O vento da manhã chegava suavemente, balançando as copas das árvores, enquanto os pássaros cantavam, anunciando um novo dia. Helen sentiu um leve calor pousar em seu rosto, em contraste com o solo úmido sobre o qual estava deitada, a terra e a grama molhadas pelo orvalho. A jovem abriu os olhos e, por um instante, ficou cega pela luz solar do início da manhã, mas logo seus olhos se adaptaram, permitindo-lhe observar o ambiente ao redor.
Seu vestido verde-claro estava sujo de terra, folhas secas e grama, além de rasgado em algumas partes. O colar de raízes repousava sobre seu peito, pulsando suavemente em sincronia com seu próprio coração. Ao se mover, Helen começou a sentir uma leve ardência em seu corpo e percebeu que seus braços e pernas estavam cobertos de cortes cicatrizados e sangue seco, misturados com terra e algumas folhas. O ambiente ao seu redor estava sereno. Helen ainda podia escutar o canto dos pássaros e o movimento dos animais da floresta caminhando sobre a relva alta. Lentamente, ela se sentou, encostando-se no tronco de uma árvore que parecia ser um carvalho bem alto, com os galhos movendo-se suavemente ao ritmo da brisa. Embora estivesse em um local desconhecido, Helen se sentia tranquilizada pela paz da floresta, que contrastava com a inquietação da noite anterior. Flashes do que havia acontecido passavam por sua mente – a captura do coração, a criatura na árvore, as raízes a imobilizando – mas a serenidade do ambiente fazia parecer que sua alma pertencia àquele lugar. Tentando se levantar, Helen perdeu o equilíbrio, caindo novamente e batendo a cabeça no tronco da árvore. Um grunhido de dor escapou de seus lábios, e então ela ouviu o som de passos pisando em galhos e folhas secas. — Mãe? — a jovem chamou com a voz trêmula, enquanto uma lágrima escorria por seu rosto. Seu coração começou a bater freneticamente, e o colar pulsava na mesma medida. A serenidade que a floresta proporcionava começava a se dissipar. — Mãe, é você? — Helen tentou falar mais alto, mas sua voz saiu trêmula e abafada. Respirou fundo e, reunindo coragem, gritou o mais alto que conseguiu. — Mãe, estou aqui! — Ela tomou fôlego novamente. — Mãe! Estou aqui atrás das árvores! — Sua voz hesitou por um momento, quando percebeu que os galhos a alguns metros à sua frente começavam a se mover. — Eu... não consigo me levantar...— A figura por trás dos galhos finalmente se revelou, ficando em pé bem à frente de Helen. Era a mesma criatura da noite anterior – ela a reconheceu pelos olhos verdes – mas havia algo diferente. O cheiro de raízes podres e flores mortas havia desaparecido; agora, ela emanava o aroma fresco de grama recém-cortada e folhas de eucalipto. A criatura era uma mulher de beleza selvagem. Seus longos cabelos, da cor da terra molhada, caíam em cascata, adornados com folhas verdes presas aqui e ali. Seu rosto expressava uma certa inquietação e curiosidade, como se Helen lhe parecesse familiar, mas ao mesmo tempo estranha. Havia algumas pinturas verdes em seu rosto, formando desenhos de flores de hibisco em suas bochechas. Seus lábios, finos como os de Helen, se contraíram em uma expressão indecifrável. A mulher era alta e esguia, nua, com os cabelos cobrindo os seios. Sua pele era vermelha, como o tronco de uma sequoia, e tinha a mesma textura rugosa da casca de uma árvore. Helen tentou conter o tremor que tomou conta de seu corpo. Suas pupilas se dilataram diante da visão misteriosa e fascinante da criatura, e seu coração continuou a bater freneticamente, em perfeita sincronia com o colar. Hesitante, a mulher se aproximou de Helen, agachando-se na sua frente. Ela tocou o colar de raízes que pulsava com a mão esquerda e, em seguida, pousou a mão sobre o peito de Helen, com uma expressão de melancolia. Lágrimas douradas, como seiva de árvore, começaram a escorrer dos olhos da criatura. — Esse coração é seu? — Helen perguntou com a voz trêmula, e a criatura respondeu com um breve aceno de cabeça. — O que você é? — Helen observou as lágrimas douradas da mulher secarem e desaparecerem, e então a criatura tocou sua testa, logo acima das sobrancelhas finas e escuras. Um arrepio percorreu o corpo de Helen, seguido por um clarão que cegou seus olhos. De repente, ela se viu em uma visão. Era uma noite de lua crescente no equinócio de primavera, e estava em uma clareira no meio da floresta. Os cervos corriam ao redor, enquanto uma figura sombria caminhava de braços erguidos, recitando um poema: "Filha dos Bosques e Guardiã da Natureza, eu a invoco em tua grandeza. Venha até mim em tua grandiosidade, me abençoe com tua próspera imortalidade! Venha até mim, Huldra, eu a invoco pelos poderes do elemento terra sob o céu abençoado pelo ar, pela luz da lua e lagos da floresta, venha até mim, Huldra!" Quando a luz da lua brilhou intensamente e o vento forte começou a soprar, a mulher da visão – a mesma que estava agora diante de Helen – apareceu. Seu rosto sombrio foi revelado, e Helen reconheceu aquela mulher. Ela vestia um vestido com uma capa do início do século XIX, de cor verde escura e preto. Helen já tinha visto essa mesma figura várias vezes em um retrato no escritório de sua mãe na mansão: era uma ancestral sua, uma das primeiras moradoras de Odessa. Seu nome era Thelmira Crane. Por que ela estaria realizando esse tipo de ritual? Helen se perguntou. Mas antes que pudesse ponderar mais, a visão se desfez com um novo clarão, cegando-a novamente. Quando seus olhos se ajustaram, percebeu que a mulher – a Huldra – havia desaparecido, Helen olhou ao redor, atônita, o peito ainda arfando. Onde antes estava a criatura, restava apenas um rastro de folhas úmidas e um delicado broto verde crescendo no chão. Ela estendeu a mão, tocando o broto. Estava quente, como um sussurro vivo.