O rio levou o baú, mas deixou a dúvida.
Quando a água fechou por cima da madeira escura, Helena sentiu o ar mudar de peso — como se o vale tivesse prendido a respiração por tempo demais e só agora ousasse soltar metade dela.
Kael permaneceu parado à beira da ponte, olhos fixos no ponto onde o baú havia desaparecido.
A cicatriz em sua garganta ainda reluzia com o brilho residual da voz antiga que o baú soltara, mas agora… agora parecia apenas uma lembrança cansada.
Helena sabia que ele lutava contra pensamentos que valiam mais do que cem rugidos.
Ela tocou o braço dele.
— Kael.
Ele não a olhou. Não precisava.
O corpo dele falava — tenso, inclinado, preso entre a dor e o dever.
Lyria subiu no parapeito da ponte e segurou o frio com as mãos pequenas. A criança sempre parecera menor do que o mundo — até aquela noite. Agora, com o eco da voz de Lyra ainda vibrando dentro da água, ela parecia… maior.
Mais nítida.
Como se tivesse sido desenhada com traços novos.
— Mãe — ela chamou, suave. —