A SENTENÇA DA CURANDEIRA

CAPÍTULO 4: A SENTENÇA DA CURANDEIRA

Arrastando-se para longe dali, Livia foi até a cabana da Velha Elara, a curandeira, que vivia à margem da aldeia. Elara era a única que não a olhava com pena ou desdém.

A velha mulher a ajudou a entrar. O cheiro de ervas secas era reconfortante.

"Menina Lua," Elara sussurrou, suas mãos enrugadas tocando o rosto pálido de Livia. "A escuridão te consome."

"O que está acontecendo comigo, Elara?" Livia perguntou, sua voz um fio.

Elara fechou os olhos, colocando uma mão sobre o coração de Livia. Suas pupilas se moveram sob as pálpebras fechadas. Quando abriu os olhos, estavam cheios de uma tristeza profunda.

"O vínculo de alma... é uma dádiva rara. Mas é uma corda de duas pontas. Alimenta-se de reconhecimento, de reciprocidade, de amor. O seu Alfa..." ela fez uma pausa, escolhendo as palavras, "... ele não apenas para de alimentá-lo. Ele o envenena com seu desprezo. Sua loba está morrendo de fome e de veneno, criança."

Livia engoliu em seco. "E se... se ele nunca se reconectar?"

Elara a fitou, seu olhar era a própria verdade. "Então, a corda vai se romper. E quando ela se romper... ela vai arrancar metade da sua alma com ela. Você não sobreviverá à ruptura."

Era a confirmação do seu pior pesadelo. Ela tinha um prazo. E esse prazo estava se esgotando.

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O ÚLTIMO FIO DE ESPERANÇA

A família dela a evitou no jantar. Sua mãe comentou sobre como Julia havia acalmado os ânimos após o "incidente" de Livia no festival. Seu pai concordou, dizendo que Julia era a âncora da família.

Livia olhou para eles, para as pessoas que deveriam amá-la incondicionalmente, e não viu nenhum traço de preocupação genuína. Ela era um fantasma na própria casa.

Naquela noite, deitada na cama, a friagem da morte já se aninhava em seus ossos. Ela pensou na profecia de Elara. Morrer ali, naquela cama, desprezada e mal compreendida? Deixar que Julia e Matheus fossem felizes com a alcateia que era metade sua?

Não.

Um último, feroz instinto de sobrevivência acendeu-se dentro dela. Se ela ia morrer, não seria ali. Ela não daria a eles o prazer de ver seu último suspiro.

Ela se levantou, suas pernas tremendo. Enfiou algumas coisas em uma bolsa: um casaco, um punhado de ervas de Elara, um velho pingente que sua avó lhe dera. Ela não sabia para onde ia. Só sabia que tinha que ir embora. Talvez, longe do território, a dor diminuísse. Talvez, no vasto mundo, houvesse uma maneira de morrer em paz, em vez de morrer em agonia.

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A FLORESTA E A QUEDA

A floresta à noite era um mundo diferente. Sem a proteção da alcateia, cada som era uma ameaça, cada farfalhar de folhas um perigo. Mas o medo do desconhecido era menor do que o medo do conhecido: a casa que não era um lar, o homem que era sua sentença de morte.

Livia correu. Não como uma loba, pois sua loba estava fraca demais para se manifestar, mas como uma mulher, tropeçando em raízes, com galhos arranhando seu rosto. A dor no peito era uma lança, torcendo-se a cada passo. Ela sentia o vínculo, fino como um fio de cabelo, esticando-se, puxando-a para trás, para Matheus.

Ela lutou contra ele. Com cada grama de força que lhe restava, ela empurrou, mentalmente, emocionalmente, para longe dele. Cada passo para frente era um ato de renúncia.

"Liberdade," ela sussurrou para as árvores escuras. "Apenas um pouco de paz."

Mas o corpo dela não aguentou. O coração, sobrecarregado de dor física e emocional, falhou. A lança no peito explodiu em uma onda de agonia cegante. O fio de prata esticou até seu limite e, com um estalo silencioso que ecoou apenas em seu espírito, ele não se rompeu, mas quase se desfez.

Seus joelhos cederam. O chão da floresta, frio e úmido, subiu para encontrá-la. O mundo girou e escureceu. A última coisa que ela percebeu, antes da escuridão total, não foi o cheiro de pinheiros, mas o cheiro distante e reconfortante de fumaça de lareira e de terra limpa, um cheiro que não pertencia à sua alcateia. E então, nada.

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