mesmo assim, ele a encarava. Aquilo a corroía por dentro. Por que se sentia tão incomodada?

O celular vibrou em sua bolsa. Uma mensagem de Leonardo. Ela bufou. Só podia ser mais uma tentativa desesperada de convencê-la de algo.

"Aylla, meu amor. Estou com saudades. Queria conversar, te explicar. Eu não tive nada com aquela garota, ela se jogou pra cima de mim. Eu sou homem…"

A raiva subiu como fogo. Que tipo de desculpa esfarrapada era aquela? Como ele ousava tratá-la como uma mulher boba, fraca? Jogou o celular de lado, sem responder. Não iria bloqueá-lo, não por fraqueza, mas porque jamais admitiria que ele ainda a perturbava.

Enquanto tentava se recompor, notou que Ayron continuava a fitá-la de longe. O que ele queria? Passar a noite toda a secando?

Decidiu ir embora. Aquele lugar não era mais para ela. Desceu as escadas, tentando não pensar em nada. Mas então esbarrou em alguém.

Um homem, claramente embriagado, sorriu torto e disse:

— Olha só o que temos aqui… uma delícia sozinha.

Ela tentou se afastar, mas ele a segurou com força pelo braço.

— Não foge, gatinha…

O homem se aproximou para beijá-la, mas antes que pudesse tocá-la, foi arrancado com brutalidade. Ayron.

Ele o agarrou pelo pescoço e começou a socar seu rosto com violência. Aylla congelou, sem conseguir gritar, sem conseguir mover um músculo. O som dos socos se misturava à música alta da boate. O rosto do homem já estava coberto de sangue quando Ayron vociferou:

— Estou começando a acreditar que esses ratos não sabem o próprio lugar. Como você ousa tocar no que é meu?

Ela não compreendeu aquelas palavras. Meu?

— Por favor… senhor Ayron, pare! — implorou, chorando.

Ele finalmente soltou o homem, sua camisa suja de sangue. Chamou dois seguranças e ordenou:

— Joguem esse lixo pra fora.

Aylla estava paralisada. O medo lhe apertava o peito. Ayron se virou para ela, a expressão mais calma.

— Você está machucada?

Ela balançou a cabeça, negando. Ele pegou uma toalha que alguém lhe entregou e limpou as mãos, como se fosse um hábito. Como se fosse algo comum. Aylla o encarou, incrédula.

— Desculpe fazê-la presenciar isso… mas preciso lembrar esses vermes do lugar deles.

Ela ainda não conseguia falar. Ele a observava intensamente, como se quisesse ler sua alma.

— O que você é, realmente? — ela perguntou, num sussurro.

Mas antes que ele pudesse responder, Vanessa surgiu correndo:

— Amiga! O que está acontecendo?

Aylla se virou para o lado… e Ayron havia desaparecido.

— Van… eu tô bem, não se preocupa.

Mais tarde, Aylla contou tudo para Vanessa e Cristian, omitindo apenas quem a havia defendido. Disse que queria ir embora. Vanessa se ofereceu para levá-la, mas Aylla insistiu em pegar um táxi.

Ao sair da boate, colocou o casaco e foi chamar um carro, mas uma porta se abriu ao seu lado. Ayron. Ele havia trocado de camisa.

— Entra. Eu te dou uma carona.

— Não, obrigada.

— Se você não entrar, eu vou aí e te jogo dentro.

Ela empalideceu. Quem era esse homem?

Entrou no carro. Ele dirigia em silêncio. Nem perguntou o endereço, como se já soubesse. Ela comentou:

— Senhor Ayron… não vai perguntar onde moro?

— Eu sei onde você mora.

No caminho, ele perguntou se estava com fome. Ela disse que não. E então, mais calmo, perguntou:

— Por que está brava comigo, Aylla? Eu te fiz algo ruim?

Ela não respondeu. Quando chegaram, tentou sair rápido do carro, mas ele a segurou pelo pulso.

— Você está esquecendo algo.

E a beijou. Um beijo forçado, que ela revidou empurrando-o.

— Pare com isso!

Saiu correndo, ouvindo a risada dele às suas costas.

Já no apartamento, caiu no sofá. Uma mistura de raiva, vergonha e desejo a consumia. Dormiu… mas os sonhos foram todos com Ayron. Eróticos. Intensos. Acordou se sentindo a garota mais sem-vergonha do mundo.

Na semana seguinte, trabalhou exausta no hospital. Suas férias estavam próximas, mas ela não queria se afastar de suas crianças. Quando finalmente chegou o dia, decidiu visitar os pais no interior.

A viagem demorou cinco horas. Seu pai a esperava no aeroporto e ela correu para abraçá-lo. Aquele homem de 55 anos ainda era bonito e forte. No carro simples, conversaram sobre a vida, e ela omitiu o rompimento do noivado.

Ao chegar na casa, foi recebida com bolo e amor. A mãe, com seus cabelos dourados, a abraçou como se nunca mais fosse soltar. Aylla sentiu paz ali. Mas então…

— Por que Leonardo não veio com você, filha?

— Ele tinha muito trabalho, mamãe.

Seu pai sorriu e mandou que ela descansasse. Foi para seu quarto, tudo estava igual. Se deitou, mas Ayron voltou à sua mente. Por quê?

Desceu até o jardim, vestida com jeans e suéter, os cabelos presos num rabo de cavalo. Observava as flores, em paz, até ouvir um carro. Não esperava ninguém… e quando viu quem desceu, seu estômago virou.

Leonardo.

Com um sorriso cínico, ele caminhou até ela, como se nada tivesse acontecido.

— Oi, amor…

Ela respirou fundo, o ódio crescendo como fogo.

— O que você está fazendo aqui, Léo?

Duas almas que um dia se amaram… agora travavam uma guerra silenciosa.

Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP
Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP