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Capítulo 2: O Segredo das Raízes

A neblina se arrastava lentamente sobre as ruas de Odessa, envolta em um manto de umidade persistente que ainda se agarrava após o derretimento das últimas camadas de gelo. Era o fim do inverno, e a primavera parecia hesitar em assumir seu lugar. O sol, pálido e distante, mal conseguia romper as nuvens pesadas que cobriam os telhados inclinados e as chaminés fumegantes da cidade.

O único som em evidência naquela manhã era o ronco suave de um carro passando pelas ruas tranquilas. Um elegante Bugatti Royale preto avançava lentamente, como se quisesse passar despercebido pela vizinhança. O motorista e o passageiro, ocultos pela penumbra, observavam cada detalhe ao seu redor, trocando comentários breves sobre o ambiente. As casas de arquitetura gótica, com seus telhados pontiagudos e janelas estreitas, erguiam-se silenciosas, com olhares curiosos dos moradores que se escondiam parcialmente atrás das cortinas pesadas, como se fossem os guardiões ocultos das ruas estreitas e sombrias.

Após alguns minutos, o carro virou em uma rua com uma placa que dizia "Thelmira Crane". A rua, aparentemente deserta, parecia suspensa em um instante congelado, onde o tempo hesitava em avançar. As poucas árvores nuas, com galhos retorcidos e esfolados, estendiam-se como dedos ossudos em direção ao céu. As nuvens começavam a se dissipar, permitindo que raios de sol leves evaporassem o orvalho do asfalto.

— Imagino que seja essa rua mesmo — comentou uma voz feminina vinda do carro. — Sinto uma energia estranha emanando deste lugar, como se algo antigo e poderoso estivesse tentando se libertar. — A mulher falava com uma hesitação quase melódica, como se temesse que mais alguém a escutasse além do homem ao seu lado.

O carro parou ao lado de um poste e os dois saíram, observando a mansão da família Crane do outro lado da rua. Sua construção gótica vitoriana erguia-se imponente em relação às demais casas. A mulher, fascinada e inquieta, fixava o olhar na fachada de pedra escura, exalando antiguidade e poder. Através das janelas altas e estreitas, iluminadas, podiam-se ver sombras se movendo de um quarto a outro, provavelmente empregados da casa.

Ao atravessarem a rua em direção à mansão, os muros altos de pedra, semelhantes a uma fortaleza, envolviam o terreno. Lanternas antigas lançavam uma luz amarelada e suave sobre o portão de ferro forjado, criando um aspecto convidativo, mas ao mesmo tempo ameaçador, com a mansão no final do caminho de paralelepípedos.

O homem observava atentamente o jardim descuidado, tentando captar cada detalhe com seus olhos castanhos. Seu sobretudo verde balançava suavemente, assim como a aba de seu chapéu fedora e o vestido cinza da mulher, conforme a brisa matinal soprava.

Ele lançou um olhar breve à mulher ao seu lado. Seu cabelo preto estava impecável, intocado pelo vento, e o colar de prata com um pingente de lebre lançava feixes de luz suaves conforme os raios do sol o atingiam. A expressão da mulher, ao observar as árvores e seus galhos retorcidos, refletia determinação e cautela, como se estivesse ouvindo algo além da brisa. Ele então colocou a mão grande sobre o ombro dela, e ela se virou para ele, seus olhos castanhos com uma expressão melancólica.

— Eve, está tudo bem? — perguntou ele com ternura.

— Sob o manto da primavera, o passado e o presente se entrelaçam como raízes antigas, buscando a essência da vida eterna. — murmurou a mulher, com uma voz melódica e trêmula. Então balançou a cabeça, como se despertasse de um transe, e olhou para ele com uma expressão que indicava que as palavras estavam prestes a sair, mas ficaram na garganta. — Graham? — Ela perguntou, apertando os olhos e focando nele como se o mundo ao redor tivesse desaparecido. — Aconteceu alguma coisa?

Antes que Graham pudesse responder, a porta de madeira maciça se abriu, e um mordomo de estatura baixa, com marcas de expressão e cabelos grisalhos, os cumprimentou.

— Bom dia, senhor e senhorita. A senhora Crane os aguarda em seu escritório. — Disse ele, com a voz rouca, fazendo um gesto para que entrassem. Genevieve e Graham o seguiram, e o mordomo fechou a porta com rapidez. — Por favor, sigam-me.

O interior da mansão estava repleto de sons de passos e murmúrios vindos do andar superior. No centro do hall, uma escadaria majestosa de madeira maciça se enroscava em uma curva perfeita. A madeira escura, polida ao longo dos séculos, refletia a luz do candelabro de cristal no teto alto, cujas velas ainda estavam acesas apesar da luz do dia.

O mordomo guiava os dois pelo hall, e Genevieve sentia uma inquietação crescente. Seu coração batia em compasso com um relógio antigo, cuja badalada era quase inaudível. Um aroma suave de raízes podres e flores mortas vinha do segundo andar. — As paredes são como as guardiãs de inúmeros segredos. — murmurou Genevieve, tão baixo que Graham não a ouviu. Ele estava absorto na visão das paredes adornadas com cabeças de animais, como cervos e alces, e emolduradas com quadros de eras passadas, com figuras severas que pareciam observá-los atentamente.

Ao chegarem ao final do corredor, encontraram uma porta de ébano. O mordomo bateu suavemente três vezes. — Pode entrar. — A voz feminina áspera ecoou do outro lado. O homem abriu a porta, revelando uma sala quadrada.

