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Capítulo Quatro: Tenha cuidado perto dele

“Não, Alfa, eu não ousaria”, respondeu Zane, ajustando-se na cadeira.

“Ótimo. Esta reunião acabou, preciso descansar”, disse Kane, sem deixar espaço para discussão.

“Guardas!”, gritou Zane em voz alta, e eles entraram às pressas.

“Levem o Alfa e seu assistente para a hospedaria de convidados”, ordenou, e eles assentiram.

O Alfa Kane se levantou. Ao ouvir o movimento, Gavin — que ainda mastigava seu pedaço de carne assada — levantou-se também, não sem antes pegar mais dois pedaços de carne. Juntos, seguiram os guardas.

Quando teve certeza de que estavam fora do alcance da voz, o Alfa Zane pegou um copo da mesa e o arremessou contra a parede. Ele se despedaçou com um estalo alto. Zane ergueu a mão para se proteger dos estilhaços, o peito subindo e descendo de raiva. Uma criada próxima estremeceu.

“Ei, você aí. Limpe essa bagunça”, ordenou, saindo da sala de jantar.

Enquanto isso, na cabana da curandeira, o cheiro quente das ervas fervendo pairava pelo pequeno cômodo. Maya estava deitada em uma cama estreita, o olhar fixo no teto, enquanto a curandeira se movia, misturando pós e mexendo tigelas fumegantes.

“Não acredito que quase morremos, Maya”, sussurrou sua loba em sua mente.

“A culpa é sua, Lana. Você deixou nossa dor nos consumir a ponto de nem percebermos que tínhamos cruzado o território de outra alcateia”, retrucou Maya.

“Desculpe… eu estava de coração partido”, lamentou Lana.

“Está tudo bem. Eu não estou com raiva.”

“Maya, você ainda não tomou o remédio”, disse a voz da curandeira, interrompendo seus pensamentos.

“É amargo”, reclamou Maya, franzindo o nariz.

“Meu Deus, Maya, você está agindo como uma criança agora”, disse a curandeira com um leve sorriso.

“Quer que eu te conte uma história?”

O rosto de Maya se iluminou de interesse e ela assentiu.

“Era uma vez, na terra dos lobisomens…”

Maya ouviu com entusiasmo enquanto a voz da curandeira se perdia na noite.

A caminhada até a hospedaria foi curta e silenciosa, o ar pesado com o cheiro de terra úmida. Três quartos foram arrumados: Gavin dividiu um com Jack, Andrew e John ficaram no segundo, e o Alfa Kane ficou com o último.

Lá dentro, Kane tirou o casaco e foi para o banho. A água estava quente, mas não conseguia lavar a imagem que permanecia presa em sua mente. Quando saiu, vestindo apenas uma cueca e uma regata, sua expressão era indecifrável.

Deitou-se na cama, encarando o teto, mas o sono não veio. Virou-se de um lado para o outro, inquieto.

Por que o pensamento daquela garota frágil continua me atormentando? perguntou-se, sentindo a dúvida cutucar sua mente como um espinho.

Vários pensamentos se atropelaram até que, finalmente, o sono o dominou.

O sol entrou pela janela como um irmão brincalhão, lançando um brilho quente pelo quarto. A luz tocou o rosto de Kane, despertando-o. Ele se espreguiçou, levantou-se e, depois de se arrumar, saiu. Gavin e os outros já o esperavam.

“Bom dia, Alfa”, saudaram em uníssono.

Ele apenas assentiu, o olhar voltado aos guardas do dia anterior. “Para a casa da curandeira”, ordenou.

“Gavin, você entregou a mensagem à Alcateia Rivermoon?”

“Sim, Alfa. Ele disse que está te esperando.”

Kane não respondeu.

Enquanto se aproximavam da casa da curandeira, Gavin prendeu a respiração. Sabia o que aconteceria se ela não tivesse conseguido tratar a garota do dia anterior.

O cheiro de ervas misturadas pairava no ar quando entraram.

“Bem-vindos”, saudou a curandeira com alegria. Ao ver o sorriso no rosto dela, Gavin relaxou um pouco.

“Onde ela está?”, perguntou Kane com a voz rouca e firme.

“Ela ainda está dormindo, Alfa. As ervas que preparei contêm agentes para ajudá-la a se recuperar”, explicou. “Mas venha comigo, Alfa, há algo que quero te mostrar.”

“Espero que valha o meu tempo”, rosnou Kane.

