Serena dormia profundamente no carrinho, a respiração suave e ritmada lembrava uma melodia calma, dessas que fazem a gente esquecer, por um instante, de todo o caos do mundo. Ajeitei a manta que cobria suas perninhas e empurrei o carrinho devagar pelo corredor amplo da galeria.
Ainda era cedo, e o espaço estava quase vazio, exceto pelos funcionários que se movimentavam discretamente, organizando os últimos detalhes da reabertura. A cada passo, eu sentia uma mistura estranha de orgulho e melancolia.
As paredes agora exibiam quadros que haviam sido restaurados com paciência e amor. Alguns, os mais danificados, ainda aguardavam intervenção. Outros, por mais que tentassem, jamais voltariam a ser os mesmos. Mas eu estava aprendendo a aceitar isso. As cicatrizes também contavam histórias.
Pareis diante de uma das obras que sobreviveram ao ataque. Passei os olhos pelas cores, pela textura. Ali, em cada traço, eu reconhecia a minha própria luta. Era como olhar para um espelho da alma.
— Está