A casa ficou em silêncio depois que o carro dos meus sogros saiu do condominio. Não um silêncio qualquer — era o tipo de silêncio que pesa nos ombros, denso de palavras que não foram ditas e da tensão que ainda pairava nos cantos da sala.
Giulia brincava no tapete da sala com seus lápis de cor, murmurando alguma musiquinha inventada. Um arco-íris estranho nascia no papel à sua frente. Um pedaço era azul. Outro, marrom. Um rosa no meio, porque ela tinha dito que "arco-íris da mamãe precisa ser bonito".
Sentei no sofá, ainda tentando respirar fundo. Os últimos dias tinham sido uma prova de resistência emocional. Cada frase da Dona Marta vinha carregada de julgamento, como se eu estivesse sempre devendo algo à memória de Elena. Às vezes eu me perguntava se, na visão dela, eu tinha falhado como marido, como pai, ou como ser humano mesmo. Talvez todos.
— Papai? — A voz de Giulia me tirou do torpor. — Posso deixar esse desenho no seu escritório?
Assenti com um sorriso cansado.
— Vai ser a ob