O avô entra no momento exato
A porta de vidro fumê da presidência foi aberta com um estalo seco. — MAS QUE PALHAÇADA É ESSA? — a voz do velho Etienne Trovato ecoou como um trovão dentro da sala. Ryan, ainda com a gravata frouxa no pescoço e a respiração ofegante, arregalou os olhos ao ver o avô parado na porta, com o olhar em brasa. Marilyn, a secretária atrevida, ajeitou a saia e se levantou num pulo, tentando cobrir o decote e o rímel borrado ao mesmo tempo. Etienne apontou para ela com o dedo firme: — Você está demitida. Ela hesitou, piscando com arrogância: — Me desculpe, senhor, mas o meu patrão não é o senhor. Ryan tentou conter o estrago: — Vovô, ela só estava— — Cala a boca, Ryan. — o velho ergueu o tom. — Você perdeu a moral no momento em que abriu a calça dentro da presidência! Ele voltou os olhos para Marilyn, cortante: — E você, além de desrespeitosa, é insubordinada. A partir de agora, você não pisa mais neste andar. Marilyn cruzou os braços. — Eu exijo que meu chefe fale isso, porque ele— — O dono da empresa sou eu. — Etienne a interrompeu, firme. — E ainda tenho autoridade para caçar a chave da sua sala e assinar sua dispensa. O RH vai providenciar sua saída antes do almoço. Vá se vestir decentemente e desapareça. Ela saiu, lançando um olhar venenoso para Ryan, que apenas se virou, furioso, para o avô. — Isso foi desnecessário. Você me expôs na frente dela. — Você se expôs. — retrucou Etienne. — Aqui é uma multinacional, não um motel de quinta categoria. A bronca Ryan se sentou na cadeira de couro, jogando o corpo para trás, visivelmente contrariado. — Invasão é o que você fez com a reputação da empresa! — Etienne se aproximou, firme. — Desde que sua avó morreu, eu deixei esse cargo para você. E desde então, o império Trovato virou manchete de fofoca. Ryan se encolheu. O nome da avó era sagrado. — E o pior — Etienne continuou — é que você está repetindo exatamente o padrão do seu pai. O sangue de Ryan ferveu. — Não me compare a ele. — Mas você é igualzinho. Playboy, mulherengo, inconsequente. Sua mãe morreu de desgosto. Eu aceitei o casamento dela com o seu pai porque ela estava apaixonada. Mas você sabe muito bem o que ela passou. Ryan ficou em silêncio. Etienne então puxou uma cadeira e sentou-se, encarando-o como se fosse o presidente de um conselho de guerra. — Sabe o que eu vim fazer aqui hoje? Vim salvar a empresa da sua destruição. E de você mesmo. As mudanças drásticas Ryan apertou os punhos. — Vai me tirar do cargo? — Ainda não. — Etienne respirou fundo. — Você ainda é parte da diretoria. Mas a partir de hoje, o RH e o jurídico vão responder diretamente a mim. E mais: vai entrar em vigor o plano de aposentadoria e plano vitalício de saúde para todos os colaboradores antigos. — Isso vai custar milhões ao caixa! — Vai custar honra. — rebateu Etienne. — Que é o que você está vendendo por prazer barato. — Você quer que eu seja um monge? — Não. Quero que você seja um homem de verdade. — Vovô, com todo respeito… — Cala a boca, Ryan. — O velho se aproximou da mesa e se colocou entre o neto e a vista panorâmica da cidade. — Esse tipo de comportamento é vergonhoso. E se você acha que o nome Trovato está à venda por um par de pernas e um sorriso pintado, está enganado. — Eu sou o CEO. O que faço fora do expediente não diz respeito... — Isso aqui é dentro do expediente! Dentro do meu império! — Ettiene esmurrou a mesa. — Como CEO, você é excelente. Mas como homem você está se tornando o que seu pai foi. E eu não vou permitir isso. Ryan levantou devagar, ajeitando os botões da camisa. Seu semblante, antes debochado, tornava-se mais tenso. — E o que você pretende fazer? Me destituir? — Não preciso. Eu sou o dono majoritário. Se quiser, vendo minhas ações, deixo você com os seus 10% e você passa a ser apenas um nome nos relatórios anuais. Ou você assume a empresa como um homem decente e honra esse nome. A escolha é sua. Ryan cruzou os braços, o maxilar travado. O orgulho e a raiva ardiam em sua pele. Mas ele conhecia o avô. Ettiene Trovato não blefa. — O que você quer? O velho recostou-se na cadeira, cruzando os dedos sobre a mesa. Seu olhar era calculista, frio, mas também cansado. — Um contrato de um ano, você vai se comportar como um Trovato. Nada de escândalos, nada de funcionárias, nada de festas que manchem a nossa reputação. E, acima de tudo, você vai se casar. Ryan riu. Um riso sem humor, cortante. — Casar? Agora você enlouqueceu. — Não enlouqueci, e já escolhi a noiva, e amanhã você vai conhecê-la. Ela tem valores, tem nome, tem preparo, você precisa de raízes, não de aventuras. — E se eu me recusar? Ettiene se inclinou para frente, os olhos faiscando. — Se você se recusar, você perde tudo. E vai trabalhar com o seu pai, aquele libertino aposentado que ainda tenta parecer jovem para as amantes. Sua mãe morreu de desgosto por causa disso. E eu não vou assistir você repetindo os mesmos erros. O neto não respondeu. O silêncio se arrastou entre os dois como uma sombra densa. Por fim, Ryan soltou um suspiro e se sentou de volta na poltrona. — Um ano. Eu aceito o contrato. Mas a noiva eu preciso conhecê-la. — Você vai, amanhã, se prepare, esteja de terno e vestido, ah e vou escolher sua nova secretaria. Será sua esposa.