Laura Martins
Laura observava seu reflexo no espelho da penteadeira Luiz XV, sob a luz suave das arandelas douradas que delineavam sua silhueta com precisão.
Os dedos longos e cuidados deslizavam com familiaridade pelos frascos de cosméticos franceses, escolhendo com exatidão os cremes e séruns que aplicaria em sua pele já perfeitamente preservada pelos tratamentos mais modernos. O rosto que encarava do outro lado do vidro era uma escultura de disciplina e vaidade.
Traços finos, angulosos, sem rugas visíveis; o pescoço firme, o colo liso. A camisola de seda cor marfim moldava seu corpo esguio, e Laura sorriu para si mesma com aquele ar que mesclava orgulho e poder silencioso.
Era uma mulher impecável. Sempre foi. Desde jovem, sabia onde queria chegar. E agora, tão perto de assumir o império da família Martins, bastava apenas resolver um detalhe maldito. Samanta.
Pensar na filha bastarda ainda lhe causava uma leve pontada no estômago. Não de culpa, Laura não era mulher de se consumir