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Capítulo 3: O Legado das Raízes

Os raios suaves do sol penetravam a densa copa das árvores, iluminando a floresta em tons de verde vibrante. Animais passavam a poucos metros de Helen, mas, curiosamente, pareciam não perceber sua presença. Sentada encostada no alto carvalho, a menina observava o ambiente ao redor, tentando acalmar a mente agitada. O vento soprava suavemente entre as árvores e arbustos, levantando as folhas secas e levando-as para longe. Flores novas desabrochavam, e o verde tomava conta da paisagem, uma visão que contrastava com as ruas gélidas de Odessa, onde o inverno ainda se recusava a ceder espaço para a primavera.

— Odessa... — Helen murmurou para si mesma. Ela estaria muito longe de casa? O colar de coração de raízes em seu pescoço ainda pulsava, em um ritmo que ecoava o seu próprio.

Os pensamentos de Helen voltaram-se para a visão que a Huldra lhe havia mostrado. Ela se lembrava das histórias que sua avó, Honória, contava sobre Thelmira Crane. Thelmira, a primeira matriarca da família, tinha descoberto uma cura para a doença que assolara Odessa pouco depois de sua fundação. Com raízes e folhas de uma árvore desconhecida, ela sobreviveu à peste que levou sua mãe e seu irmão recém-nascido, e a família Crane prosperou desde então. Sob sua liderança, Odessa floresceu, e as mulheres da família mantiveram o sobrenome Crane, em honra àquela que trouxe prosperidade. Cada geração teve uma matriarca que carregava o legado de Thelmira.

Helen respirou fundo, os olhos azuis fixos no céu límpido. A imagem heroica que sua avó pintava de Thelmira Crane não correspondia ao que a Huldra lhe mostrara. Na visão, Thelmira estava envolta em uma atmosfera sombria, invocando forças antigas e desconhecidas para realizar sua vontade.

Perdida nesses pensamentos, Helen mal percebeu a Huldra se aproximar, silenciosa como sempre. A criatura lhe ofereceu uma grande folha contendo água. Helen, agora consciente de sua sede e fome, bebeu rapidamente. A Huldra observava o colar com seu coração pulsante de raízes, e sua cauda, terminada em uma pelagem, balançava freneticamente. Os olhos verdes da criatura estavam fixos em Helen, como se ela conhecesse o destino da jovem sentada à sua frente.

Helen sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Ela tentou encarar os olhos da Huldra, tentando desvendar seus pensamentos, mas era como se uma força invisível a impedisse de vê-la com clareza. A criatura se abaixou na frente de Helen, como fizera antes para mostrar a visão, mas dessa vez segurou o coração de raízes com as duas mãos.

— Mais uma flor será ceifada para que a antiga árvore sobreviva — murmurou a Huldra, sua voz misturando-se ao som do vento entre as árvores. Um aroma de grama recém-cortada permeou o ar, tornando-se cada vez mais forte. Ela olhou profundamente nos olhos de Helen e, com a outra mão, acariciou os longos cabelos da menina. — A casca da árvore sempre se renova a cada estação, mas sua seiva podre nunca deixará seu interior.

Conforme a Huldra falava, a cabeça de Helen começou a latejar. O cheiro de grama tornava-se enjoativo, e uma vertigem tomou conta dela. O ambiente ao redor mudou subitamente. Os cervos que antes percorriam a floresta haviam desaparecido. Em seu lugar, a figura de Thelmira Crane surgiu diante da Huldra, um sorriso fascinado nos lábios. De dentro de sua manga, Thelmira puxou uma adaga pequena e afiada. Em um movimento rápido, ela atacou a Huldra, que caiu ao chão com um grito que soava como uma tempestade prestes a se formar. Onde a lâmina tocava, a pele da Huldra queimava, e Thelmira, com uma expressão sombria e frenética, virou a criatura de costas.

Nas costas da Huldra, havia grandes buracos, semelhantes a tocas de animais em troncos de árvores. Thelmira enfiou a mão em um desses buracos, e a Huldra se debateu em agonia. Com um esforço feroz, Thelmira arrancou um coração pulsante de raízes e folhas, soltando a criatura, que chorava lágrimas douradas.

— Pequena árvore do bosque, atenda às minhas ordens, pois meu desejo se torna o seu desejo — Thelmira murmurou, levando o coração até a boca. — A seiva dourada da árvore jamais deixará seu interior, mas a cada estação sua casca será renovada. As flores ao redor serão ceifadas para que apenas a grande árvore sobreviva!

A visão mudou novamente. Agora, era Thelmira, já idosa, entregando sua filha, Irina Crane, para a Huldra. Raízes envolveram a menina, sugando sua vida até que seu corpo secasse como uma folha e desaparecesse. Então, a Huldra transferiu as raízes para o colar de coração, e Thelmira começou a rejuvenescer, assumindo a forma de sua filha morta. Helen assistia, horrorizada, enquanto Thelmira repetia o ritual ao longo dos anos, assumindo a forma de cada matriarca da família, até chegar à sua avó Honória... e por fim, à sua própria mãe.

Não fora sua avó Honória que havia morrido cinco anos atrás, mas sim sua mãe, cuja aparência Thelmira agora usava. A revelação fez a cabeça de Helen girar. O coração de raízes em seu peito parecia cada vez mais pesado, pulsando com uma força ameaçadora. Helen finalmente entendeu as palavras da Huldra: “Mais uma flor será ceifada para que a antiga árvore sobreviva... A casca da árvore sempre se renova a cada estação, mas sua seiva podre nunca deixará seu interior...”

Essas palavras ecoaram em sua mente antes que ela desmaiasse. A Huldra, tomada por uma súbita compaixão pela garota e temendo por sua segurança, envolveu Helen com as raízes do carvalho, protegendo-a, mas também prendendo-a em um estado de semiconsciência. Nesse estado, Helen viu repetidamente o ritual do equinócio de primavera, onde Thelmira Crane realizava o sacrifício para alcançar a imortalidade tão desejada.

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