Kael acordou com gosto de ferro na boca.
O vento soprava do norte, pesado, carregando um som que ele já conhecia: o próprio nome, repetido em sussurros.
Quando tentou responder, a voz não saiu.
A cicatriz queimava, viva.
Cada batimento do coração pulsava como martelo contra a garganta.
Helena dormia ao lado, exausta.
Aren — ou Kaen, quem sabe — murmurava sonhos indecifráveis.
Kael levantou-se devagar e saiu da tenda.
A madrugada estava clara demais, como se o céu tivesse esquecido de ser escuro.
O gelo refletia o brilho da lua, e o reflexo parecia observá-lo.
Ele tentou dizer “basta”, mas o som que saiu não era palavra.
Era um rosnado.
O eco voltou mais forte.
“Fala, Alfa. Fala comigo.”
Kael levou a mão à garganta.
— Quem és?
“A voz que criaste e nunca calaste.”
— Kaen.
“Sou parte de ti também.”
Ele cambaleou.
A cicatriz se abriu em linha fina, prateada.
Do corte, não saiu sangue — saiu luz.
Erynn o encontrou ajoelhado diante da muralha de gelo.
— Kael! — gritou. — Estás