A tarde avançava com uma lentidão estranha, como se o tempo estivesse testando novos pesos antes de decidir como cair. A casa estava silenciosa, mas não vazia. Havia uma presença contínua ali — não algo que se impunha, mas algo que observava.
Lyria sentiu isso assim que entrou no quarto.
Não era o quarto da infância exatamente, embora tivesse herdado dele certos detalhes: a janela larga, a parede onde a luz da tarde batia de lado, o canto onde o ar parecia sempre mais frio. Mas agora o espaço tinha outra função. Não guardava memórias — organizava possibilidades.
Ela fechou a porta e sentou-se no chão, encostada na cama. Precisava desacelerar o corpo para alcançar a mente. O encontro na praça não tinha sido violento, nem ameaçador, e ainda assim deixara um rastro incômodo. Não pelo homem em si, mas pela naturalidade com que ele aceitara não ter controle.
Isso era novo.
Durante anos, as pessoas sempre tentavam nomear, enquadrar, orientar. Quando isso falhava, insistiam. Quando insistir