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Capítulo 4: O Declínio das Raízes

A antiga floresta se aproximava, sua presença imponente crescendo no horizonte à medida que Graham guiava o carro pela estrada sinuosa. A informação dada por Louise indicava que o ladrão estaria escondido lá. Dentro do veículo, o silêncio entre ele e Genevieve era espesso, cortado apenas pelo som rítmico dos pneus sobre o asfalto.

Genevieve começou a se encolher no banco, os braços se cruzando ao redor do corpo como se quisesse se proteger de um frio inexistente. O pingente de lebre em seu peito tremia levemente, refletindo sua pulsação acelerada.

— Eve, está tudo bem? — perguntou Graham, desviando brevemente o olhar da estrada.

Ela hesitou, balançando a cabeça em um gesto afirmativo, mas seus olhos continuaram fixos nas árvores à frente. Quando Graham estava prestes a insistir, Genevieve subitamente se virou para ele, e sua voz ecoou firme, guiada por algo além dela mesma.

— Pare aqui! — A ordem soou com uma autoridade inesperada.

Graham freou bruscamente, surpreso. Antes mesmo que o carro parasse completamente, Genevieve saiu apressada, dirigindo-se à borda da estrada, onde as árvores se aglomeravam de maneira quase sufocante.

— Helen está próxima. — disse ela, seus olhos vidrados no conjunto de árvores antigas e retorcidas. Uma trilha quase imperceptível serpenteava por entre elas. Sentia o coração acelerar, e uma urgência inexplicável tomava conta de seus sentidos.

— Eve, espere! — Graham chamou, fechando as portas do carro com pressa e correndo atrás dela. Genevieve, no entanto, parecia não ouvir, desaparecendo rapidamente entre as árvores. Ele teve que acelerar o passo para alcançá-la.

O vento começou a soprar mais forte à medida que penetravam na floresta, levantando folhas e galhos que dançavam ao redor dos troncos. Quando finalmente a alcançou, o vento girou em redemoinhos ao redor dos dois, arrancando o chapéu de Graham e fazendo os cabelos de Genevieve dançarem em redemoinhos.

— O que está acontecendo? — perguntou Graham, ofegante, tentando entender a situação.

— Shh! — Genevieve sussurrou, levantando um dedo para silenciá-lo. Seus olhos estavam fixos no movimento da brisa, que parecia ter uma vida própria. — As árvores estão nos guiando até Helen.

Por um breve momento, Genevieve vislumbrou a sombra de uma mulher movendo-se entre as árvores, uma cauda sinistra se arrastando atrás dela. O vento parecia indicar a direção onde a figura se escondia. Com um sinal para Graham, Genevieve seguiu adiante.

Não demorou muito para que encontrassem Helen Crane. Ela estava enredada em uma rede de raízes, como um casulo, seu rosto pálido e olhos fechados em um estado de semiconsciência. O coração de Genevieve apertou ao ver a expressão de medo no rosto da jovem. Quando estendeu a mão para tocar as raízes, uma figura emergiu dos galhos acima de Helen, sua pele vermelha como a casca de uma sequoia, olhos verdes brilhando como esmeraldas ameaçadoras. Era a Huldra.

— A lagarta está em seu casulo. Ainda não está pronta para voar. — A voz da Huldra ecoou, carregada de uma inquietação que precede a tempestade.

Graham deu um passo para trás, aterrorizado, mas Genevieve permaneceu firme. Algo dentro dela, talvez a mesma força que a guiara até ali, deu-lhe coragem para enfrentar a criatura.

— Helen precisa voltar para casa. — disse Genevieve, sua voz suave, mas cheia de determinação.

A Huldra saltou dos galhos, aterrissando suavemente diante de Genevieve. As duas se encararam, ambas da mesma estatura, como reflexos distorcidos uma da outra.

— Quando a rosa retornar ao jardim, será podada para que a grande árvore sobreviva mais uma estação. — A voz da Huldra era enigmática, mas Genevieve compreendeu o significado oculto.

