AlbertoAlberto estacionou o carro com brutalidade contida, os dedos ainda trêmulos em torno do volante. O alerta no celular tinha sido breve."Samanta desmaiou no trabalho, está sendo levada ao Hospital Colombo. Acho que é sério."Era Priscila quem tinha ligado, a voz assustada, quase em prantos. Sem pensar duas vezes, ele acionou seus contatos e exigiu que a levassem para a Clínica Portuguesa, queria os melhores cuidando dela. Não toleraria qualquer negligência, e ela precisava ser acompanhada por quem conhecia seu estado real de saúde.Ao entrar pelas portas de vidro do hospital, o ar condicionado pareceu gelar ainda mais a raiva fervente que queimava por dentro. Na recepção, um vulto familiar se levantou imediatamente. Laura Martins.Ela estava vestida com elegância discreta, mas os olhos entregavam suas verdadeiras intenções. O sorriso ensaiado, talvez pretendido como conciliador, só fez crescer o nojo dentro dele. Alberto não sorriu de volta. Não piscou. Apenas passou reto, os o
AlbertoO hospital da Clínica Portuguesa era um templo de mármore, vidro temperado e silêncio absoluto. As paredes reluziam em tons suaves de creme e pérola, o chão polido refletia as luzes embutidas no teto alto, e o aroma sutil de lavanda medicinal se espalhava pelo ar filtrado, abafando o cheiro típico de antisséptico.Era um lugar onde a dor se disfarçava de conforto e o desespero era embrulhado em lençóis de linho egípcio.Alberto saiu do quarto com passos firmes, os dedos ainda com a leve umidade do rosto de Samanta, que havia acariciado minutos antes. Ela precisava fazer testes glicêmicos. O Dr. Pires, sempre metódico, queria garantir que nada mais estivesse em desequilíbrio além da pressão que despencou com brutalidade horas antes.Aquela mulher... sua mulher... parecia feita de cristal e aço ao mesmo tempo. E agora, carregava dentro dela uma bebezinha que o fazia respirar diferente.A sala de espera da ala privativa era ampla, adornada com obras de arte abstratas, sofás de cou
Joaquim BastosJoaquim se sentou na velha poltrona de couro, que já conhecia o formato de suas costas. A xícara de café esfumaçava em suas mãos calejadas, aquecendo seus dedos firmes, acostumados com a enxada e o cabo da pá. A brisa suave do interior invadia a casa pelas janelas abertas, misturando o cheiro das roseiras com o aroma de frango assado, batatas douradas e feijão com toucinho que fervia na panela de ferro sobre o fogão. Era sexta-feira. Samanta havia ligado dois dias antes, avisando que viria para o fim de semana. Mas não viria sozinha.Ela disse o nome com entusiasmo, como se estivesse falando de uma estrela de cinema ou de um milagre divino. Alberto Darius.Joaquim franziu a testa ao lembrar da conversa. Tinha reconhecido o nome. O tal ricaço da cidade grande. Empresário, herdeiro, e, se os jornais estivessem certos, metido em negócios mais complicados que política de sindicato. Mas o que mais doía não era o sobrenome, era a certeza de que sua filha estava envolvida, d
SamO céu já escurecia quando Samanta e Alberto chegaram ao apartamento dele. A brisa leve da noite trazia um ar tranquilo, em contraste com os pensamentos densos que borbulhavam na mente dela. Assim que entraram, a familiaridade daquele lugar a envolveu. Não era sua casa, mas de certa forma, sempre pareceu ser devido a presença de Beto. Porque tudo que envolvia Alberto tinha um pedaço dela.Ele tirou o blazer com um gesto automático e afrouxou a gravata, enquanto ela caminhava até o closet com um sorriso brincando nos lábios.— Eu ainda acho um absurdo você ter mais roupas do que eu — ela comentou, puxando a porta do armário embutido. — Olha só pra isso! Você tem oito ternos italianos que nem usou ainda.— Precaução. Nunca se sabe quando vão querer me enterrar em reuniões consecutivas, ou viagens de negócios com eventos desgastantes. — respondeu ele, aproximando-se por trás, tocando sua cintura com uma naturalidade protetora.Eles começaram a reunir algumas roupas para levar para a
AlbertoO sol escorria pelas nuvens como fios de ouro naquela manhã calma, e o céu limpo pintava São Paulo com uma cor quase irreal. Alberto dirigia com uma mão no volante e a outra repousando suavemente sobre a coxa de Samanta. O caminho era tranquilo, mas dentro dele, os pensamentos fervilhavam como caldeirão em ebulição.Ela sorria. A cada esquina, apontava algo, fazia uma observação espirituosa, ou simplesmente ria de um pensamento qualquer que surgia. Sam era assim. Capaz de clarear até mesmo os recantos mais sombrios da mente dele. E por isso, ele a amava de um jeito que doía.— A primeira casa é no Jardim Europa — disse ele, reduzindo a velocidade ao entrar na alameda arborizada. — Fica próxima ao Parque do Povo. Você vai amar o jardim.Samanta segurou a respiração quando o portão de ferro se abriu e revelou a fachada branca e clássica da casa. As janelas amplas pareciam sorrir para ela. O jardim era dividido em dois níveis, com hortênsias e azaleias florescendo em abundância.
