Maya e o guarda designado para acompanhá-la caminharam em silêncio, cada um perdido em seus próprios pensamentos. O guarda continuava lançando olhares para Maya de tempos em tempos.
“Erm, Maya?” ele chamou, hesitante.
Maya virou-se para olhá-lo, levantando uma sobrancelha.
“Desculpe por como sempre te tratei neste bando,” ele disse, com os olhos perturbados.
“Não, está tudo bem. Não guardo rancor, quero dizer, você não é o único, é algo geral,” ela deu de ombros.
“Eu sei, Maya. Sinto muito por tudo que aconteceu, inclusive pelos acontecimentos de ontem. Rezo para que a Deusa da Lua te conceda outro companheiro,” ele acrescentou, a voz carregada de algo que Maya não conseguiu decifrar.
A menção à sua rejeição feriu seu coração. Ela segurou o peito, agarrando a mão do guarda para se equilibrar, enquanto Lana choramingava em sua mente.
“Maya, você está bem?” ele perguntou, a preocupação estampada no rosto.
“Estou bem; pode voltar agora. Eu consigo encontrar o caminho de casa sozinha,” Maya respondeu.
“Disse algo errado?” ele perguntou, confuso.
“Apenas vá,” ela insistiu.
“Tudo bem, eu sou Theodore, a propósito,” ele disse, lançando-lhe um olhar longo antes de se afastar.
Maya ficou parada por alguns segundos, ofegante, antes de seguir seu caminho.
Enquanto isso, Theodore não foi embora; ele a seguiu silenciosamente, mantendo uma distância segura, ocultando-se nas sombras, os olhos atentos aos arredores para garantir que ninguém se aproximasse de Maya.
Maya chegou a um caminho estreito e um arrepio percorreu sua espinha. Ela acelerou o passo. Cada farfalhar de folhas fazia Maya estremecer. Imaginava olhos brilhando na imobilidade, o estalar de galhos sob os pés sinalizando perigo.
“Buh,” alguém disse, fazendo-a saltar de susto, um leve suspiro escapando de seus lábios quando ela viu quem era.
“Há quanto tempo, Maya.” A voz de Philip pingava familiaridade, e o sangue de Maya gelou. Os sons da floresta desapareceram quando uma onda de náusea a envolveu, o chão parecendo inclinar-se sob seus pés.
“Fique longe de mim, Philip,” Maya conseguiu dizer, a voz quase num sussurro, cada palavra presa na garganta como um soluço.
“Por que eu faria isso?” Philip riu, aproximando-se. “Faz tanto tempo e você não está feliz em me ver?” Ele colocou a mão no peito, o sorriso sem jamais alcançar os olhos.
“Isso dói,” ele disse, rindo sombriamente.
Maya não esperou ouvir o resto; retomou a caminhada.
“Como ousa me ignorar?” ele rosnou, as sobrancelhas se unindo.
Maya começou a correr; seus pulmões queimavam e ele a perseguiu com fúria. Cada vez que olhava para trás, via-o se aproximando, fazendo seu fôlego falhar. Quando Philip estava prestes a alcançá-la, uma figura se lançou contra ele, e ambos rolaram pelo chão.
O punho de Theodore atingiu o maxilar de Philip, fazendo-o cuspir sangue. Maya abriu lentamente os olhos e viu Philip revidar o golpe com a mesma força, mas Theodore segurou sua mão. Seus olhares se cruzaram e Philip engasgou ao reconhecer o rosto do guarda do palácio.
“V-você?” Philip gaguejou, chocado com a aparição repentina.
Theodore apertou sua mão até o punho estalar.
“Arghhh!” o grito de Philip ecoou no ar quando Theodore o soltou.
“Esta é sua última advertência,” Theodore disse friamente.
Philip cambaleou para trás e fugiu para as sombras.
Theodore virou-se para Maya, a expressão suavizando. “Você está bem, Maya?” perguntou gentilmente.
Mas de longe, a voz de Philip ecoou novamente, gotejando veneno em cada palavra. “Isto não acabou, Maya. Se eu te pegar, você vai se arrepender, eu prometo.”
“Estou bem, obrigada,” Maya respondeu, ainda trêmula.
“Pensei que tivesse ido embora,” Maya disse.
“Não fui. Estava te seguindo para garantir que chegasse em casa em segurança,” ele respondeu, o olhar suavizando.
“Certo… obrigada mais uma vez,” Maya disse, tomando a dianteira, e Theodore a seguiu de perto.
“Theodore…” sua voz caiu para um sussurro, hesitante. “Quem foi o homem que me salvou ontem?”
