No amanhecer, Aren acordou antes da luz.
O corpo tremia.
O ar ao redor estava denso, como se cada respiração tivesse forma.
Helena o observava dormir desde a noite anterior.
O rosto do filho mudava sutilmente — um traço aqui, outro ali.
Às vezes o semblante era doce.
Outras, frio como vidro.
Mas naquela manhã, algo diferente aconteceu: ele sorriu sem acordar.
O sorriso era de Kaen.
Helena recuou.
O coração dela apertou como se alguém o espremesse por dentro.
— Aren…
Os olhos dele se abriram — não em prata, mas em vermelho escuro.
— Bom dia, mãe.
A voz era serena, mas sem calor.
— Não me chama assim.
— Mas é o que és. A raiz. A forma.
— Onde está meu filho?
— Dorme. Está cansado de carregar o mundo.
Ela o fitou, em choque.
— És o reflexo.
— Sou o descanso dele.
— Mentira. És a fome.
O sorriso não mudou.
— Fome também é vida. O Norte precisa de mim. E tu… precisas acreditar que há limite entre nós.
Helena recuou mais um passo.
— Se tocas no corpo dele, é profanação.