A parede esquerda era ocupada por uma estante de livros, enquanto a direita exibia um quadro com o mapa da cidade de Odessa, ao lado de um retrato que capturava uma figura enigmática e imponente. A mulher no retrato possuía um rosto angular e bem definido, com uma expressão séria e melancólica. Seus olhos cinza profundo quase prateado eram penetrantes, e sua pele pálida contrastava com o cabelo escuro e liso, caindo em uma linha reta. Ela usava um vestido verde clássico, com mangas longas e rendas, e um anel dourado com a letra "C" no dedo médio.

Abaixo do retrato, duas poltronas de mogno e veludo verde escuro estavam dispostas, e no centro da sala havia um tapete de linho verde, adornado com flores de hibisco e folhas douradas. Uma grande escrivaninha de mogno dominava o espaço, com uma máquina de escrever preta e documentos organizados. À esquerda da mesa, havia uma caneta de tinteiro preta, e à direita, uma lâmpada vitoriana e um telefone preto antigo. Atrás da mesa, uma poltrona mais alta, semelhante às outras, tinha um elegante vitrô com vista para o jardim. O jardim mostrava um labirinto de cerca viva e árvores com galhos tortuosos e folhas recém-crescidas. O local era iluminado por um candelabro de cristal, idêntico ao do hall de entrada.

Sentada na poltrona estava uma mulher que, apesar de sua expressão séria, compartilhava uma essência com a figura do retrato. Seus olhos azuis vibrantes, carregados de amargura, refletiam um oceano de segredos turbulentos. Seu vestido vitoriano azul destacava seus olhos e brincos dourados. Sua postura era de controle, e suas mãos finas repousavam delicadamente sobre a escrivaninha. Um aroma de flores mortas e raízes podres pairava no ar, e Genevieve sentia uma conexão intuitiva com os pensamentos ocultos da mulher.

— Bom dia, devo me apresentar. Sou Louise Crane, a proprietária desta casa e a responsável por convocar seus serviços. — Louise se levantou brevemente e estendeu a mão para Graham, que parecia completamente absorvido pela presença imponente de Louise, como se estivesse em transe. Ele rapidamente recobrou a compostura e apertou a mão dela, seguido por Genevieve.

— O prazer é nosso, Sra. Crane — disse Graham com firmeza. — Sou Graham Sullivan, o investigador particular que a senhora contratou, e esta é minha assistente pessoal, a senhorita Genevieve Hester.

— Ao seu dispor. — Genevieve sorriu brevemente, recebendo apenas uma resposta severa de Louise, que então se sentou novamente.

— Vamos direto ao ponto. — Louise olhou para eles com uma intensidade penetrante. — Como informei pelo telefone, um colar meu foi roubado há duas noites, e minha filha, Helen Crane, também desapareceu. — Ela fez uma pausa, respirando profundamente, com um ar de amargura evidente. — O crime ocorreu em meu quarto, onde o ladrão quebrou a janela e quase destruiu o local. As autoridades acreditam que o responsável ainda esteja na cidade, possivelmente escondido na floresta. — Louise inclinou-se para frente, a expressão endurecida. — Preciso que encontrem o colar e minha filha até hoje a noite.

— Certamente, senhora. Faremos o possível para trazer sua filha e o colar de volta rapidamente. — Graham respondeu com firmeza, enquanto Genevieve observava em silêncio. — Podemos ver a cena do crime para coletar algumas informações?

Genevieve notou a dor sutil na expressão de Louise, apesar de sua tentativa de disfarçar. Seus olhos, profundos e carregados de segredos, revelavam mais do que ela estava disposta a mostrar.

— Não será possível. As autoridades já verificaram a área e o quarto está interditado. — Louise respondeu de forma ríspida.

— Compreendo, Sra. Crane, mas gostaria de dar uma olhada pessoalmente. — insistiu Graham.

— Não é necessário. Todas as informações essenciais foram fornecidas. — Louise respirou fundo. — Tragam o colar e minha filha de volta. Não me importam os métodos. Apenas façam o que eu pedi. — Ela cerrou os punhos e bateu na mesa, com uma pequena lágrima quase visível em seu rosto. — Depois eu lido com o sequestrador.

— Desculpe, Sra. Crane, mas está se sentindo bem? — Genevieve perguntou cautelosamente, notando a agonia em Louise.

— Estou perfeitamente bem, agradeço por perguntar. — Louise respondeu de forma ríspida. — Agora, por favor, saiam. — Ela chamou o mordomo, que estava de pé diante da porta. — Maurício, acompanhe-os até a saída.

— Sim, senhora. — Maurício respondeu, indicando a saída.

— Agradecemos por seu tempo, Sra. Crane. — Graham e Genevieve se despediram e foram guiados para fora. Assim que a porta se fechou, eles se entreolharam, compartilhando hipóteses silenciosas.

— Boa sorte na busca pela senhorita Crane. — O mordomo desejou, antes de fechar a porta atrás deles.

Graham e Genevieve se afastaram da mansão e se dirigiram para a lateral, onde homens trabalhavam empilhando troncos e galhos cortados. No segundo andar, dois homens trocavam os vidros das janelas. Evitando ser vistos, eles saíram da propriedade e entraram no carro.

— O que achou da Sra. Crane? — Perguntou Graham enquanto ligava o carro.

— Ela está tentando manter o controle da situação, mas está claramente atormentada. — Genevieve olhou para a mansão pelo vidro do carro. — Ela esconde algo grave. Não demorará para que seu segredo seja revelado.

— Antes de entrarmos na mansão, você murmurou algo sobre "o manto da primavera, raízes do passado e essência da vida eterna". Lembra o que isso significa? — Graham perguntou, curioso.

— Não me lembro exatamente, mas minha intuição diz que a floresta vai nos ajudar a entender. — Genevieve continuava a encarar a mansão. — Parece que há um significado maior por trás disso.

— Vamos descobrir em breve. — Graham respondeu, enquanto dava partida no carro e se dirigiam para deixar a rua Thelmira Crane.

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