LauraEla desceu a escadaria do luxuoso salão de beleza com a elegância de quem flutua sobre o chão. Cada espelho do hall refletia sua imagem cuidadosamente esculpida. O cabelo castanho claro milimetricamente escovado, o corte chanel delineando o rosto sem rugas, maquiado com a perfeição que somente os produtos franceses mais caros podiam oferecer. O vestido nude de alfaiataria realçava sua figura esguia sofisticada, como uma moldura de seda sobre porcelana.Seus olhos, no entanto, diziam outra coisa. Por trás do brilho das íris claras, uma astúcia fria se agitava. Laura estava em modo de ataque. Porque se Alberto Darius pensava que poderia afasta-la de sua “filhinha”, ele estava muito enganado.Do lado de fora, o motorista abriu a porta do Audi preto blindado. Ela entrou sem uma palavra, apenas um meneio de cabeça. Seu próximo destino exigia um humor específico. Um humor que ela dominava muito bem e que aprendeu com a melhor, manipulação refinada.Chegando ao edifício executivo do Gr
Ele não respondeu, mas não precisou. O silêncio disse mais que qualquer palavra. Guilherme nem mesmo se irritou pela invasão de privacidade as suas redes sociais.Laura se levantou, caminhou devagar até a janela, cruzando os braços com teatralidade calculada.— Eu não quero que ela sofra. Não quero que esse homem destrua o minha amiga, ela precisa se libertar das garras daquele canalha. Samanta precisa de alguém que se importe de verdade com ela. Alguém que lute por ela.— E você quer que eu lute por ela? – Guilherme a observou atentamente. – Por que?— Por que eu quero salva-la. Quero que você a resgate. Que a lembre de quem ela era antes desse relacionamento tóxico. Ela precisa de um porto seguro. E esse homem... não é Alberto Darius. Ele esconde coisas e a controla com mentiras.— Por que você se importa? — a voz dele soou séria, firme.Laura se virou com um sorriso triste.— Porque eu... devo muito a ela, Sam é minha amiga, e ela se doou muito por mim. Tudo o que eu quero é retrib
Samanta Samanta Bastos é uma jovem publicitária de vinte e oito anos romântica e sonhadora, que desde criança sonhava com um casamento de princesa, uma família grande cercada de carinho; almoços de domingo recheados de risadas e feriados barulhentos e alegres. No entanto, o silêncio que a recebia nesse momento ao entrar em casa, era a sua triste realidade. Sam depositou as chaves do carro no aparador da sala e rumou para a cozinha em busca de uma garrafa de vinho. No caminho suas roupas sujas de terra ficaram largadas no chão. O barulho da rolha saindo do gargalo da garrafa se propagou pela cozinha silenciosa. Ela levou a garrafa a boca e se sentou no chão somente de calcinha e sutiã. Seus pensamentos bagunçados se alinharam em uma única pergunta. Como foi que chegou a esse ponto? A lembrança ainda queimava dentro dela, tão vívida e cruel como se estivesse acontecendo novamente. Flashback on Com o rosto banhado de lágrimas, Samanta viu Alberto Darius, o homem que durant