O PESADELO DA LUA

CAPÍTULO 3: O PESADELO DA LUA

A dor física já era uma companheira constante, uma friagem nos ossos que nenhum cobertor aquecia. Mas foi num sono agitado que Livia viu a verdadeira extensão da ruína.

Ela sonhou com sua loba. Não a fera orgulhosa de outrora, mas uma criatura esquelética, de peles opacas e olhos sem brilho. Estava deitada à beira de um lago prateado, que deveria ser a fonte do vínculo, mas as águas estavam paradas, turvas e cobertas de uma crosta escura. A loba ofegava, suas costelas visíveis subindo e descendo com esforço. Cada respiração era um suspiro de agonia.

Do outro lado do lago, a forma poderosa do lobo de Matheus, prateado e imponente, estava de costas, ignorando completamente o sofrimento à sua frente. Um fio de luz prateada, que outrora os unia, estava agora fino e quebradiço, escurecendo a cada momento.

A loba de Livia levantou a cabeça e uivou. Não era um uivo de desafio, mas de despedida.

O som ecoou na alma de Livia, tão real que ela acordou aos gritos, o rosto molhado de lágrimas. O quarto estava vazio. Ninguém veio ver se ela estava bem.

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A ARMADILHA DOURADA

O festival da Colheita da Lua era o evento mais importante do outono. Todos estavam animados. Julia aproximou-se de Livia com um vestido lindo nas mãos, um presente, disse ela.

"Para você, irmã. Para o festival. Quero que você brilhe."

O vestido era de um azul profundo, a cor dos céus noturnos. Livia, comovida pela aparente gentileza, aceitou. O que ela não viu foi o fino fio de uma planta venenosa, esfregado no forro interno do vestido, uma planta que causava uma irritação leve, mas visível, na pele sensível de um lobisomem.

Na noite do festival, enquanto dançava, Livia começou a sentir uma coceira insuportável. Suas mãos, seu pescoço, seu rosto começaram a ficar vermelhos e inchados. As pessoas sussurravam, apontando.

"O que há com ela?" alguém perguntou.

"Está tendo uma reação alérgica... talvez ao estresse," Julia sugeriu com falso pesar a Matheus. "Ela sempre fica assim quando é o centro das atenções. É triste."

Matheus olhou para Livia, sua expressão um misto de nojo e irritação.

"Você consegue estragar tudo, Livia? Não pode controlar nem isso?" ele rosnou, baixo o suficiente para só ela ouvir, antes de se virar e oferecer o braço a Julia, impecável em seu vestido dourado.

Livia fugiu da festa, arrancando o vestido amaldiçoado, sua pele queimando de vergonha e de veneno.

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O GRITO DA LUA

A gota d'água veio no dia seguinte. Livia, desesperada, foi até os aposentos de Matheus. Ela encontraria as palavras certas. Ela faria ele entender.

Ele estava no escritório, examinando mapas. Julia estava lá, como sempre.

"Matheus, precisamos falar. Sozinhos," Livia implorou.

Julia fez menção de sair, mas Matheus a deteve com um gesto. "Fique. Julia é parte deste conselho. Diga o que tem a dizer, Livia."

Ela respirou fundo, a dor no peito uma serra. "O vínculo... está nos matando. Está me matando. Eu o vejo definhar nos meus sonhos. Cada vez que você me rejeita, é como um golpe. Eu... eu não vou sobreviver a isso."

Matheus suspirou, exasperado. "Livia, nós já falamos sobre essa sua dramatização. O vínculo está fino porque você o enfraquece com sua insegurança e ciúme doentio por Julia."

"Ciúme?" a voz de Livia quebrou. "Ela está destruindo a gente, Matheus! Ela mente, sabota..."

"Chega!" ele rugiu, batendo a mão na mesa. Os olhos dele brilharam com raiva amarela. "Eu estou cansado dos seus ataques mesquinhos contra sua irmã. Ela é tudo que você deveria ser: forte, gentil e leal. Você é a decepção do vínculo, Livia. Você é a falha!"

As palavras foram o golpe final. Livia sentiu algo dentro dela se romper. Um estalo audível, seguido por uma dor tão excruciante que ela caiu de joelhos, um grito silencioso preso em sua garganta. Ela olhou para Matheus, seus olhos cheios de lágrimas de agonia e descrença.

Ele a olhou de cima, sem uma centelha de compaixão. "Veja só. Dramática até o fim."

Julia escondia um sorriso de vitória atrás da mão.

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