Após a saída de Clara, Maurício permaneceu imóvel, como se o corpo tivesse se transformado em pedra. O travesseiro parecia afundar sob o peso de pensamentos pesados demais. Não tinha ânimo nem para se virar de lado. O prato do almoço e depois o do jantar repousaram intactos na mesa de apoio até serem levados. Recusou o atendimento do psicólogo, a ajuda para o banho, qualquer tentativa de aproximação. Até a respiração lhe parecia esforço desnecessário.
Era como se a realidade tivesse batido forte demais, esmagando sua vontade de existir. Fingir-se de morto parecia mais fácil do que encarar o que havia perdido.
A noite se arrastou em silêncio. O quarto respirava junto com as máquinas, o bip ritmado da monitorização, o arrastar distante de sapatos pelo corredor. Maurício, desperto, tinha a mente em turbilhão: flashes da explosão, da dor. Mas, logo depois, vinha o nada. Um vazio de ideias, como um buraco negro sugando até o pensamento. Medo, ansiedade, dor de cabeça, tudo se mistura