— Por favor. — Genevieve suplicou, seus olhos se suavizando. — Precisamos quebrar esse ciclo.

A Huldra balançou a cabeça, e as flores de hibisco em seu rosto brilharam com a mesma intensidade de seus olhos.

— A lagarta está segura no casulo. Apenas a Mãe dos Bosques pode permitir que a borboleta voe.

Genevieve olhou ao redor, sentindo o peso das árvores antigas, suas folhas murmurando segredos que mal conseguia entender. Fechou os olhos por um momento, concentrando-se, e então, como se estivesse falando diretamente com a floresta, ela suplicou.

— Mãe dos Bosques, houve um terrível mal-entendido aqui. Prometo que nenhum mal recairá sobre Helen Crane.

O vento pareceu responder, sussurrando em seus ouvidos.

— A flor retornará ao jardim para arrancar a casca e expor a seiva podre.

E com isso, a Huldra desapareceu. As raízes que prendiam Helen começaram a recuar, afundando na terra, libertando-a. Helen piscou lentamente, despertando de seu estado confuso, e olhou ao redor com olhos arregalados.

Graham se apressou a seu lado, ajudando-a a se levantar com cuidado.

— Helen, sou Graham, e esta é Genevieve. Somos investigadores. Sua mãe nos contratou para encontrá-la. Você esteve desaparecida por quase três dias.

Helen assentiu, tentando processar as palavras dele, seus olhos ainda procurando algo nas sombras das árvores.

Genevieve se aproximou, tocando as mãos geladas de Helen. Quando o fez, seus olhos se enevoaram, e uma visão a envolveu — viu a mulher do retrato no escritório de Louise, Thelmira Crane, e todos os rituais de sacrifício que Thelmira realizara ao longo dos séculos para garantir sua imortalidade. As palavras da Huldra faziam sentido completo agora. Quando Genevieve voltou a si, encontrou os olhos de Helen, agora com uma determinação renovada.

— Não se preocupe, não deixaremos que esse destino recaia sobre você. — Ela se virou para Graham. — Carregue-a até o carro. As pernas dela estão fracas demais para caminhar até lá. Vou explicar tudo no caminho para Odessa.

Graham não questionou. Pegou Helen nos braços, que descansou a cabeça em seu ombro, finalmente relaxando. Genevieve liderou o caminho de volta, seu coração ainda pesado com as revelações que presenciara.

Assim que chegaram ao carro, Graham acomodou Helen no banco de trás, certificando-se de que ela estava confortável. Ele entrou no carro, e Genevieve tomou seu lugar ao lado dele.

— O que você viu quando seus olhos ficaram enevoados? — perguntou Graham, enquanto ligava o carro e começava a dirigir de volta para a Mansão Crane.

Genevieve olhou para Helen no banco de trás, antes de responder.

— A verdade. Louise Crane mentiu sobre quem realmente é. Na verdade, ela é Thelmira Crane, a mulher do retrato. Por quase duzentos anos, ela vem sacrificando cada uma das matriarcas da família — suas filhas que herdam a propriedade e a fortuna — para a Huldra. O colar que Helen está usando concede imortalidade à Thelmira, e ela então assume a forma da mulher sacrificada.

Graham engoliu em seco, sentindo um desconforto profundo se instalar em seu estômago. Embora este não fosse o primeiro caso que lidavam com o sobrenatural, a crueldade de Thelmira era chocante. De repente, tudo fazia sentido: a obsessão de Thelmira com o colar, mais do que com a própria filha, e sua certeza de que Helen estava na floresta.

— Quando Thelmira realiza o ritual de sacrifício? — ele perguntou, com a voz carregada de preocupação.

— No equinócio de primavera. — Genevieve respondeu, seus olhos fixos no horizonte, onde o sol começava a se pôr.

— À meia-noite. O equinócio é amanhã. — Graham comentou, lançando um olhar preocupado para Helen, que dormia no banco de trás. — O que vamos fazer?

— Confrontar Thelmira Crane. — repetiu Genevieve, com uma firmeza inabalável em sua voz. — Mas não do jeito que ela espera.

