À noite, o rio parecia uma ferida aberta no vale.
Sem água, sem brilho, sem correnteza — só um corte escuro atravessando a paisagem.
O Norte inteiro sentia falta do som do rio.
Sem ele, a madrugada ficou oca.
Cada passo, cada respiração tinha eco demais.
Helena não conseguia dormir.
Andava pela casa como quem vigia o próprio peito, cada sombra parecendo um aviso.
Foi na terceira volta pelo corredor que ela sentiu.
Um som.
Baixo.
Vindo debaixo da terra.
Ela parou.
O som repetiu.
Não era água voltando.
Não era vento.
Não era animal.
Era… um sussurro.
Profundo, como se viesse de dentro da pedra.
Helena correu até o quarto de Lyria.
A menina estava sentada na cama, acordada, a concha apertada entre os dedos.
— Mãe… — murmurou. — O rio está falando.
— Sem água?
— É isso que assusta.
Kael entrou pela porta segundos depois, já vestido, alerta.
Lyria olhou para ele, os olhos dourados vibrando.
— Pai… tu vais entender primeiro.
Kael aproximou-se.
O som veio de novo.
Rrrrr…krrrr…rrr…
Não