A curandeira seguiu à frente, com Kane logo atrás. Os outros entraram depois dele.

Dentro da cabana, Maya estava deitada. A curandeira estava aliviada — se Maya estivesse acordada, jamais permitiria aquilo.

Ela ergueu a blusa da garota.

“O que está fazendo?”, exigiu o Alfa, a reprovação pesada na voz.

“Estou tentando te mostrar algo, senhor”, respondeu ela com firmeza. Levantou a blusa, e o ar na sala congelou.

A tensão era palpável. Os olhos de Gavin se arregalaram, refletindo o espanto de Andrew, Jack e John. A mandíbula de Kane se contraiu com força.

Ele tentou conter a fúria ao observar as cicatrizes. Cada marca fora feita por algo cortante. Quem poderia ser tão cruel?

A raiva pulsava dentro de Tharius, seu lobo.

“Como ousaram?”, rosnou Tharius ao fundo da mente de Kane.

“Ela te contou quem fez isso?”, perguntou o Alfa em um tom baixo e ameaçador.

A curandeira balançou a cabeça. “Não, Alfa. Ela foi… firme.”

O olhar de Kane escureceu. “Acorde-a. Ela já dormiu o bastante.”

A curandeira assentiu, pegou um pequeno maço de folhas de hortelã fresca, esmagou entre os dedos e aproximou o cheiro forte do nariz de Maya.

Ela se mexeu, tossindo levemente, os olhos piscando até abrirem. Confusão tomou seu olhar ao ver os rostos desconhecidos à sua volta.

“Você está segura”, disse a curandeira, ajudando-a a se recostar.

Kane ficou em silêncio aos pés da cama, observando cada expressão dela.

O olhar de Maya encontrou o dele. Ah… o homem bonito de ontem. Por um momento, ela quase acreditou que ele fosse irmão da Deusa da Lua. Que bobagem… a Deusa da Lua nem tem irmãos.

“Bom dia, senhores”, disse ela com um pequeno sorriso. “Obrigada por me salvarem ontem. Eu devo minha vida a vocês.”

“Como está se sentindo agora?”, perguntou Kane, o olhar inesperadamente suave.

“Estou bem, senhor. Só preciso ir para casa, minha mãe deve estar preocupada.”

“Seu ferimento já cicatrizou?”

“Sim. Já consigo andar, embora minha habilidade de cura tenha enfraquecido desde que fui forçada a consumir beladona.”

O olhar de Kane se endureceu. “O quê?”

“Belo… o quê?”, perguntou Gavin, franzindo a testa, achando que tinha ouvido errado.

“Quem te deu esse veneno mortal, Maya?”, perguntou a curandeira em tom baixo e cuidadoso.

Os olhos dela se arregalaram, o medo tremendo neles como uma chama presa. “Eu… eu não posso dizer”, sussurrou, a voz trêmula, como se as palavras fossem perigosas demais.

“Tudo bem. Leve-a para casa”, disse Kane, fazendo um gesto para um dos guardas. “Voltarei para vê-la.”

“Quer vir comigo, Maya?”, perguntou ele.

“S-sim, Alfa”, respondeu com os olhos marejados. Quem não aceitaria uma rota de fuga desse inferno? murmurou, andando atrás do guarda. Ela olhou para trás várias vezes até desaparecerem de vista.

Kane entregou um pequeno saco de ouro à curandeira, e o rosto dela se iluminou.

Com isso, eles se viraram e partiram. À medida que caminhavam, o ar ao redor de Kane parecia pesar. O calor que emanava dele era intenso, sua raiva tão forte que todos podiam senti-la na pele. Ninguém ousou falar.

Na fronteira, Kane tirou um pergaminho do manto e o entregou a um dos guardas. “Entregue isto a Zane”, ordenou.

O guarda recebeu com uma reverência respeitosa. Kane se virou para sair.

“Com licença, senhor”, o guarda chamou de repente.

Kane parou, a voz afiada. “Fale.”

“Ahm… senhor”, disse o guarda, baixando o tom e olhando ao redor, “apenas tenha cuidado com o Alfa Zane. Ele não é quem aparenta ser.”

Kane soltou uma risada sem humor. “Volte ao seu posto.”

Ele se afastou. Gavin lhe deu um olhar firme de apoio antes de segui-lo, enquanto os outros três trocaram um aperto de mão silencioso e desapareceram nas sombras.

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