Graham assentiu, focado na estrada à frente. Seus pensamentos giravam ao redor do que haviam descoberto e do perigo iminente que Helen enfrentava.

Na Mansão Crane, Louise observava distraidamente o labirinto de cercas vivas pela janela do escritório, conforme o crepúsculo tomava seu lugar no céu. Uma sensação aguda e inescapável começou a se espalhar pelo peito, e visões intensas e perturbadoras a tomaram, obrigando-a a se ajoelhar no chão.

Imagens fragmentadas se desenrolavam em sua mente: a figura da Huldra, a lua cheia iluminando a floresta. A visão nublada de Louise mostrava as raízes se entrelaçando em torno de Helen, e o poder da Mãe dos Bosques que parecia ecoar pelo ar, sussurrando segredos que ninguém mais podia ouvir.

Louise tentou se levantar, mas seu corpo se recusava a obedecer. Algo estava errado. A conexão que ela sempre tivera com o coração da Huldra estava muito enfraquecida, como se as raízes que a sustentavam estivessem apodrecendo. As visões tornaram-se mais intensas, agora mostrando Genevieve libertando Helen, as raízes recuando diante do apelo da jovem investigadora.

— Isso não pode acontecer. — Louise pensou, o pânico se instalando. Havia subestimado Genevieve, algo que nunca deveria ter feito. Um tremor percorreu sua espinha enquanto tentava se concentrar, mas as visões eram implacáveis. Ela viu o colar de raízes e folhas no pescoço de Helen, viu-se sendo confrontada, revelada.

Então, a visão mudou de novo, e ela se viu diante de um espelho antigo, o reflexo mostrando sua verdadeira forma — Thelmira Crane, velha e cansada, mantida viva apenas pelos sacrifícios que fez ao longo dos séculos. A juventude roubada de suas descendentes escorria dela como areia por entre os dedos. A inevitável decadência a consumia, e por trás dela, a sombra da Huldra crescia, seus olhos verdes brilhando com fúria contida.

Louise tentou se agarrar à ilusão de poder, mas sentia o colar apertando seu pescoço como uma corrente. Sussurrou a voz da Huldra em sua mente. — Sua rosa está se rebelando, e o jardim está queimando.

Desesperada, Louise levantou-se finalmente, apoiando-se na escrivaninha do escritório. Respirou fundo, tentando afastar o medo que a sufocava.

O vento fora da mansão começou a uivar, como se a própria floresta estivesse em tumulto. As luzes do candelabro oscilaram violentamente, e uma sombra rastejou pelas paredes do escritório, tomando a forma da Huldra.

A voz da Huldra sibilou no silêncio do cômodo. — As raízes apodreceram. Quando as raízes morrem, a árvore morre.

Louise virou-se para a sombra, seu rosto pálido e olhos arregalados. Sentiu uma força esmagadora drenando sua energia.

— Não, eu... — Sua voz falhou.

A Huldra avançou, sua forma sólida o suficiente para agarrar Louise pelo braço. O toque queimava como brasas. Louise sentiu seu pescoço apertar, como se raízes estivessem tentando sufocá-la.

Huldra murmurou. — A borboleta precisa voar, e a árvore podre precisa cair. — Seus olhos penetraram os de Louise, refletindo todo o terror que ela sentia.

Louise tentou resistir, mas a força da Huldra era implacável. Sua visão começou a escurecer, e o medo tomou conta de cada fibra de seu ser. Sentiu-se afundando, como se estivesse sendo puxada para as profundezas da terra, onde a escuridão e a podridão aguardavam para reclamá-la.

O vento fora da mansão cessou abruptamente, e a floresta ficou em um silêncio sepulcral. A Huldra desapareceu na escuridão. Louise então se levantou lutando contra a força que a queria enterrar no chão, ainda não se via derrotada. O ritual ainda poderia ser feito, ela sentia que o coração de raízes, e sua filha Helen, estavam se aproximando da mansão.

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