O vento de final de tarde estava mais frio do que eu esperava quando saímos do auditório. Giulia ajeitou o cabelo atrás da orelha e ajustou a alça da mochila no ombro. Caminhamos lado a lado, nossos passos ritmados ecoando no campus quase vazio.
Eu não sabia por que tinha convidado ela para me acompanhar até o estacionamento. Talvez porque, pela primeira vez em muito tempo, eu queria prolongar uma conversa. Queria ouvir mais da voz dela — calma, suave, mas com uma firmeza escondida que parecia vir de alguém que já carregou muito para a idade que tinha.
— Então… — comecei, tentando soar casual enquanto olhava para o chão — por que medicina?
Ela sorriu, olhando para frente, os olhos brilhando com o reflexo do sol que já se escondia no horizonte.
— É uma pergunta justa. Eu sempre gostei de crianças, mas o que realmente me fez escolher foi… — ela respirou fundo, como se recolhesse coragem para continuar — quando eu era pequena, eu tive câncer.
Parei por um segundo, não esperando por isso.