A CICATRIZ DE ARTHUR

CAPÍTULO 6: A CICATRIZ DE ARTHUR

A confiança crescia como uma planta tímida. Livia começou a caminhar pela clareira, sempre acompanhada pela presença discreta de Arthur ou de um de seus betas, uma mulher séria chamada Anya. Foi Anya quem, num dia de sol, quebrou o gelo.

"Ele te encontrou por causa do lobo dele," ela disse, apontando para Arthur, que conversava com um grupo de caçadores do outro lado da clareira.

"O lobo?"

"O lobo de Arthur é... diferente. Ele sente coisas. Perturbações. Dor. Na noite em que você caiu, ele ficou inquieto, insistindo para ir até a fronteira. Ele te sentiu morrendo."

Aquela informação mudou algo em Livia. Arthur não a encontrou por acaso. Foi uma busca. Uma resposta a um sofrimento que ele, de alguma forma, ouviu.

Naquela noite, sentados sob as estrelas, Livia perguntou: "Por que você veio me buscar? Eu sou uma estranha. Um problema."

Arthur olhou para o céu por um longo momento. "Porque eu já fui o motivo para alguém definhar," ele disse, sua voz mais grave do que o normal. Ele ergueu a mão esquerda, puxando a manga para cima. Mesmo na penumbra, Livia viu as marcas. Não eram cicatrizes de garra ou dente. Eram marcas profundas e irregulares, como se sua própria pele tivesse sido rasgada de dentro para fora. "Um vínculo quebrado deixa marcas. Eu sobrevivi à minha. Reconheci o cheiro da sua."

Ele também carregava uma cicatriz. Ele entendia.

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O PRIMEIRO SINAL DE VIDA

Foi durante uma caminhada pela floresta que aconteceu. Livia tropeçou numa raiz oculta. Arthur, com reflexos de lobo, a segurou pelo braço antes que ela caísse.

O toque foi rápido e impessoal. Mas foi o primeiro toque masculino que ela recebia em anos que não era violento ou cheio de desprezo. Foi... sólido. Seguro.

E então, algo dentro dela estremeceu. Não foi um tremor de dolor. Foi um pulo. Um pequeno, mas inconfundível, sinal de vida. Sua loba, no recesso do seu espírito, não se encolheu com medo. Ela... farejou. Um pequeno, curioso movimento.

Livia soltou um suspiro ofegante, seus olhos se encontrando com os de Arthur. Ele ainda a segurava pelo braço, e seus olhos âmbar se estreitaram, como se ele também tivesse sentido algo. Uma energia, um fio de prata novo e frágil, passando entre eles por uma fração de segundo.

Ele soltou seu braço gentilmente.

"Tudo bem?" ele perguntou, sua voz um pouco mais suave.

Livia apenas assentiu, sem conseguir falar. O coração batia forte em seu peito, mas não era por medo ou dor. Era algo diferente. Algo que ela pensara ter esquecido para sempre: esperança.

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O FANTASMA DO PASSADO

A paz foi quebrada pelo som de uma trombeta distante. Um som que Livia conhecia muito bem. O chamado de reunir da Alcateia Lua Prateada. E não vinha da direção deles. Vinha do lado de fora, da fronteira.

Os membros da Montanha Sussurrante ficaram em alerta. Arthur se ergueu, sua postura mudando instantaneamente de tranquila para predatória. Seus olhos se fixaram em Livia.

"Eles estão no meu território," ele disse, sua voz não era uma pergunta.

Livia sentiu um frio percorrer sua espinha. O vínculo antigo, morno e dormente, pulsou com uma dor fraca e familiar. Era Matheus. Ele estava lá. A fuga dela havia terminado.

"Eles vieram me buscar," ela sussurrou, o velho sabor do desespero voltando à sua boca.

Arthur olhou para ela, e pela primeira vez, ela viu uma chama de fúria absoluta em seus olhos calmos. "Ninguém entra no meu território e exige nada. Muito menos a pessoa sob a minha proteção."

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