Theodore congelou no meio do passo, o maxilar relaxado. “O quê?” murmurou, como se ela tivesse feito a pergunta mais absurda do mundo. Inclinou-se mais perto, abaixando a voz. “É o Alpha Kane, o Alpha da Matilha ShadowFang.” Ele soltou as palavras de uma vez, os olhos arregalados, incrédulo por ela não saber.
Os olhos de Maya se arregalaram, o coração batendo forte. “O Alpha Supremo?” ela perguntou, e Theodore assentiu.
“Agora entendo,” ela murmurou, sem conseguir esconder o encanto na voz. Seus lábios se curvaram levemente, quase contra sua vontade. “Ele tem uma presença tão… imponente.”
“Sim, tem,” Theodore concordou, um leve sorriso surgindo em seus lábios.
Enquanto caminhavam, a conversa fluía facilmente, e eles falaram sobre assuntos aleatórios. Maya ria livremente das pequenas piadas dele, e o coração de Theodore se enchia de alegria ao perceber que ela começava a se sentir à vontade ao seu lado.
Mas ao se aproximarem da casa de Maya, o ritmo cardíaco dela acelerou. A mansão erguia-se majestosamente, e o portão prateado brilhava sob a luz do sol. A casa estava estranhamente silenciosa, deixando Maya inquieta.
“Chegamos,” Theodore disse ao pararem no portão.
“Sim,” Maya respondeu, um pequeno sorriso nos lábios. “Obrigada por tudo.”
“Não foi nada, Maya; cuide-se,” Theodore disse acenando, antes de se virar e ir embora.
Maya ficou acenando até que ele sumiu de vista; depois suspirou profundamente e empurrou o portão, que se abriu com um rangido.
Assim que deu o primeiro passo para dentro, parou. Zara estava ali, mãos nos quadris e um olhar furioso no rosto.
Maya continuou andando, preferindo ignorá-la, mas Zara a puxou de volta.
“Vejo que já arranjou um companheiro,” Zara disse com um sorriso debochado.
“Pense o que quiser,” Maya respondeu, empurrando-a para o lado e continuando a andar. Maya havia dado apenas dois passos quando Zara a puxou novamente, e Maya se virou, agarrando o pescoço dela. Zara jurava ter visto os olhos de Maya brilharem em dourado.
“Não vou ficar parada vendo você me insultar de novo,” Maya disse, o veneno escorrendo em sua voz.
Zara deitou-se na cama, vários pensamentos passando por sua cabeça.
Foram mesmo os olhos de Maya que brilharam em dourado? Estava alucinando? A dúvida persistia, e uma dor de cabeça começou a latejar. “Deve ter sido imaginação,” murmurou.
Levantou-se, tirou a roupa e caminhou lentamente até o banheiro. Ficou sob o chuveiro por uma eternidade, como se a água pudesse lavar o incômodo que a corroía por dentro.
Um pensamento cruzou sua mente, e um sorriso maligno se formou em seus lábios. Saiu do chuveiro, secou o corpo com a toalha e passou loção por todo o corpo. O sorriso travesso ainda estava ali.
Vestiu um short simples e uma regata combinando. Estava prestes a se deitar quando ouviu o som do portão — seu pai tinha chegado. Rapidamente pegou uma banana da mesa, deu três mordidas rápidas e colocou a casca do lado de fora da porta.
Deliberadamente pisou na casca e escorregou, caindo com o bumbum no chão.
“Paaaai!” gritou em tom agudo.
O som de passos apressados ecoou em sua direção.
“O que houve, Zara? Por que está no chão?” Beta Atheus perguntou, com o cenho franzido.
“Pai, foi a Maya quem colocou uma casca de banana para eu escorregar e cair,” ela disse, fingindo chorar.
“Maya!!” Beta Atheus rugiu.
“Sim, pai,” Maya, que estava na cozinha, respondeu, limpando as mãos no pano.
“Por que colocou uma casca de banana para sua irmã escorregar? Quer machucá-la?” ele perguntou, a voz carregada de raiva.
“Eu? Casca de banana?” Maya perguntou, a confusão estampada no rosto.
“Se me questionar de novo, eu acabo com você,” Beta Atheus rosnou. “Incompetente,” acrescentou.
“Mas… sou alérgica a bananas,” Maya gaguejou, contendo as lágrimas, mas seu pai já havia saído.
Zara se levantou com um sorriso perverso.
“Isto é só o começo, Maya. Espere até eu me tornar a Luna. Vou transformar sua vida em um inferno,” ela disse, fazendo Maya engolir seco antes de se virar e entrar no quarto como se nada tivesse acontecido.