As ruas desertas da cidade de Odessa ainda estavam sob a influência das brisas gélidas do final do inverno, que carregavam algumas folhas secas restantes do outono. As árvores, inclinadas sobre as casas, pareciam ecos de um mistério antigo que tentava vir à tona. O céu noturno, de um azul-escuro profundo, estava salpicado com algumas nuvens, e poucas estrelas eram visíveis. No entanto, a lua crescente, com sua luz pálida, iluminava toda a cidade, trazendo consigo uma aura de renovação e o presságio de um novo ciclo, já que o equinócio de primavera se aproximava. A mansão da família Crane se destacava imponente em meio às outras casas da vizinhança. Sua construção antiga, de arquitetura gótica e vitoriana, possuía uma fachada de pedra escura, decorada com detalhes arquitetônicos que evocavam uma sensação de antiguidade e poder. As janelas altas e estreitas, iluminadas por uma luz amarelada e quente, aos poucos iam se apagando, trazendo consigo uma atmosfera menos convidativa. A únic
O vento da manhã chegava suavemente, balançando as copas das árvores, enquanto os pássaros cantavam, anunciando um novo dia. Helen sentiu um leve calor pousar em seu rosto, em contraste com o solo úmido sobre o qual estava deitada, a terra e a grama molhadas pelo orvalho. A jovem abriu os olhos e, por um instante, ficou cega pela luz solar do início da manhã, mas logo seus olhos se adaptaram, permitindo-lhe observar o ambiente ao redor. Seu vestido verde-claro estava sujo de terra, folhas secas e grama, além de rasgado em algumas partes. O colar de raízes repousava sobre seu peito, pulsando suavemente em sincronia com seu próprio coração. Ao se mover, Helen começou a sentir uma leve ardência em seu corpo e percebeu que seus braços e pernas estavam cobertos de cortes cicatrizados e sangue seco, misturados com terra e algumas folhas. O ambiente ao seu redor estava sereno. Helen ainda podia escutar o canto dos pássaros e o movimento dos animais da floresta caminhando sobre a relva alta
A neblina se arrastava lentamente sobre as ruas de Odessa, envolta em um manto de umidade persistente que ainda se agarrava após o derretimento das últimas camadas de gelo. Era o fim do inverno, e a primavera parecia hesitar em assumir seu lugar. O sol, pálido e distante, mal conseguia romper as nuvens pesadas que cobriam os telhados inclinados e as chaminés fumegantes da cidade.O único som em evidência naquela manhã era o ronco suave de um carro passando pelas ruas tranquilas. Um elegante Bugatti Royale preto avançava lentamente, como se quisesse passar despercebido pela vizinhança. O motorista e o passageiro, ocultos pela penumbra, observavam cada detalhe ao seu redor, trocando comentários breves sobre o ambiente. As casas de arquitetura gótica, com seus telhados pontiagudos e janelas estreitas, erguiam-se silenciosas, com olhares curiosos dos moradores que se escondiam parcialmente atrás das cortinas pesadas, como se fossem os guardiões ocultos das ruas estreitas e sombrias.Após
Os raios suaves do sol penetravam a densa copa das árvores, iluminando a floresta em tons de verde vibrante. Animais passavam a poucos metros de Helen, mas, curiosamente, pareciam não perceber sua presença. Sentada encostada no alto carvalho, a menina observava o ambiente ao redor, tentando acalmar a mente agitada. O vento soprava suavemente entre as árvores e arbustos, levantando as folhas secas e levando-as para longe. Flores novas desabrochavam, e o verde tomava conta da paisagem, uma visão que contrastava com as ruas gélidas de Odessa, onde o inverno ainda se recusava a ceder espaço para a primavera.— Odessa... — Helen murmurou para si mesma. Ela estaria muito longe de casa? O colar de coração de raízes em seu pescoço ainda pulsava, em um ritmo que ecoava o seu próprio.Os pensamentos de Helen voltaram-se para a visão que a Huldra lhe havia mostrado. Ela se lembrava das histórias que sua avó, Honória, contava sobre Thelmira Crane. Thelmira, a primeira matriarca da família, tinha
A antiga floresta se aproximava, sua presença imponente crescendo no horizonte à medida que Graham guiava o carro pela estrada sinuosa. A informação dada por Louise indicava que o ladrão estaria escondido lá. Dentro do veículo, o silêncio entre ele e Genevieve era espesso, cortado apenas pelo som rítmico dos pneus sobre o asfalto.Genevieve começou a se encolher no banco, os braços se cruzando ao redor do corpo como se quisesse se proteger de um frio inexistente. O pingente de lebre em seu peito tremia levemente, refletindo sua pulsação acelerada.— Eve, está tudo bem? — perguntou Graham, desviando brevemente o olhar da estrada.Ela hesitou, balançando a cabeça em um gesto afirmativo, mas seus olhos continuaram fixos nas árvores à frente. Quando Graham estava prestes a insistir, Genevieve subitamente se virou para ele, e sua voz ecoou firme, guiada por algo além dela mesma.— Pare aqui! — A ordem soou com uma autoridade inesperada.Graham freou bruscamente, surpreso. Antes mesmo que o
Genevieve e Graham avançavam pela rua que levava à Mansão Crane. O céu noturno parecia oprimido por nuvens densas, e um silêncio inquietante pairava no ar, como se a própria natureza aguardava com expectativa o desenrolar dos eventos. Genevieve sentiu um arrepio correr pela espinha, seus instintos alertando que algo fundamental havia mudado. Ao longe, a mansão se erguia majestosa, mas algo em sua aura parecia diferente, menos opressiva, como se a escuridão antiga que envolvia a propriedade estivesse, aos poucos, se dissipando.— Estamos chegando. — disse Graham, com uma nota de ansiedade perceptível em sua voz. Genevieve apenas assentiu, o olhar fixo na estrada à frente, determinada a por fim ao ciclo de dor que atormentava a família Crane por gerações.Ao adentrarem o hall da mansão, foram recebidos pelo crepitar solitário da lareira na sala ao lado. A figura de Louise Crane — ou melhor, Thelmira Crane — estava de pé, apoiada em uma bengala, a luz do fogo desenhando sombras alongada